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Artigos-->NLM - Executivo por um dia -- 01/02/2002 - 07:25 (Marcel Agarie) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
EXECUTIVO POR UM DIA





Ponto de partida: Estação Carrão

Destino: Estação Sta. Cecília



Todos os dias, os vagões do Metrô levam consigo um enorme número de executivos, alguns até com um alto poder aquisitivo que preferem o Metrô a pegar um enorme congestionamento de carros na Marginal do Tietê ou na Radial Leste. Eu posso dizer, por experiências próprias, que realmente é mais fácil você chegar ao centro de São Paulo de Metrô do que de ir de carro pela Radial Leste.

Nesta hora não há dinheiro que pague para lhe tirar do congestionamento, a não ser que você compre um helicóptero e passe voando por cima de todo mundo, pois um Vectra ou o melhor carro importado que exista, andam na mesma velocidade que um Fusca ou um Fiat 147 (nada contra os que têm Fusca ou Fiat 147), ou seja: de 20 a 40 quilômetros por hora. Como o helicóptero ainda é um privilégio para poucos, os executivos preferem gastar a pequena quantia de R$ 1,60 (pequena quantia para executivos, mas para nós do povão, está caro demais), para chegar com mais rapidez ao centro.

Pensando na hipótese de se sentir um executivo, sabendo do alto movimento da classe pelos vagões do Metrô, eu e o portuga Flávio resolvemos virar executivo por um dia. Coisa de moleque adolescente que deseja sentir-se adulto.

Em um belo dia, combinamos de irmos trabalhar de roupas sociais, e assim bancarmos o executivo pelos vagões do Metrô. Aposentamos as roupas do colégio e os nossos bonés extravagantes pelas roupas sociais. Acho que foi a coisa mais idiota que nós fizemos, mas para nós, foi no mínimo muito divertido e engraçado.

Seguimos para o Metrô sentindo-nos empresários, grandes diretores financeiros, apesar de nosso salário de R$ 120,00. O detalhe estava embaixo do braço, onde o caderno de Economia do Jornal Estado de SP enfeitava as axilas, deixando elas economicamente informadas.

Chegamos na plataforma do Metrô tranqüilos. Desta vez não havíamos desligado nenhuma escada rolante, pois um sério executivo não faz esses tipos de molecagens. O Metrô chegou e por um milagre da ciência, conseguimos 2 lugares para sentarmos. O nosso assunto era sobre a bolsa de valores, a alta das ações e as aplicações feitas em dólar no exterior. Tudo isso dito em voz forte e alta para que os outros pudessem ouvir (como éramos panaca!). Nós falávamos e dávamos risada. Fico imaginando o que as pessoas que estavam do nosso lado ficavam imaginando:

- Coitadinhos! Devem estar com algum problema. Nem criaram barba na cara, o outro ainda cheio de espinhas da adolescência e ficam aqui dentro do Metrô, falando alto, tentando falar sobre as cotações das ações.

Confesso que aquele jornal de economia para nós era um livro escrito em grego de cabeça para baixo, porém não era isso que importava, nós não queríamos e nunca quisermos entender o que aquelas letrinhas miúdas tinham para nos dizer, apenas precisávamos realizar a vontade de sermos um executivo, nem que por um dia, imitando a rotina de um profissional deste ramo.

Completamos a viagem achando que tínhamos enganado todos os passageiros que viajavam no mesmo vagão que o nosso. Descemos na estação Sta Cecília (o Ministério Público havia mudado da Rua Aurora na República para a Rua Jaguaribe, na Sta Cecília) rindo a toa. Éramos dois executivos, com cara de adolescentes, rindo que nem duas crianças realizadas. Havíamos terminado ali o nosso objetivo. Não podíamos ter o dinheiro, o luxo ou sucesso de um executivo, mas dentro do Metrô podíamos ter tudo que um executivo podia ter, pois ali éramos todos iguais. Todos pagavam o mesmo valor pela passagem e por isso tinham os mesmos diretos – e deveres – que qualquer outro cidadão que estivesse circulando pelas áreas do Metrô, seja ele um simples estagiário de informática ou um grã-fino executivo.



(Este texto faz parte do livro "NAS LINHAS DO METRÔ - MARCEL AGARIE)
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