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Artigos-->As nossas vuvuzelas -- 11/06/2010 - 10:52 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O que são vuvuzelas? São as cornetas usadas pelos sul-africanos nos jogos da Copa Mundial de Futebol 2010. Elas emitem sons que chegam a 127 decibéis, superior aos tambores e apitos. Para os sul-africanos, elas são a maneira de eles manifestarem a alegria e o entusiasmo para com os visitantes vindos de todo o mundo e para com as estrelas do futebol mundial. (Neste endereço você pode ouvir o Hino da Vuvuzela: http://colunas.globoesporte.com/brasilmundialfc/2010/06/09/vuvuzela-portuguesa/).



As vuvuzelas só foram percebidas por conta do incômodo de alguns ouvidos acostumados apenas ao som dos rádios dos carros nos engarrafamentos e do vaivém das pessoas nos shoppings centers. Os reclamantes não querem participar da festa africana. Estão lá para ver os gols, entrevistar as beldades e transmitir as notícias. Não admitem nada que incomodem seus ouvidos limpos com algodão comprado da África. Não querem se misturar aos africanos. Se possível, os pobres africanos deveriam ficar fora da festa. O ideal seria a África sem os africanos.



Não sei como a África do Sul lida com a violência urbana, as condições das escolas e hospitais públicos, a fome e a proliferação da AIDS, mas essas mazelas, que rimam com vuvuzelas, são invisíveis aos olhos dos visitantes. Isso não os agride apesar de os africanos terem contribuído enormemente para o progresso dos países visitantes, inclusive do Brasil.



Por que reclamamos das vuvuzelas? Porque elas não são nossas, não fazem parte do nosso cotidiano. Contudo, a violência urbana é nossa; também são nossas as crianças pedindo esmolas nos semáforos e os políticos corruptos que continuam em atividade na política e nos desvios de dinheiro público; são nossos os desmatamentos das florestas e as sujeiras dos rios e lagos; são nossos os funcionários públicos que ganham 25 mil reais mensais e os trabalhadores que ganham apenas 510 reais por mês; também são nossos os idosos e gestantes que passam horas intermináveis nas filas dos hospitais. Esses problemas são as nossas vuvuzelas, mas nem as percebemos, nem nos incomodamos, porque já nos acostumamos a elas.



Em plena campanha eleitoral, quando temos quatro candidatos à Presidência da República, nenhum deles, até agora, disse sequer uma frase que mostrasse sua disposição em fazer uma revolução em nossas vuvuzelas.



A nossa maior vuvuzela, e de muitos países ricos que estão na Copa, é a dívida impagável que temos com aqueles parentes dos escravos que trouxemos para construir nosso país. No tempo da escravidão, eles fizeram barulhos ensurdecedores quando foram laçados, separados de suas famílias, amarrados e jogados nos porões dos navios negreiros. Naquela época, ninguém os ouviu. Foram caçados, amarrados e amordaçados. E hoje, como amordaçá-los?



O jeito foi chamar a FIFA, que colocou 90 mil pessoas num estádio para ver se o som atrapalhava as chamadas de emergência. Não atrapalha. Chamaram também os otorrinos para medirem os decibéis das cornetas. Barulho igual ao das buzinas dos carros. Pelo jeito, eles não conhecem o nosso carnaval nem os tambores da Timbalada.



Esta Copa sem vuvuzelas é igual a samba sem tamborim e capoeira sem berimbau. Como eu disse antes, vuvuzelas rimam com mazelas. Melhor ainda, rimam com Mandela.

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