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Contos-->Cadê As Tartarugas? -- 20/09/2002 - 16:34 (Iracema Zanetti) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Cadê as Tartarugas
Iracema Zanetti

Ela acabara de ficar noiva do único filho varão, de um casal de italianos, muito abastados.
A mãe, verdadeira matriarca, como toda italiana que se preza,
não se conformava com a rebeldia do filho.
Andava doente de ciúme, porque o rapaz bateu o pé...
e não o arredou, enquanto não consentiram em seu noivado.
Depois disso, ele tornou-se um grande chantagista emocional.
Agora... para ele era assim: pedido negado, ameaça de suicídio declarada!
Deu um único e definitivo basta!
Nunca mais aceitou um não, em suas decisões.
Uma noite chegou em casa dizendo:
__Amanhã cedo vou viajar!
Vou passar o verão na praia com minha noiva e sua família.
Dado o aviso... a casa veio abaixo!
A mãe abriu a boca a chorar... o pai engoliu seco e emudeceu!
O filho não quis nem saber... saiu da cena tão sua conhecida... e trancou-se em seu quarto.
Só saiu quando o dia clareou.
Pegou a mala e foi despedir-se da família.
A mãe que até ali continuava chorando, massageava o peito fingindo grande dor.
Olhou para o filho e disse:
__"Figlio mio... attenzione!"
__Tá bom, "mama"... Tá bom! Eu tomo cuidado, deixa comigo!
O pai olheiras roxas, pela noite mal dormida, não disse uma palavra, limitou-se a abrir a carteira e entregar ao filho uma grande soma em dinheiro para a viagem.
Ele pegou o dinheiro, colocou-o em sua carteira, agradeceu o pai, beijou-o, fez o mesmo com a mãe e às irmãs, afagou a cabeça do seu cãozinho, passou rapidamente a mão na mala e saiu.
Antes de transpor o portão, a mãe jogou-lhe carinhosamente um sueter de lã aos ombros... em pleno verão!
De longe, ele acenou-lhe mais uma vez!
Malinha na mão, blusa de lã nos ombros, lá foi ele assobiando feliz e pensando:
__Não acredito... Não pode ser... Vou viajar sooozinho...
Por que... meu Deus... não dei o grito de liberdade na hora do parto?
Foi para a casa da noiva... e logo em seguida viajaram.
Ele era carismático! Não havia quem não gostasse dele.
A noiva o amava com loucura... mas não suportava suas brincadeiras e graças.
Acontece, que ele não queria ser engraçado, ele era.
Depois de alguns dias... em plena praia... desentendeu-se com a noiva.
Ela queria, porque queria, terminar o noivado a todo custo.
Ele negou energicamente o pedido... e jurou por todos os santos e anjos dos céus que ia suicidar-se.
Não seria um suicidiozinho dos comuns... não...
Seria um suicídio tresloucado!
Não haveria corpo a ser velado, nem sepultado!
O corpo seria sugado...
A ameaça foi jurada e sacramentada.
Ia atirar-se do alto do despenhadeiro, cabeça abaixo, nas profundezas das águas da "Praia das Tartarugas," na cidade de Guarujá, litoral de São Paulo.
Disse que assim faria... e saiu correndo como um corcel selvagem e desembestado, rumo ao local da tragédia.
Tentaram impedi-lo... mas o único corcel da casa era ele... Então... fazer o quê?
Mesmo assim, o pai, irmãos, primos da noiva...e muitos vizinhos o seguiram.
Crianças da região, curiosas com o movimento, perguntaram porque o moço estava correndo tanto...
Alguma alma caridosa da turma aí presente respondeu que ele ia ao morro... descer o desfiladeiro para caçar tartarugas.
Os meninos se entreolharam e disseram:
__Coitado... moço... ele não volta mais!
A tia da noiva era a pessoa mais inocente e crédula deste mundo... e às lágrimas... pedia à sobrinha:
__Pelo amor de Deus, corra atrás dele!
Você sabe muito bem, que quem despenca de lá, não tem volta!
E então? Vá lá... corra atrás dele, faça ele voltar!
__Tia... minha tia! Você não o conhece! Ele é o maior chantagista da paróquia!
Quando ele chupa manga, não toma leite, e nem toma banho depois das refeições...
Sabe por quê?
Medo de morrer... sim, senhora... é isso aí, tia... medo de morrer!
Ela ria... ria... ria, porque sabia que ele amava demais a vida, para tentar contra ela.
Acalmou a tia abraçando-a carinhosamente e falou:
__Tia... fica calma... já, já, ele pinta por aí!
Dali a pouco, lá vinha ele do jeito que foi, apenas o cabelo em desalinho por causa do vento.
Cabeça baixa olhando para os pés, como pavão envergonhado!
As crianças quando o viram voltando correram ao seu encontro... e na maior gozação... perguntaram:
Moço, cadê as tartarugas?
Ele olhou bem pra elas, coçou a cabeça bem devagar... e falou:
Ah... deixei todas lá pra trás... estavam muito devagar...não conseguiram me acompanhar!
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