A casa de pobre
sustenta-se sem uma viga
como se suspensa
pela mão de uma lei desconhecida
A casa de pobre
é feita de barro e de bambu
Na parede, em frente a porta,
o altar simples- baú
desvendado, segredo nenhum
Sobre as tábuas de madeira,
as relíquias e os cupins,
dispostos sobre prateleiras,
junto aos facões e aos aipins
As cuias de aguardente
e os copos de alumínio
brilham como estrelas cadentes-
brasões da família
A lata de leite Ninho
para os meninos
Porque sempre há meninos,
muito meninos,
na casa de pobre
E tudo limpinho
Traias conservadas
Um museu da desvalia
e da desimportancia
para o mundo malvado
As imagens de santinhos
e os retratos antigos
compunham um todo
harmonioso, artístico
O rolo de erva brava,
com barbante, amarrado,
à mostra,ao lado,
e o sal-alho
para afastar mal olhado
e curar carrapato
E havia também coro
de passarinho
e um raio de sol guloso
a remexer os potes de doce
As vezes, um vento dançarino
levantava os saiotes
e expunha os pés de menino
E a noite, tudo resplandece
como uma vitrine de jóias
E há os que viam um cisne
branco a nadar
tendo a lua como uma bóia
E se nos Bancos, guardo meu dinheiro
O meu amor, que não sabia
onde o guardaria, hoje sei,
guardo-o aqui, nestas prateleiras
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