Este governo não se cansa de improvisar soluções, as mais cômicas, para não dizer trágicas, sempre que se sente acuado diante de medidas emergenciais que necessitam de soluções rápidas. O caso da proibição do uso de celulares pré-pagos, para evitar a comunicação entre presidiários, foi mais um lance de falta de imaginação. Chegou a lembrar a questão do kit de primeiros socorros.
O cumprimento da norma do Código de Trânsito Brasileiro, que obrigou os motoristas a carregarem em seus veículos o estojo para primeiros socorros, gerou, no seio da sociedade, à época, um misto de desconfiança e frustração. Desconfiança de que a medida tivesse sido adotada para favorecer pessoas ligadas à produção e comercialização dos itens que integravam o kit de primeiros socorros. Frustração pela ilogicidade da medida, que atentava contra o bom senso, posto que caminhava na contramão da eficácia dos resultados almejados.
Para alcançar os objetivos propostos, bastaria, em primeiro lugar, adotar um programa de treinamento (prático e teórico) para ser aplicado aos motoristas, valendo-se da experiência de pessoal especializado do Corpo de Bombeiros, Defesa civil e demais órgãos ligados à prevenção de acidentes e primeiros socorros. Em segundo lugar, elaborar e distribuir, junto com o kit, um manual prático que definisse os casos de sua aplicação e a correta utilização dos itens ali contidos, além de orientações e procedimentos para os casos mais graves de acidentes com vítimas,, seja por atropelamentos, explosões, incêndios, quedas de barreiras, batidas, capotamentos e assim por diante.
O kit, da maneira como foi colocado, por si só, era mais um pequeno detalhe, que escondia problema muito maior. Mais do que uma tesoura e alguns rolos de esparadrapos, seria necessário por em prática um projeto mais abrangente, de caráter preventivo, de recuperação de nossas estradas, eliminando os buracos, recuperando e ampliando a sinalização e aprimorando a fiscalização nas estradas. Só com estas medidas, já teríamos reduzido, em muito, os riscos de acidentes, principalmente se do projeto constasse medidas de ataque “mortal”aos motoristas embriagados, drogados e caminhoneiros sonolentos, bem como a verificação rigorosa e a apreensão de veículos sem condições mínimas de tráfego com segurança.
Da maneira como foi concebido, o kit, quando muito, serviu para engordar as receitas de alguns comerciantes que usaram as luvas como desculpas para meter a mão no bolso dos usuários, o esparadrapo e as ataduras para calar suas bocas, a gaze e o algodão para tapar os olhos e os ouvidos dos mais atentos, e a tesoura, sem ponta, não serviu sequer para tratar de unha encravada, quanto mais se fosse usada para atender aos acidentados de trânsito. Depois, insistem em dizer que temos má vontade com o governo.
Domingos Oliveira Medeiros
30 de janeiro de 2002
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