A Cícero o Padre Santo
Deram um zebu de presente
E grande foi o espanto
De toda aquela gente
Do gado daquele canto
Todo coberto de encanto
Era ele diferente
Zé Lourenço encarregado
De o levar para a fazenda
O que fez de muito agrado
Não haveria contenda
Andava com ele ao lado
Não o levava amarrado
Pois era uma oferenda
Já no meio do caminho
O Lourenço a admirar
O porte do touro Mansinho
Deu vontade de mijar
Temendo alí ser olhado
Um tanto encabulado
Fez-se então ajoelhar
Passava alí um vizinho
Com o dom de fuxicar
Achou que para o Mansinho
Tava o Lourenço a rezar
Caiu um grande toró
E onde havia só pó
Tinha água de alagar
A muito que não se via
Chuva naquele sertão
Era aquilo milacria
E merecia oração
E também uma romaria
Mesmo naquele dia
Pra aquele Santo Tourão
E assim surgiu a trama
Pro Nordeste brasileiro
Ganhou logo grande fama
O animal milagreiro
E de festa, uma semana
Com tudo muito bacana
Em qualquer um bom terreiro
Os devotos do Boi Santo
Já se conta de milheiro
Estão em qualquer canto
Deste solo brasileiro
E não há nisso espanto
Há muita reza e canto
Para o bicho feitticeiro
Como um touro vira boi ?
Essa é uma outra história
Que logo conto depois
Pois tenho que ir embora
Que isso fique entre nós dois
É uma estória pra bois
Não bote a língua de fora
Se tu queres uma graça
Peças ao touro Mansinho
Leve uma boa cachaça
E um ramo sem espinho
Não ficarás só, na praça
Nunca terás a desgraça
Terás dinheiro e carinho