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Cronicas-->Áreas externas -- 09/06/2000 - 07:44 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nestes tempos de desemprego vale tudo. Quem sempre viveu longe das ruas, fechado em um escritório pode querer mudar. Uma alternativa seria abraçar a carreira de diretor de áreas externas, também conhecida como gerência de locação rápida e mais comumente chamado de guardador de automóveis.

Mas não se iluda. A vida de guardador de automóveis não é exatamente fácil como todos podem pensar. Para aqueles que pretendam mudar de vida vai aqui algumas dicas obtidas na experiência ímpar de tentar, por vários dias, estacionar no Setor Comercial Sul em Brasília, a cidade que não deveria ter engarrafamentos. Sendo forçado a circular e a esperar que uma vaga apareça para que eu possa estacionar, em apenas uma semana de atividades já pude observar e ver como se dão os negócios neste ativo mercado. Não cheguei a pensar em abraçar a nobre carreira, mas aprendi muito observando o que lá ocorre diariamente.

Vamos às dicas.

Antes de mais nada há que adquirir o ponto. Além de algum dinheiro são necessários uma certa cara de pau, alguma determinação, força e um olhar fulminante. Sem estes requisitos não há chance de sucesso.

Dinheiro não há de ser tão difícil uma vez que não deve ser tanto dinheiro assim. Você vai acumulando entre um trocado e outro. Você pode usar seu fundo de garantia ou penhorar as jóias da família. Cara de pau é fácil. É da natureza de nosso povo. Você vai chegando, como se diz, de costas para pensarem que se está saindo. Uma conversinha aqui, uma conversinha ali e em dezessete ou dezoito minutos já se tem uma grande amizade, destas de dividir o ponto. Isto num primeiro momento. Depois chega o chefe da gangue e aí é necessário ser firme, estar realmente determinado pois está chegando o teste final. Você faz cara de mau querendo dizer que não vai sair, que a rua é de todos e que você também precisa de um lugar para trabalhar. Sendo necessário diga que tem cinco mulheres para sustentar. Não vá cair na idéia fácil de dizer que tem dez filhos. Qualquer dono de ponto na rua tem isto e não necessariamente estão preocupados com o fato. Já, cinco mulheres é coisa mais rara e algum respeito haverá de ser ganho com a estória. Mas não a faça muito comprida. Por último, o olhar fulminante capaz de dissuadir qualquer intenção de retirá-lo a força. Não tendo o olhar, prepare os bíceps e o rosto.

Conquistado o ponto, há que preservá-lo. Ocorre que a superlotação de guardadores de automóvel é um problema mundial e se você não se cuidar acabará ficando com uma ou, no máximo, duas vagas, o que evidentemente não é capaz de gerar receita suficiente para as suas necessidades. Há estudos feitos em Harvard - deve ser na parte em que o Ciro Gomes estuda - nunca perdoarei o roubo de nossa Patrícia, a Pillar - que indicam que para uma renda média mensal de R$ 3.000,00 são necessárias pelo menos cinco vagas de estacionamento. Sendo assim, se aparecer algum mané querendo um lugar no seu ponto, não caia na conversa mole nem na estória de que ele tem mais de sete mulheres. Bote pra correr. Nem pergunte se ele tem certificado ISSO 9000. Vai que ele tenha, vai acabar passando a conversa em você. Para dar mais respeito, sugiro o uso de gravata, quepe e crachá. Não se preocupe, qualquer crachá serve. Você já viu alguém lendo um crachá de guardador de automóvel? Mas convenhamos que o quepe e o crachá dão um ar oficial, deixam o cliente mais tranquilo. E gravata, naturalmente, todo mundo respeita.

Preservado o ponto, vamos ao que interessa. O cliente, este maravilhoso gerador de receitas, razão do seu viver. Há que entender a psicologia do cliente. Em comum apenas o desejo de estacionar imediatamente. No mais, cada um tem seu jeito, sua maneira de ser. Há os que não gostam de guardadores mas nem por isso deixam de aceitar a vaga oferecida.
Para cativá-lo nada como oferecer uma vaga para ele estacionar. Assim, mesmo que seu ponto seja longe da entrada da rua ou do estacionamento, tão logo ele entre aponte, abane um pano ou, o que seria mais digno, levante um cartaz com uma oferta e faça sinal como se você tivesse uma vaga. Quando ele chegar, se houver a vaga, diga que já estava esperando que ele chegasse e havia guardado. Se não, diga que já vai vagar uma, logo logo.

Mas não pare por aí, você tem que oferecer mais, ser competitivo. Aproveite sua capacidade ociosa para lavar os carros enquanto as vagas estão ocupadas. Mas não caia no lugar comum de perguntar se é pra lavar. Isto assusta a clientela. Lave sem perguntar e quando o cliente sair, diga que foi uma cortesia. De um modo geral ninguém vai deixar de melhorar a sua gratificação.

- Não precisa não doutor. É que tava precisando e eu tava por aí né. Mas se der um agrado não serei orgulhoso.

Não tem saída, o cliente vai marchar com a gratificação adicional, mesmo que não queira. Mas se ele fizer cara de mau você aplica

- Melhor lavar carro que roubar, não é doutor? Sabe o que é? Eu até peço desculpas pelo constrangimento que estou lhe causando mas tenha certeza que não é proposital....

E você segue falando, falando, falando, até que ele bote a mão no bolso e lhe dê algum.
Ai você agradece e formula desejos de boa sorte para o doutor, para a madama e para os parentes até o quarto grau, incluindo cunhados.

Aos que aceitarem o desafio eu desejo muito boa sorte e, caso me vejam procurando uma vaga não esqueçam que dei estas dicas sem nenhum interesse. Mas a vaga eu aceito.

E não me venham com essa conversa mole de que tava precisando

Escrito em 30.11.1999

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