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Contos-->Lígia e Davi -- 15/09/2002 - 22:55 (Fábio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há quatro anos não se viam. Estudaram juntos em 97, mas desde o final daquele ano só se comunicavam por carta. Geralmente eram cartas longas, a cada dois ou três meses, mas que não tinham lá muito conteúdo. Basicamente, comentavam a amizade especial que tinham (geralmente repetiam os mesmos acontecimentos várias vezes, para encher cartas diferentes). Realmente, era uma amizade não muito comum. Pareciam namorados, quando estudaram na mesma sala. Andavam de mãos dadas, trocavam carícias inocentes e, obviamente, davam margem a muita boataria no colégio. Algumas de suas atitudes serviam meramente para provocar ciúmes um no outro – a maioria delas surtiam efeito. Daví e Lígia eram amigos extremamente possessivos – sabe aquele tipo de gente que tem ciúme até duma mosca mais ajeitadinha? Porém, nunca chegaram às vias de fato.

Lígia mudou-se para outra cidade logo no início de 98. Estranhamente, Daví não sentiu tanto como esperavam. Ele sentiu-se livre, por assim dizer. Ainda adorava Lígia, claro, só que a idéia de se comunicar com ela apenas pelos Correios lhe atraía.

No começo, era praticamente uma carta por dia. Claro que essa excitação inicial foi se dissipando com o tempo, não tardaram a esperar uns meses para escrever um resumo de tudo o que tinha acontecido nesse meio tempo. Como disse, o assunto era sempre o mesmo: a amizade deles. E toda carta de Lígia invariavelmente terminava com “FRIENDSHIP NEVER DIES”.

O fato é que Lígia voltou para Recife em 2001. Agiu de forma incomum: continuou escrevendo para Daví, mas sem informar que estava apenas a poucos quilômetros de distância do amigo. Claro que Davi sabia que ela já estava em Recife, de outra forma não poderia responder às cartas, mas também fingia não saber de nada. Até o dia em que tomou coragem e escreveu, curto e grosso, numa carta: quem de nós dois vai tomar a porra da iniciativa e parar com essa frescura? Bora marcar pra sair?

Lígia nunca sentiu tanta vergonha quanto sentiu ao ler aquele bilhete de Daví. Vergonha também foi o que a impediu de dizer que estava em Recife, afinal, são no mínimo constrangedores esses reencontros de velhos amigos. Ligou pra ele, passaram horas ao telefone e marcaram de sair.

Shopping, sábado, 3 e meia da tarde. Com seus 15 anos e toda a futilidade típica da idade, Lígia vestia um top, que mal cobria seus seios avantajados (como cresceram desde 97...). No dia anterior, tinha feito luzes no cabelo – na sua lembrança, até que Daví poderia ser considerado um “gatinho”, e nunca se sabe o que pode acontecer. Ela estava sentada num banco ao lado de um membro da outra facção adolescente: um cara vestido de preto, cheio de piercings no corpo. Lígia tinha nojo de gente assim, mas como o garoto estava usando um relógio, e Daví já estava bem atrasado, ela resolveu perguntar que horas eram.

Se Lígia sofresse do coração, teria morrido na mesma hora: o dito cujo era Daví. Em carne, osso e tatuagens. Lígia sorriu amarelo com seus dentes maravilhosamente brancos. Olhou ao redor para checar se tinha alguém conhecido, engoliu seco, e entrou com Daví no cinema. Após a sessão, sumiu em menos de três minutos. Nunca mais falaram novamente. A amizade nunca morre? Sei...
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