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Contos-->A vingaça do santo Pedro -- 13/09/2002 - 17:05 (Geni de Lima van Veen) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A vingança do santo Pedro

Geni de Lima van Veen



Pedro, um homem muito simpático, atencioso,calmo

e pacato. Casado com Gercina, uma mulher

tirana e encrenqueira.

Ninguém, naquele vilarejo, entendia o casamento

daquelas duas pessoas tão distintas.

Esse já era o segundo casamento de dona Gercina.

Do primeiro casamento, ela teve um filho, e do

casamento com o senhor Pedro, nasceram cinco

meninas.

Por ordens dessa tirana as meninas foram

impedidas de frequentar uma escola, e só tinham o

direito, estabelecido por ela, de ir para a

colheita na roça.

O sonho do marido era ver as filhas estudadas e

preparadas na vida. Mas o sonho dele não tinha

importância alguma para sua esposa, afinal de

contas, ela era o chefe da tribo.

O tempo foi passando, as meninas cresceram, se

casaram e formaram famílias, e Pedro continuava

sonhando em silêncio e acompanhando a vida

passar, ao lado da sua cruz.

Um dia, uma das netas resolveu passar férias com

os avós. Foi quando viu aquela vida primitiva dos

velhos. Sim, porque a velha católica, apostólica

romana, não admitia sequer uma televisão dentro

casa.Geladeira... nem pensar! E fogão?... Jamais!

Tinha que ser fogão à lenha!

A opinião de dona Gercina à respeito da

tecnologia, eram invenções do demônio.

Foi quando a neta, cansada de tomar banho frio e

canequinha, resolveu presentear a avó com um

banheiro, onde tinha privada e chuveiro. A velha

aceitou, desde que a neta quando fosse embora,

tirasse tudo e deixasse como antes.

Seu Pedro não se cabia de contentamento. A

felicidade dele fazia brilhar em seus olhos, mas

também não se atrevia em balbuciar uma palavra de

alegria.Trazia sua satisfação escondida em seu

coração simplório e sofrido.

Pobre coitado... A primeira exigência que dona

Gercina fez a ele, foi pra que não usasse aquele

banheiro, e quando ele fosse para o banho ou

outras necessidades, que usasse o galinherio que

ficava no fundo do quintal.

E assim o coitado fazia, sem lamúrias ou

queixumes!

Pedro, sempre obediente a ela, nunca se atrevia a

ir contra suas ordens ou opiniões. Realmente, ele

era um santo!

Por muitas vezes dona Gercina fazia Pedro ir à

feira pra comprar peixe em plena quarta-feira,

sendo que o dia da feira era nas quintas. Mas seu

Pedro para não contrariá-la e não deixá-la

furiosa, não ia contra suas ordens e caprichos.

E lá ia ele, totalmente corcunda, passos lentos e

encarando uma andada de pouco mais de 20 km.

Horas depois ele voltava, e dirigindo um olhar

decepcionado a sua esposa, por não ter conseguido

agradá-la, diziá-lhe que a feira era só no dia

seguinte.

Mas dona Gercina sempre fazia isso com o velho

nas quartas-feiras.

Num determinado dia aquela neta retornou à casa

dos avós. Ela estava de férias e também já havia

feito muitas amizades no vilarejo onde os avós

moravam.

O banheiro que ela havia reformado antes, não foi

destruído, mas também estava intacto, nunca mais

ninguém fez uso dele.Quando ela perguntou ao avô,

por que ninguém o usava, o avô lhe respondeu que

por ordens de Gercina, só as visitas usariam

aquele banheiro.

_E onde vocês tomam banho e evacuam? perguntou-

lhe a neta perplexa com a resposta do avô.

_Ah filha! A gente continua usando o galinheiro



no fundo do quintal, e as galinhas já tomaram

outro rumo. Sua vó fez um novo galinheiro pra

elas! Respondeu o avô, naquela complacência que

só ele tinha.

Realmente, a neta não entendia de onde esse homem

tirava tantas forças pra aguentar as caduquices

da avó. Não entendia como ele conseguia viver

tantos anos cercado de tanto domínio e tirania, e

sempre humilde e conformado.

Logo no dia seguinte dessa conversa, já raiando

o dia, o avô pisando nas pontas dos pé, foi até o

quarto onde a neta dormia, e muito cuidadosamente

a acordou.Falando bem baixinho, pediu à ela que

não fizesse nenhum barulho e apenas o escutasse.

A príncipio ela se assustou com tantos

cuidados.Chegou até a pensar de que o avô teria

dado o seu grito de guerra, e dado cabo à vida da

velha

maluca.Mas não foi nada disso.

Na verdade ele só queria dizer à neta que ele

iria à casa da irmã , que ficava do outro

lado da rua. Mas se a avó perguntasse por ele,

era pra neta dizer que não sabia onde ele estava

e que nem o viu pela manhã.

É claro que a neta não poupou esforços nenhum

para ajudá-lo. Muito pelo contrário, jurou a ele

que jamais diria alguma coisa à ela.

E assim, ele tomou rumo para a casa da irmã.

Seria a última casa que a avó iria, mesmo porque

elas eram inimigas de longa data.

Passado algumas horas a avó acordou e a neta que

já estava acordada, fingia dormir. A avó preparou

o café e logo em seguida começou a gritar pelo

marido. Cansada de tantos gritos em vão, dirigiu-

se ao quarto onde estava a neta e perguntou-lhe

se ela havia visto o avô.

_É claro que não vó. Aliás acordei com os seus

berros!

_Meu Deus! Onde é que o Pedro se enfiou? disse a

vó, aflita.

_Calma vó.Talvez ele tenha ido até a lagoa dar

uma caminhada. Disse a neta no intuito de acalmá-

la.

Qual não foi a surpresa da neta, quando a avó se

pondo histérica, começou com aquela gritaria,

chamando a atenção de todo o vilarejo!

_Ai meu Deus, meu marido morreu afogado.Tenho

certeza que Pedro se afogou. Socorro, me ajudem!

Fiquei viúva! Socorro, me acudam, meu marido

morreu!!!

E assim entrou numa crise de desespero. E a neta

tentando acalmá-la com aquele amontuado de gente

que chegava pouco a pouco na casa.

Foi sem dúvida, para a neta e os demais, uma das

cenas mais ilárias que dona Gercina já havia

feito.

Mas mesmo assim, a neta não se dobrou e muito

menos quebrou o juramento que fez ao avô.

Entre uma cena e outra da avó, e aproveitando o

aglomerado de gente que entrava e saía da casa,

ela foi saindo bem de mansinho e foi ao encontro

do avô. E lá estava ele, na casa da irmã, calmo e

tranquilo, saboreando aquele cafezinho matinal.

A neta contou-lhe o pandemônio que estava

ocorrendo, e pediu pra que voltasse logo pra

casa, antes que a avó chamasse a polícia e os

bombeiros.

Ele pediu para que a neta voltasse, pois iria

logo em

seguida, assim que acabasse de tomar o café.

Voltando para casa da avó, a neta ficou em choque

quando viu o número de pessoas que lá se

encontravam, e o choque maior ainda, foi aquela

cena: a avó já toda vestida em preto, com aquele

véu fúnebre que lhe cobria o rosto!

_Seu primo Anibal, já foi até a lagoa buscar o

corpo de Pedro! Disse em prantos à neta!

_Vó, mas que absurdo é esse? Como a senhora pode

afirmar que meu avô está morto? Indagou a neta,

sufocando o riso na garganta.

_Seu avô nunca se separou de mim pra nada, muito

menos, nesses anos todos, nunca se ausentou sem

que dissesse a mim onde iria.Tenho certeza de que

morreu, e agora só me resta cuidar do

sepultamento, e quero que seja o enterro mais

bonito do vilarejo, afinal de contas eu não perdi

apenas um marido, perdi meu santo guardião. Já

pedi para que o padre compareça e seu primo

Janilson foi comprar a coroa de flores que

enfeitará o caixão.

Foi nesse instante que a neta sem outra

alternativa, e com a demora do avô, resolveu

contar a veracidade dos fatos, mas antes que

abrisse a boca, foi detida com o avô entrando em

casa e estarrecido com o aglomerado de pessoas

que

já velavam seu corpo ausente.

A avó num grito súbito dizia estar vendo o

espírito de Pedro, chegando e a chamando para o

lado dele.

E sem que ninguém esperasse, a velha caiu em

terra. Estendida no chão, olhos abertos e corpo

inerte.Era a morte da megera, causada pela curta

liberdade do santo Pedro.


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