I
As falhas que notamos nestes versos
Nem sempre dão recurso à correção.
Assim, vai perdoar-nos, caro irmão,
Se, às vezes, nossos textos são perversos.
Contudo, para o cesto nunca vão,
Pois o bom médium julga incontroversos
Os fluidos em que os temas são imersos,
Querendo aproveitar seu trabalhão.
Qual impressão lhe dá este soneto,
Que trata de si mesmo com clareza:
Tem o ferreiro de madeira o espeto?
Ou pensa que, mais tarde, junto à mesa,
Venha alguém nesta rima dar um jeito,
Propondo solução de mais beleza?
II
Nós não queremos que se veja na poesia
Simples produto separado do evangelho:
O bom leitor há de pensar: — “Nela me espelho,
Para viver todo o meu carma em alegria.”
Quando se espera progredir depois de velho,
Tudo fazendo p ra manter-se na folia,
É quase certo o desagrado da harmonia
De um pobre verso que tropeça no conselho.
Sempre viremos trazer rimas imperfeitas,
Como é imperfeita, neste mundo, a humanidade,
Cujas passagens para o Céu são muito estreitas.
Arrepender-se toda a gente sempre há-de,
Ao perceber quão poucas almas são eleitas,
Para gozar, junto ao Senhor, felicidade.
III
Queremos dar a todo o povo parabéns,
Por conquistar bela vitória desportiva:
A sensação de regozijo reaviva
Belo desejo de que todos tenham bens.
A mente humana, com a bola, é criativa,
Mesmo sabendo ter no bolso alguns vinténs,
Que a maioria de alguns ricos são reféns,
Embora todos, num só grito, digam: — “Viva!”
Neste momento, no hospital, gemem uns poucos,
Sem ter noção de que seu jogo teve fim,
Fazendo sempre, à voz da mente, ouvidos moucos.
De nada serve este soneto tão ruim,
Quando os poetas, que festejam, dão de loucos,
Compondo trovas tão patéticas assim.
|