Tortura-se andando pelo apartamento; ora olhando o relógio na parede, ora prestando atenção no último noticiário televisivo. Abre a janela e se expõe ao frio da madrugada e ao brilho do luar. Reza...palavras desconexas...crença e medo mesclados. Da janela passa para o sofá, abre o livro abandonado, anteriormente, na mesinha. O personagem diz: "Agora eu vou embora." Fecha o livro rapidamente, com vontade de jogá-lo contra a estante. Volta à janela e fica observando o carro da segurança passar e repassar, com suas luzes brilhantes e o barulho monótono da sirene. Um gato salta o muro e caminha lépido em direção ao jardim, fugindo de sua visão. Pensa com raiva: para quê inventaram o telefone? Resolve beber um copo dágua e conversa com o líquido, como se fosse maga e pudesse fabricar assim, um poderoso calmante.
Senta...levanta...caminha...torna a sentar. Ouve o barulho, inconfundível no meio da noite, do portão eletrônico. Saltando como mola, corre à janela para observar a entrada do carro e os minutos gastos no estacionar, parecem séculos. O vê caminhar até a entrada do prédio. O barulho da chave caindo no chão tira-a da letargia, volta rápido para o sofá. Reabre o livro e fica esperando. Quando a porta se abre, olha nos seus olhos transmitindo toda a angústia, frustação, insegurança e raiva sentidas durante a longa espera, mas sem dizer nada, vai para o quarto se deitar... |