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Artigos-->A LÍNGUA PORTUGUESA ENQUANTO LÍNGUA INTERNACIONAL -- 01/07/2000 - 20:59 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A LÍNGUA PORTUGUESA ENQUANTO LÍNGUA INTERNACIONAL

Dedico este artigo aos estudantes dos Cursos Superiores de Letras de todo o Brasil







O tema da Língua Portuguesa enquanto Língua Internacional ou do Português entre as Línguas do Mundo deve ser um tema prioritário a ser discutido nos auditórios e nas salas de aula de nossas Faculdades e Universidades. A prioridade do debate deverá ter em conta dois fatores. O primeiro deles tentaria jogar mais informação na comunidade universitária brasileira a fim de que não se alastrem equívocos relativos ao Português regional próprio de qualquer comunidade lusófona, devendo ser destacado que a variante fica em segundo plano, e só vem depois do Português Fundamental. O segundo para que quanto antes se enfrente com autonomia e competência o estudo, a informação, a pesquisa e o debate deixando de lado obtusas atitudes, por vezes ignorantes, sobre a questão central da lìngua.

Este artigo não visa desmerecer o estudo regional da variante de cada país. É necessário, é benemérito, deve ser feito esse estudo. De preferência, de uma forma científica, com levantamentos linguísticos das micro-regiões ou Estados indicadas as variantes e as constantes num Mapa Linguístico que dê seriedade ao ensino e à informação. Para já, no Brasil temos, ao que se sabe, um mapa Linguístico do Estado de Minas Gerais, e em andamento outras pesquisas por regiões em alguns Estados. Mas não temos um conhecimento exato e científico de como se fala o Português no Brasil ou nos Estados de que se compõe o país. Como sempre, temos informações importantes, derivadas de pesquisas específicas, mas não temos ainda uma informaç=ao de conjunto sobre o Português do Brasil, informação que nos diga como é o Português regional de Rondônia, do Amapá, do Acre, da Amazônia, de Alagoas e de cada Estado, para sabermos, através de um estudo sintético as variantes das sub-regiões e seu impacto no que chamamos de Português Padrão veiculado pelos noticiários da Mídia e pelos principais jornais e revistas dos grandes Centros Brasileiros.. Na realidade, sabemos da forma como se fala no Sudeste brasileiro e pouco mais. Uma falha de nossos pesquisadores em Linguística e uma falha dos Institutos Brasileiros de Pesquisa que não traçam prioridades para financiar projetos nacionais.



ABRIR A INFORMAÇÃO, A PESQUISA E A INTELIGÊNCIA



Partindo de um impulso mais nacionalista e ufanista do que propriamente científico, algumas Faculdades e Universidades brasileiras, inclusive no DF, já estabeleceram como área de concentração no curso de Graduação em Letras, o Português do Brasil. À primeira vista parece até coerente, uma vez que se trata da língua pátria e também porque uma boa parte dos alunos se destina ao magistério em nossas escolas da rede pública e particular. Perante esse fato não devemos deixar de observar que a língua pátria brasileira é uma língua que mistura o próprio com o comum ou seja, a sua específica assimilação e prática linguística com os fundamentos gerais da língua, comuns a outros povos.Ou, como diria Saussure, o Português do Brasil é uma fala ou um discurso, uma prática linguística, mas não é uma língua em si, já que língua é algo mais abstrato.Com derivação deste raciocínio concluimos que a Língua Portuguesa é, antes de tudo, uma Língua de várias pátrias, e como tal, uma Língua plurinacional. Sendo assim, em nossa modesta opinião, formar professores de Língua Portuguesa numa Universidade, prescindindo ou tornando secundários os fundamentos gerais da Língua, é construir um castelo de areia que mais cedo ou mais tarde mostrará a sua fragilidade.Isto pode ser, cremos, um grave equívoco científico, fruto de uma errada avaliação do fenômeno linguístico. De desejar seria que os currículos dessas Universidades ou Faculdades, respeitada sua autonomia de decisão, fossem assessorados por especialistas e cientistas de competência comprovada no meio científico da comunidade internacional de Língua Portuguesa, para melhor acautelamento da formação de nossos candidatos à formação em Língua Portuguesa. Achamos isso pelas seguintes razões: A primeira, porque um Curso de Graduação é antes de qualquer coisa um curso de formação, um curso de bases. E as bases têm de vir antes de tudo dos fundamentos da Língua. Não é a Língua falada em Portugal ou no Brasil que vai constituir toda a base de estudo linguístico fundamental da Língua Portuguesa. As bases da Língua Portuguesa estão na História da Língua Portuguesa em todos os cantos do mundo onde ela tem história ou animação viva. E é essa História diacrônica e sincrônica que deve ditar os fundamentos. E é nesse estudo que devem ser formados nossos Estudantes universitários. Depois ou juntamente com estes fundamentos vem o estudo das variantes nacionais, regionais ou locais. O problema é aparentemente complexo, mas no fundo é simples. E sobretudo muito acessível. Exatamente como fazem 92% das universidades e faculdades brasileiras, portuguesas, angolanas, moçambicanas e de todos os demais países que formam professores em nível universitário. Só depois disso, vem a logicidade de uma especialização. Receber uma formação no Português do Brasil, é, sem dúvida uma especialização. Essa especialização, no magistério universitário, não pode ser apenas uma prática falante. Os Professores devem ser preparados e espscializados, no caso, em Filologia geral, portuguesa e brasileira, em fonética geral, portuguesa e brasileira, em morfologia geral, portuguesa e brasileira, em sintaxe geral, portuguesa e brasileira, em léxicologia geral, portuguesa e brasileira, assim como em teoria linguística para dar o cunho científico ao ensino. Além de tudo isto, urgiria um competente ensino da História geral e da Gramática Histórica da Língua Portuguesa. Isto são algumas das coisas.Não é uma especialização. Num curso de formação, o enfoque deve ser dado para os fundamentos. Os fundamentos do Português são o português enquanto lingua geral, comum aos povos falantes. É precipitado falar das singularidades antes de se dar a conhecer a base, os pontos comuns. Quando eu digo: "estou sentado", estou empregando uma expressão de português fundamental, não uma expressão típica do português do Brasil. É importante acentuar qque a estrutura apresentada acima é comum tanto ao Português do Brasil, como ao Português de Portugal, ou ao Português dos países africanos de Língua Portuguesa ou de outra qualquer comunidade lusófona. Ao ser pronunciada ou escrita essa frase, todo o falante de língua portuguesa vai entendê-la porque há nela uma estrutura comum válida para a escrita e elocuação em qualquer país lusófono.Quando eu digo: Pelé foi o maior jogador de futebol do mundo no século XX, estou usando uma expressão do português fundamental. Todos os falantes vão entender. Este português fundamental existe em estruturas frasais comuns, existe em regras fundamentais comuns da morfologia, da sintaxe, da fala e da escrita. Esse Português Fundamental é importante. Em cursos de formação do Português,é indispensável, para efeitos de formação de princípios linguísticos básicos. Até para o aluno perceber que o mundo não está todo em seu pais, e que sua pátria está amplificada em todos os países de língua portuguesa:"Minha pátria é a Língua Portuguesa"(Fernando Pessoa).

Discutir este aspecto é abrirmos nossa inteligência, é ativarmos nossa pesquisa e nossa informação numa sociedade plurinacional. Para melhor entendermos isso, é necessário partir para a condição internacional da Língua Portuguesa. Como Língua Internacional, ela passa a ser a Língua de todos os Lusófonos.Nossos Professores de Língua Portuguesa das Universidades Lusófonas deverão informar seus alunos de que os povos Lusófonos estão organizados em vários níveis desde o cultural ao econômico e diplomático. Eles têm várias organizações específicas. As mais importantes e conhecidas são: a CPLP(Comunidade dos Povos de Língua Portuguesa), os PALOPS(Países africanos de Língua Oficial Portuguesa). Em Lisboa funciona a Fundação para o Desenvolvimento da Língua Portuguesa, com vários diretores portugueses, brasileiros e africanos.Na ONU, na UNESCO, na OMS, e outros órgãos internacionais, a Língua Portuguesa tem o estatuto de língua oficial,com reconhecimento oficial da Comunidade Internacional dos Povos. Não é a Língua de Angola ou a da Guiné-Bissau, a Língua Portuguesa que representa na ONU os povos de Língua Portuguesa, mas é, naturalmente, a Língua Portuguesa, em sua feição geral, em sua base patrimonial comum, acrescida das diferenças e das variantes regionais e nacionais.Nos últimos anos houve esforços para um acordo ortográfico a ser usado entre os vários povos lusófonos.Um acordo que teria a feição pragmática da escrita, muito útil para a editoração e interc»âmbio de edições de livros de qualquer dos países no Mundo de Língua Portuguesa.

Por todas estas razões, eu acho que não é uma idéia correta colocar "como área de concentração" para o "curso de graduação" no período de formação de um cidadão universitário, o Português do Brasil ou o Português de Portugal ou o Português de Angola. Primeiro porque um universitário deve ser um indivíduo aberto e universalista em sua aprendizagem e visão de mundo. Em segundo lugar, porque antecipamos o particular e o isolamos antes de estudarmos o geral. A coisa muda de figura quando nos referimos a cursos de especialização, mestrado ou doutorado. Nestes cursos já é normal a especialização. Estes cursos descem a detalhes, especializam, pesquisam aspectos e sua função é essa mesma, a de, com mais exigência, aprofundarem e olharem o detalhe, mostrá-lo, oficializá-lo em resultados de projetos de pesquisa. Neles é inteiramente lógico e viável o estudo do Português do Brasil ou de Angola ou de qualquer país lusófono como "área de concentração". Nossa opinião é a de que as Universidades, primeiro, deverão, em seu curso de formação e graduação, ministrar os Fundamentos da Língua Portuguesa e essa deverá ser a área de concentração prioritária e indispensável para quem estuda Português. Metodologia importante para formação da mente e para o exercício futuro do magistério. Isso não impedirá que o Português do Brasil, ou o Português de Angola, ou o Português de Portugal possam ser estudados, nas escolas superiores de cada país, "a nível de disciplina", mas "não a nível de área de concentração". É diferente quando se fala de Cursos de Especialização. Mas a Especialização, segundo a normatização brasileira do Ministério da Educação, só deve vir após o diploma de graduação. Nessa altura, o aluno pode frequentar cursos de especialização propriamente dita, Cursos de Mestrado em Língua Portuguesa, Cursos de Doutorado em Língua Portuguesa. Portanto, o estudo do Português, mesmo dentro de um país que tem como dever cultural estudar sua variante com carinho redobrado.



O Português entre as Línguas do Mundo



Sendo as Universidades cidadelas da pesquisa e da ciência não podemos nelas dar prioridade a vaidades pessoais, a nacionalismos radicais nem a teses desfundamentadas. Para elas, portanto, e para os mentores dos currículos e das programações dos Cursos Superiores de Letras do Brasil ,duas coisas devem ficar bem claras. O Português é falado no Brasil e em mais sete países. Por isso mesmo, nenhum dos países da comunidade linguística são donos da Língua comum. Bem o Brasil, portanto, nem nenhum outro país lusófono são donos particulares da Língua, que é língua oficial a nível internacional representando a todos. O Português é portanto um patrimônio plurinacional. A história da língua é uma convergência da evolução em todas as comunidades que a falaram, falam, desenvolveram e desenvolvem. Sua realidade maior é a existência de um estrato fundamental, chamado Português Fundamental, que é básico para a fala e a escrita de todos países ou comunidades lusófonas. Quando em janeiro de 1968 iniciei meu magistério no Curso de Letras da Universidade de Brasília, os Professores Adriano da Gama Cury, Ermínio Rodrigues e Sílvio Elia mantinham um projeto chamado Português Fundamental. Em vista da existência de um português fundamental evidente no português falado e escrito dos vários países que compõem a lusofonia, nenhuma das comunidades pode reivindicar propriedade sobre as características da Língua e muito menos ignorar que sua natureza parte de variantes plurais em cima de uma base fundamental fazem aquilo que iremos chamar de Língua portuguesa como língua internacional.





João Ferreira

Brasília 1 de julho de 2000



PS- Continuaremos discutindo o assunto em outro artigo.
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