ENTRE O PRINCÍPIO E O FIM Nasci... Está registado que nasci Na cidade do Porto em Portugal... Pois se para nascer nada pedi Para morrer só quero tal e qual ! Lembro-me ainda do brilho divinal Que me olhava pleno de candura E no abraço quente da ternura Me embalava em amor total Mas também recordo o brusco mal Que inocente sofri de quem na vida Lutava em amargura padecida Quiçá para aparecer agora aqui Na memória do que então senti Poeta florescendo além do prazo E só talvez por este mero acaso Nasci... Está registado que nasci. De prazer e de dor adolesci Como intenso agora vou vivendo Mal-grado pelo tempo já descendo Da imposta montanha que subi De regresso ao sonho que perdi Mas onde sempre avante intentarei Esquecer as mágoas que passei Em vão no inóspito estendal Do mundo enegrecido e boçal Que me traiu e obrigou a recolher Ao berço original de meu ser Na cidade do Porto em Portugal. Se de novo nascesse colossal O que de novo iria alcançar Que modelo poderia adoptar Para em êxtase feliz viver real? Não lobrigo que haja algum sinal Que me inspire lograr esse desejo Porque à vida nada mais invejo Nem mesmo os prazeres que já vivi E que de sobra cem vezes repeti... Almejo e com fervor pretendo sim Nada pedir até chegar ao fim Pois se para nascer nada pedi. Do futuro que terei e vem aí Meu desígnio alimenta o sonho De superar o Inverno medonho Que não conheço mas já preveni Entre a Poesia deusa que escolhi E meu dilecto deus o Movimento Fontes onde colho o alimento Para rejuvenescer e ter afinal A paz dos dias ao sol invernal E como prá vida logrei passaporte Embora me embarace face à morte Para morrer só quero tal e qual ! Torre da Guia |