Palavra, Caro JÚLIO CÉSAR, por volta dos meus seis anos, o meu padrinho de baptismo, curiosamente com o nome de CÉSAR AUGUSTO, quando então eu estava à sua responsabilidade, na Senhora da Hora, comprou um burrico récem-nado aos ciganos, e ofereceu-mo.
Era negrão e tinha manchas brancas entre as orelhas e nas patas. Que alegria... Que emoções aquele burrico malandrote me proporcionou.
Minha madrinha e tia directa, Laurinda, que tinha o hábito de pôr os nomes à bicharada lá de casa, designou-o de Funambó. Nunca se me suscitou a curiosidade de saber o porquê deste nomitativo.
A propósito JÚLIO... Desculpe-me a intromissão, mas não vamos ofender a deliciosa memória a dois animais que carregaram pacientemente a nossa inocência. Não JÚLIO... Por favor... Não coloquemos em aproximação a burridade asinina em face de tão decrepitante e vomencial mioleira.
Habituê-mo-nos JÚLIO a suportar com denodo as aberrações que a humanidade surpreendentemente nos vai colocando. Observê-mo-lo na jaula, mesmo que para isso tenhámos de pagar-lhe a sustenção. E... Sobretudo a perdoar-lhe, a doar-lhe a nossa lástima e pena. Está a caminho de já não fazer mossa alguma a quem quer que seja.