I
A tarde em que o trabalho fica em branco
Não pode ser contada por perdida,
Porquanto é tanta a nossa boa lida
Que não há quem se encoste no barranco.
Queremos demonstrar a quem convida
Que o nosso carro pega até no tranco,
Embora o rude verso fique manco,
Nos chistes a que o médium dá guarida.
É que o fato de vir causa respeito,
Pois tem grande entusiasmo quem confia
Em que o nosso rimar venha perfeito.
Mesmo que fosse um só, lhe ditaria
A turma que p ro amor abre seu peito,
Que em branco não lhe ficará a poesia.
II
Estando a vibração bem controlada,
É sempre certo a rima vir na hora,
Que a lei da sintonia aqui vigora,
Jamais estando a porta, assim, fechada.
Às vezes, a poesia ainda demora,
No ajuste de uma rima melhorada,
Pois sofre toda a turma por um nada,
Que a perfeição é tema que deplora.
O tempo há de passar de qualquer jeito,
Que a vida é um “continuum” de sucessos,
Até que o escolhido seja eleito.
A lei exige dele só progressos,
Pois, antes que se tenha por perfeito,
Alguns versos ruins verá impressos.
|