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Cronicas-->OS FLANELINHAS II -- 07/07/2002 - 21:42 (Leon Frejda Szklarowsky) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

OS FLANELINHAS II
Leon Frejda Szklarowsky
escritor e jornalista, autor de obras jurídicas e literárias, destacando-se Hebreus, história de um povo.
Não importa que pareça delírio, porque se os homens não tiverem um sonho a realizar, uma esperança a cultivar, de que valerá a vida? Para que terá vindo habitar a estação Terra?

Meus queridos flanelinhas, como costumo chamá-los, afetivamente, são pessoas, como nós, que necessitam apenas de compreensão e não de blablablás ou de esmolas, broncas desaforadas ou prisões inócuas, porque não são pedintes nem mal educados ou famigerados, como o denomina, ironicamente, um ilustre senhor, em o SR. REDATOR, de 6 de julho de 2002, do Correio Braziliense, de Brasília. Antes, uma prendada senhora julgara-os lixo da sociedade. Ninguém sabe quem lhe outorgara o mandato para fazê-lo.
Lá estão em busca de seu ganha pão diário, porque a maioria não tem do que viver e, pelo menos, fazem alguma coisa, prestam algum humilde serviço, para não se tornarem vagabundos, bêbados, delinquentes ou, pior, narcotraficantes. Estão sempre a postos, como um soldado. São os heróis anónimos.
Tenho-me dado ao trabalho diuturno de realizar uma pesquisa de campo, fazendo-lhes uma singela indagação:
- O que você quer ou de que precisa para ser feliz?
A resposta, em uníssono, é:
- Doutor, apenas Deus e Saúde, porque, com Deus e Saúde, posso trabalhar e sustentar-me e à família e, assim, ter alguns poucos bens, de que careço, para viver, decentemente, como qualquer pessoa.
Outros, menos filosoficamente, dizem, com extrema simplicidade e objetivamente:
- Preciso de trabalho, qualquer que seja, para ter uma família, um lugarzinho para morar. Somente, um teto.
Alguns, ainda, sequer respondem, por que estão a indagar, com seus botões:
- Ora, meu senhor, por acaso, você não sabe, não está na cara?
Percebo que um menino, frágil, esquelético, aproxima-se de mim, com uma ponta de curiosidade e, quiçá ironia, e fica a olhar-me, rostinho amassado e, com certeza, com muita fome, sem nada dizer. Há quanto tempo não come, não experimenta o sabor de uma comida quente gostosa, de café com leite, pão e manteiga?
Talvez espere pela pergunta, que, ao longe, notara haver feito ao seu colega. Então, faço-lhe a mesma indagação, que repetira muitas outras vezes.
A resposta veio rápida, fulminante, como um raio. Seu rostinho, antes pálido, iluminara-se, como nunca. Seus olhos, antes apagados, agora estavam brilhantes. Até ajeitara seu cabelo, com um pente improvisado: a palma da mão e os dedos sujos. Penso que a entrevista inesperada lhe tenha agradado, fazia-lhe bem. Tirara-o do torpor. Sentia-se importante, pelo menos, uma vez na vida.
- Oh, quero minha mãe e meu pai. Nunca vejo eles. Durmo em qualquer lugar. Fico muito triste. Às vezes, choro, mas enxugo as lágrimas com jornal sujo, porque não tenho lenço. Minha ropa tá toda suja.
Insisto na pergunta. Eis que ouço um sussurro:
- Oh! Se eu encontrar minha mãe e meu pai, não estarei encontrando Deus?
É preciso mais, senhores? Como é fácil resolverem-se os problemas sociais e económicos, sem falsas e estrondosas teorizações e demagógicos discursos de políticos, estadistas, doutrinadores e falsos messias. Quanto mais o homem se desenvolve técnica e cientificamente, mais insensíveis se tornam, quando tudo se reduz a uma singela proposição: Deus, saúde, educação e trabalho. Sonho, fantasia ou loucura? Não!
Os homens complicam e tornam complexos os fenómenos, que na verdade se traduzem tão somente numa dramática e diminuta expressão: Solidariedade e dever de ajudar, não dando, mas propiciando empregos, educação e meios de subsistência.
Basta a vontade política, por que os problemas sociais, económicos e que tais se resolvem com ações e não com palavreado oco.
Lembremo-nos, entre outros, do mais notável dos filhos que o Brasil guarda, no Panteão dos Heróis, e que será lembrado, para todo o sempre: JUSCELINO KUBITSCHEK ou, simplesmente, JK, menino pobre, filho de humilde e santa professora (tão esquecida, nos dias atuais), órfão de pai e que, apesar de tudo, tornou-se o maior estadista de todos os tempos.
É certo que a sociedade e os governos não podem e não devem olvidar a educação, pois que o obscurantismo consegue impedir a caminhada ou o progresso do homem, por algum tempo, mas não para sempre.
Basta que os governos e as pessoas gastem menos com as coisas supérfluas, não lancem ao ralo os parcos recursos de uma nação pobre, mas honesta, sejam mais solidários, menos egoístas e passem a criar melhores condições de vida e mais empregos. E deixem para trás as orgias do poder ou a falsa glória dos quinze minutos de holofote.
Nada mais.
Não é pedir muito.
Ah, ia-me esquecendo. Respeitem os pobres flanelinhas. Não lhes atirem pedras nem a pecha de famigerados.
Pensando bem, até que podem. Afinal, essa palavra era usada no sentido de notável, célebre, famoso.
Acho que nem o pobre coitado que se pusera contra os flanelinhas conhecia este significado nobre.
Com certeza, fê-lo, injustamente, no sentido que lhe dera Franklin Távora, em O Cabeleira, ou no sentido vulgar.
Pobre coitado, sem o saber tornara-os notáveis!
Dos males, o menor.
leonfs@solar.com.br
BSB DF, 7.7.2002
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