É PRECISO AGRADECER
Foram feitos tantos pedidos, tantas promessas ficaram pendentes , inúmeros amuletos da sorte tiveram seu lugar especial, velas brancas iluminaram os altares , enquanto búzios foram jogados para definir a vitória ou derrota das seleções que participariam da primeira Copa Mundial de Futebol do século. Essa demonstração do espírito de religiosidade, da crença e da fé do povo brasileiro, ligados a um dos mais populares esportes não surpreendeu ninguém. No período anterior ao início da Copa, teve gente que fez novena, orações para todos os santos e até mandingas, usou camisetas viradas, atadas e outras esquisitices para assegurar ou garantir o Penta ao time brasileiro. Intuição ? Não sei, não. Mas desde o início acreditei e não fiz promessa alguma, caso nossa Seleção vencesse. Estava confiante. Havia um líder que sabia das coisas, um verdadeiro cabra macho, que impulsionava o time nas grandes jogadas, numa sintonia mental de reflexos, decisões e garra. Enquanto isso, os ànimos dos fanáticos torcedores ia se alterando , levando-os à s mais incríveis apostas, prometendo mundos e fundos aos Anjos e Santos do Céu.
Esta história de fazer mil e uma promessas, ainda mais para conquistar uma Copa de futebol, não faz a minha cabeça. Lembro muito bem quando ainda menina, tinha uma amiga que só vestia roupa branca. Durante os anos em que estudamos juntas, ela sempre vinha para a escola vestida de branco. Sapatos, meias, saias, blusas e laços de fita também. Parecia mais uma santinha. Impressionava-me com sua presença alva e frágil. Ela pouco sorria e não compartilhava brinquedos e algazarras. Soube mais tarde , que a menina contraíra uma doença incurável e sua mãe fizera a promessa de vestir a filha com a cor branca até o dia de sua cura. Cruel destino teve minha amiga. Viveu até os 18 anos, sempre vestida de branco, sem usufruir as nuances vibrantes do verde/amarelo/azul, tendo sempre no olhar o reflexo gélido e sem vida da cor branca que a envolvia por inteiro. Promessa cumprida até o final de seus dias. Sem sorrisos, sem esperanças, sem vitória. Aliás, a esperança estava na cor branca que ela vestia. Pobre amiga.
A história que vivemos nesse último mês também foi angustiante ,mas teve um final feliz. Depois da vitória contra a Alemanha, a euforia tomou conta de milhares de torcedores brasileiros. Valeu a pena acreditar, roer as unhas o tempo todo, dormir mal e acordar cedo, vibrar, chorar, sentir orgulho das cores verde/amarelo/azul, sempre presentes. Afinal, não era uma doença contagiosa e muito menos incurável que deveria ser enfrentada. Era um jogo de futebol. Havia cor, alegria e vibração em nossas esperanças. Se o resultado desse duelo acabou sem mortes, porque não erguer ao alto uma oração , pagar a promessa feita, agradecer enfim aos Céus e Santos do maior poder sobre a Terra?
Você que fez uma promessa dessas , não acha que está na hora de cumprir o prometido ? Agradecer é tão simples. Basta dizer : Obrigada, Senhor. Obrigada, pelo sorriso, pela esperança, pela vitória. Vamos lá. Afinal, não conseguimos a Copa de mão beijada, não? E continuamos vivos.
carmen@gaz.com.br
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