ALÉM DAS HORAS DO MEDO !... As horas vão escorrendo Pelas gotas dos minutos Onde meus olhos enxutos Sem lágrimas vêem sofrendo O viço desaparecendo Da flor de minha pele À espera que se revele O lento abrir de portas No tempo das horas mortas Em desesperado cordel. As horas sabem-me a mel Quando te leio as palavras Que mesmo sendo amargas São doces vertendo fel E imagino o vergel De teus lábios verdadeiros Entre beijos derradeiros Ao esplendor dos segundos Tocando como dois mundos Meus lábios tristes sequeiros. Mês a mês... Anos inteiros As horas vão-me adensar Esta dor de ver murchar Um sonho dos verdadeiros Entre os sonhos passageiros Que hora a hora alcancei Mas este que inventei Para nunca mais ter fim Vai viver dentro de mim A matar quanto sonhei. Nos versos que desfiei As horas deram-me a mão Para tecer o cordão Que entre anjos entrancei Em arminho que criei Da alvura imaginada Na virgem nunca tocada Pelas horas egoístas Que desejam as conquistas Em segundos esgotadas. Nós temos horas trocadas Dias e meses diferentes Anos de laços ausentes Palavras desencontradas Soltas no ermo dos nadas Asas brancas... Asas pretas... Brancos e negros poetas Que as horas foram marcando E quiçá algures sem mando Fossem tempo de horas certas. As horas passam abertas No meu relógio parado Onde um cuco desolado Padece as horas desertas Porque só tu lhe despertas O fabuloso segredo Da tarde que acorda cedo Com vontade de sonhar A emoção de dealbar Além das horas sem medo!
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