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Artigos-->MITO, MISTICISMO E SALVAÇÃO -- 09/03/2010 - 13:32 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


MITO, MISTICISMO E SALVAÇÃO



Francisco Miguel de Moura*



Muitas coisas que ontem não tinham explicação pela ciência, hoje têm. Com o mapeamento do cérebro, comportamentos e doenças ou esquisitices começam a ser mais comentadas e explicadas, quando não convincentemente, pelo menos para instigar novas pesquisas, novos estudos. Um dos casos recentes foi o da prosopagnosia, que significa o não reconhecimento de rostos, feições, do que sofre cerca de 2% da população do mundo. É que a parte da memória que responde a isto é inativa, quer por origem genética, quer por causa de um trauma adquirido. Ciência ou pseudociência, já li, também nalgum livro ou revista, que existe uma região do cérebro que fica mais excitada quando a pessoa é crente; em caso contrário, referido sítio fica tranqüilo, sem nenhum sinal de agitação, como se não funcione ou esteja dormindo.

Em filosofia, o existencialista Albert Camus (1913 – 1960) começa (em “O mito de Sísifo”) com esta busca: “Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder a questão fundamental da filosofia.” Ou seja, se a vida é um absurdo, a morte seria a solução? Pergunto-me, então: – Será que nós, descrentes, é que somos anormais, doentes? Ou os outros é que são os sadios?. Por quê? Para mim, crer ou não crer não é a questão fundamental do ser humano. Se houver uma questão fundamental para o homem é a liberdade, a busca, Por isto é que hoje a ciência deita e rola sobre a religião e a filosofia, as outras duas estradas do saber (na verdade, uma só: a estrada da emoção e dos sentimentos). Entretanto, no passado e ainda hoje, elas são reservas de esperanças, dos mais encantados desejos de que venham a mostrar ao homem a salvação.

Sem fugir ao assunto, digamos que mito é “uma imagem simplificada de pessoa ou acontecimento, não raro ilusória, elaborada ou aceita pelos grupos humanos, e que representa significativo papel em seu comportamento” (Dic. Aurélio, pg. 1143, item 7). Misticismo é a atitude de fuga do homem ao enfrentar o desconhecido, quando normalmente agarra-se a um mito. É que, envolvendo-se com drogas ou sem elas, dentro do próprio cérebro afloram imagens da sobrevivência do homem noutra esfera, depois da morte. E surgem os dogmas.

Morrer! Ninguém se conforma com a morte, seja materialista ou espiritualista. O fim. Isto é que é o absurdo. Por que o homem não se conforma em ter um fim, se tem certeza que tudo tem um fim, ou uma transformação radical? É o orgulho. A respeito, Alexandre Herculano já dizia: “Orgulho humano, qual és tu mais: feroz, estúpido ou ridículo?” Esse orgulho vem da nossa essência animal, mesmo que um animal diferente. As emoções comandam nosso ser. No homem, quase tudo é emoção e alguns sentimentos. O amor, por exemplo. “O amor tem razões que a própria razão desconhece”, declina a sabedoria popular. E diz tudo. O misticismo tem uma dose imensa de emoção, acrescida de falsas razões, criadas para libertar-se do absurdo da morte. Mais uma vez, Camus nos adverte: “Adquirimos o hábito de viver antes de adquirir o de pensar. Nessa corrida que todos os dias nos precipita um pouco mais para a morte, o corpo mantém esta vantagem inalterável.” Em “O mito de Sísifo”, o filósofo disseca o absurdo e a inutilidade do suicídio, baseado no mito daquele que desafiou os deuses e por isto foi condenado a subir continuamente com uma pedra ao topo do rochedo, mas tão logo ia terminando a tarefa, a pedra rolava ao precipício, para tudo recomeçar: repetição inútil, eterna.

Assim é a vida. Assim, os mitos, os dogmas, as crenças e descrenças. Moralmente, nenhum homem se torna melhor por ter uma religião, por acreditar nisto ou naquilo. Nem a razão nem os sentimentos preenchem totalmente a vida. Com uma chave de ouro, assim Camus termina o livro já citado: “A própria luta em direção aos cimos é suficiente para preencher um coração humano. É preciso imaginar Sísifo feliz.”.



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Francisco Miguel de Moura, escritor, membro da Academia Piauiense de Letras – PI, da União Brasileira de Escritores – SP e da Associação Internacional de Escritores e Artistas - EUA





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