Arder, é bom, quer na emoção que provoca a brusca alternância dos nervos, quer na esplendorosa suavidade das sensações agradáveis: ardemos sem darmos por isso. É magnífico, pois é?!
Mas, aqui e nesta vertente, o "arder" é outro, ou melhor, é outra: trata-se de Milene Arder, uma prolífera escritora de prosa e poesia na nossa Usina (é nossa, é!). Estou a considerar uma pessoa (que escreve) cheia de defeitos e de virtudes, muito além daquele letárgico quotidiano da sensatez hipócrita, essa grilheta que finge que é livre e está permanentemente agrilhoada em si mesma. Estou a tentar traduzir uma personalidade que dá luz após ser tocada pelos polos negativo e positivo da nossa paradôxal existência, magnífica e cruel, inclusive, tem a particularidade "sui generis" de dar luz por si mesma; acende e apaga o seu próprio interruptor como bem lhe apraz ou lhe dá na gana. Não tenho, como soi dizer-se, o prazer de conhecê-la pessoalmente e com a sua obra o contacto é exíguo, mas pelos pingos de chuva "gelados-frios-mornos-quentes" a que tenho metido miolo, não me escondo atrás da porta para afirmar que leio uma escritora e poetisa (parece-me que ela não gosta muito que a designe assim)de excelente qualidade, cujo currículo na sua exacta extensão não conheço, mas que não evita que lhe reconheça, na área que abordo, capacidade e mérito reais. Quando for mais longe com os olhos sobre as suas letras, parece-me que irei dar de caras com um estilo que não se amolda dentro do "cassetismo" que posa de mão no queixo ou põe colar de pérolas para tirar a fotografia, defeito e virtude onde Deus e o Diabo se misturam esplendidamente; claro, a Milene, presumo, sabe de pele que um e outro se escrevem com "D".
A Usina não é adequada para expor textos longos e eu já me alonguei um pouco. Disse entretanto só um nadinha do que sinto sobre Milene Arder, "aos ventos que passam"!
Eugénio Bragal |
