O SENTIDO DA VIDA
Medeiros Braga
Só de sombra e água fresca
A vida já não reluz.
Não fechemos nós a flerta
Que à luta nos conduz.
É vergonhoso o deleite
De quem quer “rios de leite
Co”as barreiras de cuscuz”.
É bonita a natureza,
A prata solta ao luar,
O galo que cacareja
Bem pertinho do pomar.
Como é bonito os arminhos
E o canto dos passarinhos
As asas ruflando ao ar.
Romântica é a paisagem
Que na serra descortina,
O sol aromando a aragem
Na sua hora vespertina,
O jardim com belas flores
E a vida, com mais amores,
Radiante e cristalina.
É bom viver os momentos
De prazer e de alegria,
São saudáveis os proventos
De uma face que sorria,
Mas, para um feliz avanço,
Só deve dar-se o descanso
Depois que se luta o dia.
Não se deve encher a vida
De ilusão e fantasia,
Não pode ela ser sentida
Nas fanfarras da poesia.
Façamos, pois, uma pausa
Transformando nossa causa
Na mais nobre estrela-guia.
A vida só tem sentido,
Para quem tem consciência,
Se todos, de peito erguido,
Imporem-se com veemência
A tantas desigualdades
E à falta das liberdades
Negadas na sua essência.
Vamos todos nós poetas,
Em um sonho bem maior,
Lutar, e vencer as retas,
Em prol de um mundo melhor
Para quebrar, do massacre,
A algema que forma o lacre
E torna tudo menor.
Façamos do nosso verso
A mão voltada ao caído,
O instrumento do processo
Que só estimula o vencido.
O livro aberto que ensina,
Na luta, a lição divina
De todo povo oprimido.
Essa é a grande missão
Que merece ser seguida
Pelos poetas que estão
Comprometidos, em vida,
Pela conscientização,
A trabalhar a nação
Que deve ser construída.
|