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Infantil-->A boneca de pano -- 15/04/2018 - 10:26 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos







Os gêneros literácute;rios não morrem. 
Passam pela metamorfose da evolução do homem 
e do mundo. Eclodem e tornam-se eternamente vivos.
 
 
Tinha sete anos, e  se lembra de quase todas as estórias que sua avó contava.  A avó passava a mão na cabeça da netinha e dizia: ‘Durma, Princesa, durma... Vou retirar os monstros dos teus olhos. Pode dormir agora. Eles jácute; se foram!’  
Dormia, não sem antes reclamar: “Eles estão voltando, vovó! Os monstros estão em meus olhos e não me deixam dormir. Conte uma estória!”

— Posso contar outra vez A Lagoa Encantada?
— Não, aquela não! Tenho medo da carimbamba.
— Jácute; contei todas  que sabia!
— Pode ser inventada, vovó!  Pode ser inventada.
— Todas as estórias são inventadas, minha filha!
— Então invente uma!

E Corina contou:
A fada da sabedoria foi convidada para um congresso que deveria acontecer, nos primeiros dias de vida de uma pequena formiga albina. A formiga seria um fardo para o formigueiro, por isso, deveria ter sido arrancada e jogada fora, quando ainda ovo. O destino da pequena formiga estava prestes a transformar-se num exílio de vida ou numa pena de morte, mas, por sorte, a fada madrinha postou-se no meio da assembleia e vaticinou: ‘Esta menina serácute; frondosa como uma palmeira, e quando soprar o vento Norte, navegarácute; os sete mares e serácute; muito aplaudida. O som de seu trompete serácute; um acalento para a alma de quem dela se aproxima, e toda a Terra conhecerácute; seus feitos. ’ 

Houve profundo silêncio, no mundo encantado das formigas, em seguida, a rainha decretou:  ‘A partir de agora, a formiga albina se chamarácute; Beethoven. Providenciem a orquestra, organizem o espetácute;culo, quero ouvir o último momento da quinta sinfonia. ’

— Beethoven existiu de verdade, vovó?
— A formiga Beethoven, só existiu na imaginação de seu criador, mas o compositor existiu. A nova sinfonia de Beethoven, por exemplo, faz um bem enorme a minha alma. Por certo, minha filha, gerações futuras, haverão de usar a boa  música para estimular o cérebro humano a se reorganizar.

Teve vontade de dizer que o menino Davi tocava harpa quando, o rei Saul se sentia perturbado por maus espíritos, e logo que Davi tomava a harpa, Saul acalmava-se, sentia-se aliviado e o espírito mau o deixava.   Pareceu que a avó falava de um menino sem parte do cérebro, que  aprendeu a ler e a escrever, ouvindo músicas. Mas, como  poderia saber de Herman, se ele ainda  não nasceu? Como saber se não serácute; abortado?  Muitos morrem antes de nascer!... 

Como morre uma pessoa antes de nascer, a boneca de Ravenala  não compreendeu. Talvez Corina falasse de seu filho Ludovico que tinha  um buraco no cérebro, viveu sete anos e aprendeu a tocar cavaquinho.  Ou falasse mesmo de Beethoven! Não necessariamente da formiga, mas do alemão filho de dona Magdalena. 

— Beethoven tinha um buraco no cérebro?
— Não! Ele tinha um cérebro privilegiado.
— Não entendi.
— Desculpe-me, Maria Emília! Esqueço que sua cabeça é de pano.
— Branquela!
— Cuidado com o preconceito racial. Em nosso país, isso é crime. Também é crime quebrar um ovo de tartaruga, mas é permitido matar um feto humano.
— Maria Emília... Maria Emília... Alô, alô...

O diácute;logo interrompeu-se como se a operadora móvel houvesse derrubado a linha, deliberadamente. 
Passos arrastados aproximam-se do quarto. 
— É vovó! Finja que dorme!...
— Jácute; estou fingindo.

O trinco deu um estalo e a porta do quarto se abriu. Corina vê Emília embrulhada em panos de dormir. E o telefone fora do gancho, como se fora atirado com ímpeto ao chão.

— Não se ponha o sol sobre a tua ira, disse Ravenala, ao perceber que Emília estava zangada.
— Conversando com nuvens roxeadas, minha filha?
— Não, vovó! Emília estácute; aborrecida comigo.
— Por que Emília estácute; brava contigo?
— Dei uma palmada no bumbum dela.
— Amanhã pedes desculpas a Emília!
— E se não houver amanhã? Se o sol tiver preguiça de acordar? Tenho medo do escuro!
—É necessácute;rio que o dia velho descanse e desperte renovado. É preciso que o galo cante três vezes para despertar o homem que dorme. 
 — Não deveria haver noite! Vultos vagueiam. Vampiros e lobisomem passeiam na escuridão.
— Isso é lenda!
— A carimbamba também é lenda? Tenho medo da carimbamba.

A lenda se constrói com retalhos da realidade e jácute; não se sabe mais onde termina uma e começa a outra. Muitas vezes,  a ficção avança os muros da realidade ou a realidade penetra o labirinto da ficção. O que hoje é ficção, amanhã pode ser realidade. A ficção é uma verdade que ainda não aconteceu.
Ravenala insiste.

— A carimbamba existe?
 — Quando se acredita numa coisa, ela passa a existir de verdade. Mas a carimbamba só existe em teus medos. E agora que se casou com a mocinha camponesa, o encanto foi quebrado.
— E a velhinha?
— Bem, a velhinha faz parte da técnica utilizada pelo autor, para que a história nunca acabe, continue viva e passe de geração para geração. A ficção mostra-se  tão real, que  personagens dos contos de fadas saem dos livros e vão morar em mundos reais, como a tua  boneca. Sabe de onde ela  veio?
— Emília  me falou que seu pai era  um homem bom, e foi preso, porque escrevia livros. Se eu escrever um livro, também serei presa?
— Não dê crédito a tudo  que diz uma boneca. Agora, durma, Princesinha.

Corina retirou-se. Seus passos lentos se afastavam, até desparecerem do alcance auditivo da neta.

— Pode acordar,  Emília! A vovó jácute; foi.
— Quero dormir e não consigo!
— Conte carneirinho.  
— Não sei contar carneirinho...
— Conte assim: Um, dois, três...Galinha pedrês...Quatro, cinco, seis...Tem ovo no indez...
 Zzzzzzzzzzzzzzz...
— Emília, Emília!...
Zzzzzzzzzzzzzzz...

***
Adalberto Lima, trecho de Estrela que o vento soprou.




Adalberto Lima


Enviado por Adalberto Lima em 15/04/2018



 



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