Quando Jesus veio ao mundo,
Um sentimento profundo
De respeito superior
Envolveu todos os seres
E os convocou aos deveres,
No cumprimento do amor.
Os fenômenos mediúnicos,
Por si mesmos sendo únicos
De acordo co a natureza,
Também causaram respeito,
Mas de diferente jeito,
Em virtude da estranheza.
Jesus falou da bondade;
Kardec, da caridade;
Ambos, do respeito à Lei.
Até hoje, a gente boa,
Muitas vezes, fala à toa,
Sem ser ouvida da grei.
Não seremos os primeiros,
Pois já houve pioneiros
A demonstrar o outro plano.
Na linguagem deste mundo,
Há quem diga: — “Eu me confundo.
Com tão rude desengano!
— “Onde está o Paraíso
(Estou perdendo o juízo)
Que Jesus nos prometeu?
Esse tal de Espiritismo
Diz que tudo é só abismo:
Mais parece ser ateu!”
Na verdade, é mui difícil
A tese de um mundo físsil,
Na disjunção de outra vida.
Acredita a criatura
Que, para se tornar pura,
Basta vencer uma lida.
Alguns pensam que Jesus,
Por ter morrido na cruz,
Salvou toda a humanidade;
Que basta só ir à igreja,
Pois tal sacrifício enseja
Que se elimine a maldade.
Ingênuos, pobres, coitados,
Vão ficar desesperados,
Ao chegarem cá no etéreo.
Quiseram o bem eterno,
Mas enfrentarão o inferno,
Sem resolver o mistério.
Quem quiser desenvolver
Sobre a matéria o poder
Há de ser condescendente,
Compreendendo que Jesus
Se dependurou na cruz,
Para dar exemplo à gente.
É pela mediunidade
Que o Mestre nos persuade
Da existência de outra vida,
Que consiste, exatamente,
Em nada ser diferente
Da que for interrompida.
É que a pessoa de agora
Nem melhora nem piora,
Por passar do outro lado.
Acentua-se a tendência,
Fica mais clara a prudência
E o setor degenerado.
No mundo espiritual,
Cada qual com seu igual
Vai compor a sua turma.
No silêncio ou no barulho,
Na alma se dá o mergulho:
Não existe aqui quem durma.
Eis o motivo da dor:
É dado o justo valor.
Não existe falcatrua.
Quem estava acostumado
A deixar o bem de lado
Aqui se contorce e sua.
Como evitar o perigo
E conseguir um abrigo
Das terríveis represálias?
Fazendo o bem desde já.
Pois, no jardim, rosas há,
Mas há também muitas dálias.
Deus é pai mui generoso:
Quer que o povo sinta o gozo
Da total felicidade.
Mas, a fim de que a mereça,
É preciso que ofereça
Tudo o que tem, com bondade.
Para completar as lavras,
Empregando outras palavras
Com sentimento atual:
É preciso compreender
Que ninguém tem o poder
De vencer, usando o mal.
Pode até ficar mais rico,
Pondo o povo de burrico,
A carregá-lo nas costas.
Cá no etéreo, é outra a fala:
Quem mandava ora se cala,
Para não ser feito em postas.
— “Somos muito generosos!” —
Dizem imersos em gozos
Os que oprimem mais o povo,
Esquecidos que a justiça
É vento que o fogo atiça,
A queimar a alma de novo.
Deixemos de hipocrisia
Na leitura da poesia,
Como não fosse p ra nós.
É no mesmo caldeirão
(Diremos todos que não?)
Que uniremos nossa voz.
Eis o nosso testemunho,
Que mais parece um rascunho
De um sermão demonológico.
Mas a verdade é bem essa:
Veja se ao dever se apressa,
Se julgar o verso lógico.
Vemos que a bandeira é branca
E que o nosso horror se estanca,
Ante comovido pranto.
Com sincero sentimento,
Mais se abranda aquele vento
E se cobre a alma de encanto.
Corramos pois com a fúria.
Pelejemos contra a incúria.
Despojemo-nos do mal.
Oremos com muito amor,
Estejamos onde for:
Salvar-nos será normal.
Se você ficou zangado
Com a turma do outro lado,
Que trouxe a sopa sem mel,
Pense estar nalguma peça
Onde a platéia lhe impeça
Desempenhar seu papel.
Vamos cá reencontrá-lo
Para meu e seu regalo,
Em futuro sempre certo,
Após algum sofrimento
Ou duríssimo tormento,
Mas sempre de peito aberto.
Então, iremos folgar,
Passeando à beira-mar,
Em tertúlias filosóficas,
Planejando outra existência,
Com total clarividência,
Sem passagens catastróficas.
Lembraremos a poesia
Que odiamos certo dia,
Por nos dizer a verdade,
Tendo triste o sentimento,
Por não amainar o vento,
Como se fora impiedade.
E pediremos a Deus
Jamais dizer-nos adeus,
Firmando nossa amizade.
Sob o manto de Jesus,
Todo o mundo se reduz
Num facho de claridade.
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