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Artigos-->O Rabo do Cachorro -- 23/01/2002 - 21:20 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NÓS, ELES E O RABO DO CACHORRO



As diversas experiências que a população brasileira tem enfrentado, ao longo das últimas décadas, no que se refere a pacotes e planos impostos pela equipe econômica dos tecnocratas de plantão, assemelham-se aos relatos de paixões, de traições, de esperanças, de desesperanças, e de frustrações, enfim, e de tantos outros frutos - doces e amargos - , que brotam do âmago de nossa condição humana.



No início do relacionamento há o processo de admiração, de encantamento pessoal. Os candidatos e as candidatas se atraem. Há o processo de escolha. As eleições. O namoro. Depois, a aproximação e o conhecimento maior. Mais adiante, as urnas, a escolha, a votação. As alianças e os eleitos. O casamento. A posse. As festas. As comemorações. A lua de mel.



As primeiras medidas são divulgadas e implantadas. Nascem os primeiros pacotes econômicos. Nascem os filhos. Começam a incomodar: filhos e pacotes, começam a andar, aos trancos e barrancos. Há quedas e há machucados. Todos se assustam,mas ainda têm esperanças, ainda ficam de pé e sacodem a poeira. Pois tudo aponta, por enquanto, para o paraíso. O tão sonhado futuro em que desejos e promessas serão cumpridos. Até que um dia, a realidade surge como uma tempestade. Ventos fortes, raios e trovões. Chuvas que derrubam árvores e inundam as ruas. O sol vai embora. As nuvens negras encurtam o dia. Isolam-nos em casa. Presos e angustiados é tempo de reflexão.



Os filhos não podem ir ao colégio. Não somente pela chuva; muito mais pelo tempo ruim. É que, este ano, a exemplo de anos anteriores, o número de vagas não foi suficiente para atender a todos. Algumas vagas, apenas, nos colégios particulares. Mas o preço da mensalidade é proibitivo. Pelo menos no que se refere à grande maioria de brasileiros. Para os desempregados, então, nem pensar. Ademais, estamos sem reajuste de salários há vários anos. E não há perspectivas de melhoras.



Começamos a perder a paciência. A encurtar o pavio. Qualquer coisa é motivo para discutir. As crianças, com a chuva e o frio, adoecem. A culpa é da esposa, que não fechou as janelas na hora da chuva. Mais brigas. Mais discussões. “- O governo também tem a sua parcela de culpa”, diz a mulher. - Concordo. Mas temos que fazer a nossa parte. As crianças não podem ficar doentes o tempo todo! “Vamos ao médico”.



Chegamos no hospital. Não existe atendimento hospitalar de urgência e de qualidade. No ambulatório, só com consulta marcada e, assim mesmo, para daqui a seis meses. “Seis meses? Até lá o vírus da gripe já morreu de falta do que fazer.” A solução é apelar para remédios caseiro. Chá de limão. De alho. De ambos.



O tempo vai passando. As dívidas vão se acumulando. Os salários continuam os mesmos, afrontando a inflação, que cresce devagar, esperando a hora de dar o bote fatal. Restrições no consumo. Já não dispomos de qualquer supérfluo para economizar nos gastos. O aumento dos juros, antes justificado para atrair investimentos estrangeiros, agora não tem mais explicação. Virou rotina. Coisa de viciado. É uma droga, dizem todos. A inadimplência é geral. Falta o gás e a comida escasseia. Sobram desesperanças e desarmonia.



As brigas vão ficando mais acirradas. Ressentimentos são realçados. O plano econômico e a família começam a ruir. O desinteresse do casal (e do governo) por tudo e por todos, passa ser a tônica do dia-a-dia. A vida se torna um inferno. Dentro e fora de casa. A separação parece inevitável.



Até que um belo dia, o sol reaparece. As nuvens negras vão embora. As ruas secam. Voltam as flores. Reacendem-se as esperanças. Um novo amor principia. Vem o Natal e, com ele, o apelo ao perdão. Mais um voto de confiança no futuro. Afinal, temos que pensar nos nossos filhos. E a vida continua.



E o ciclo se repete. Não se aprende com os erros. O mesmo título eleitoral. Os mesmos candidatos. As mesmas idéias. E tudo volta a girar no mesmo sentido, pelas mesmas coisas, nos mesmos lugares, até o próximo Natal. Tal qual o cachorro tentando morder o próprio rabo.



Domingos Oliveira Medeiros



23 janeiro de 2002 - Reavaliado



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