— “Denizard, amigo velho,
Vem decifrar o evangelho!” —,
Pediram-lhe seus amigos.
Eram cinqüenta cadernos,
Com conceitos bem modernos:
Haveria ali perigos?
Abriu-se tal perspectiva
Que essa mente tão ativa
Embrenhou-se na missão.
Estudou todo o mistério,
Descobriu que era do etéreo
Essa manifestação.
Dedicou a sua vida,
Até que a morte o convida
Ao plano superior.
Deixou seis obras completas,
Alcançando suas metas
De o Espiritismo compor.
Desde aí, não há motivo
De se dizer: — “Eu duvido
Que haja vida mais além.”
Tudo foi tão explicado,
Que, ao chegar ao outro lado,
Já não se espanta ninguém.
Mas a igreja estava atenta
E muitas razões inventa,
Para iludir todo o povo.
Trouxeram até resquícios
Daqueles antigos vícios:
O inferno abriu-se de novo.
As idéias comunistas,
No fundo, materialistas,
Fizeram a sua parte.
E, no mundo ocidental,
Começou o grande mal,
Sob o comando de Marte.
Transferiu-se o Espiritismo,
Quase perdido no abismo
Da perversidade astuta.
Sedimentou-se na terra
Em que havia horror à guerra,
Mas seguiu em sua luta.
Hoje a Doutrina se estende,
Mas o povo não compreende
Os dizeres filosóficos.
Ainda quer os sinais,
Fogos-fátuos, nada mais,
Em anseios catastróficos.
Os espíritos, porém,
Em incansável vaivém,
Mantêm aberto o canal:
Mediunismo desenvolto,
O intercâmbio está mais solto,
Mais fácil e natural.
Aguardemos que o futuro
Seja breve, nesse apuro
Da sociedade civil.
Inda agora, infelizmente,
Grande parte desta gente
Passa fome no Brasil.
A miséria não permite
Que o povo leia e medite
Sobre as lições de Kardec.
Mas existem corações
Que entendem nossas razões
E impedem que a fonte seque.
Eis aí, resumidinho,
Com muito amor e carinho,
Nosso conceito da história.
Viemos bem devagar,
Sem querer impressionar:
Não há razão p ra vanglória.
A fase atual é triste,
Mas o etéreo não desiste
De estar do povo bem perto.
Com Moisés, foi bem assim.
Com Jesus, até o fim,
Foi pregação no deserto.
Com Kardec, a história muda:
Muita gente agora estuda
O evangelho e sua lei,
Sem desviar do princípio,
Deixando de lado o vício
De querer ser mais que o rei.
Vamos rogar a Jesus
Que nos envie mais luz,
A iluminar o caminho
Por onde iremos passar,
Para alcançar o lugar
Em que não mais haja espinho.
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