ESPECTRO
Percorro, avidamente, os quatro cantos da casa,
mas não há mais ninguém a me fazer companhia.
Mesmo assim não estou só, há algo além...
Além de todas as presenças,
suplantando todas as ausências.
Teu espectro está comigo.
Aqui, bem junto a mim, quase posso tocar-te.
Meus sentidos aguçados captam teus sinais.
Minha pele desdobra-se em expectativas de sentir-te.
Meus olhos inocentes,
insatisfeitos da cegueira de não ver-te,
piscam por ciscos que vento algum trouxe.
Minha boca, em repouso relativo,
queixa-se da falta da tua,
de teus dentes brancos demais,
de teu sorriso pacificador,
de lábios nutritivos, alimentares,
elementares em seu poder de saciedade,
de onde tiro minhas forças para permanecer sem ti.
Minhas narinas, impregnadas de teu cheiro,
reconhecem teu perfume à distância,
e se arreganham, como que para poder deixar penetrar mais
e mais desse aroma confortante e conhecido.
Meus ouvidos, de tímpanos temperamentais,
só escutam teus sons, teus ais,
teus sussurros obscenos,
teu soprar úmido e quente,
tua respiração ofegante de querer-me.
Meu corpo todo responde a teu espectro,
e tu estás aqui, ocupando teu lugar junto a mim,
deitando teu corpo sobre o meu,
abraçando meus abraços com carícias,
beijando minha nuca com delicadeza,
fingindo não perceber minha fome
e, mesmo assim, inundando-me de ti,
derramando-me amor, fazendo-me tua rainha.
Lílian Maial
http://www.geocities.com/lilianmaial
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