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Artigos-->JOANYR DE OLIVEIRA - BIOGRAFIA E ANTOLOGIA -- 14/12/2009 - 09:05 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
JOANYR DE OLIVEIRA – Biografia e Antologia:





Francisco Miguel de Moura*



Escritor pioneiro de Brasília - Joanyr de Oliveira, nascido aos 6 de dezembro de 1933, em Aimorés, MG, e falecido em Brasília, recentemente (05-12-2009), a notícia me pegou de surpresa. Na manhã do dia 6 de dezembro, abrindo minha caixa de e-mails recebidos, eis o que encontro uma nota de falecimento não mais nem menos que dele, nestes termos: De Linguagem Viva, em 05-12-2009, às 10,29 h

Para Francisco Miguel de Moura: “Tenho a triste missão de comunicar-lhe que o escritor pioneiro de Brasília, Joanyr de Oliveira, faleceu na manhã do dia 05, no Hospital Santa Helena em Brasília e será sepultado, no dia 06 (data em que completaria 76 anos), no Cemitério Campo da Esperança em Brasília. O corpo será velado na capela nº 3 do referido cemitério, a partir das 14 horas, e sepultamente às 17 h.Atenciosamente, Rosângela Trindade”.

Imediatamente, respondo: “Obrigado pela infausta notícia de meu amigo, grande poeta, Joanyr de Oliveira. Deixe-me dizer-lhe que mantive com Joanyr uma boa comunicação em cartas, troca de livros e impressões que muito me enriqueceram. Sua morte é uma grande perda para a literatura de Brasília e do Brasil, uma lacuna que demorará ser preenchida ou nunca o será, acredito. Cada pessoa de valor e cultura que falece é sempre irreparável porque jamais voltaremos a ter aquele prazer de comunicação com ela, salvo pelo lado espiritual, pois a lembrança e a saudade se vão juntas, salvo o que fica registrado em nossos papéis, livros e no coração. Peço que transmita à família enlutada, as minhas condolências”. Francisco Miguel de Moura.

Fiz a comunicação do falecimento do poeta, em 12-12-2009, na Academia Piauiense de Letras, lendo os dois e-mails, antes fazendo o prólogo de que, hoje, a poesia e os poetas são tão pouco divulgados que muitas vezes só se toma conhecimento deles, mesmo de importantes produtores e divulgadores da arte, quando morrem, e isto por muita sorte.

Havia recebido, recentemente, dois livros dele – um de poemas (uma espécie de poesia escolhida ou reunida, como se uma preparação para a morte) e outro de prosa contística, Arquitetura dos dias (Tesaurus Editora, Brasília, 2004), muito gostoso, que estou ainda terminando de ler. Não me lembro do nome do primeiro livro que me mandou há anos, quando iniciamos nossa amizade. Talvez fosse O grito submerso (1980). Fiz uma apreciação positiva, com alguma ressalva sobre sua filiação ao movimento modernista de 1945. O artigo foi publicado num jornal de Teresina, do que não mais encontrei cópia em meus recortes da imprensa.. Sem demorar muito, retribui-o com minhas obras. Outros livros me chegaram e passei a sentir sua evolução, com rapidez, para uma forma poética bem contemporânea, bem atualizada, com simbologia e metáforas às vezes desconcertantes pela novidade, em versos melódicos e vazados num estilo bem característico.

Bacharel em Direito, jornalista desde os 16 anos e analista legislativo (aposentado) da Câmara dos Deputados, depois de haver ingressado, também por concurso público, no quadro de revisores do Departamento de Imprensa Nacional (Rio, 1959), teve uma vida profissional bastante movimentada. Além de poeta, várias vezes laureado, escreveu crônicas e contos de ótima qualidade. Sobressaiu-se também como antologista. Organizou Poetas de Brasília (1962), primeira obra literária editada no DF, Antologia dos poetas de Brasília (1971), Antologia da nova poesia evangélica (Rio, 1978), Brasília na poesia brasileira (Rio, 1982), Poesia de Brasília (Rio, 1998); Poemas para Brasília (2004) e Horas vagas, contos (1981), o que significa que foi um dos maiores divulgadores dos poetas de Brasília, sem dúvida.

Na sua obra poética individual constam os seguintes livros: Minha lira, Rio, 1957; Cantares, Rio, 1977; O grito submerso, 1980; Casulos do silêncio, Rio, 1982; Soberanas mitologias e A cidade do medo, Anaheim, CA, EUA, 1991; Luta a(r)mada, id., id., 1992; Flagrantes Líricos, Buffton, OH, EUA, 1993; Pluricanto - trinta anos de poesia, 1996; Canção ao Filho do homem, Rio, 1998 e 2000; Vozes de bichos (infanto-juvenil), Rio, 2000 e 2002; Tempo de ceifar, 2002; A hora de Deus, Jaboatão, PE, 2002; 50 poemas escolhidos pelo autor, Rio, 2003; Por que chora a chuva? (infanto-juvenil), Rio, 2005 e (no prelo) Antologia pessoal - 7 e Biografia da cidade. Prosa: O horizonte e as setas (contos, em parceria com Anderson Braga Horta e outros, 1967), Caminhos do amor (contos, Rio, 1985), Entre os vivos e os mortos (romance, Rio, 1985).

Participa de várias antologias (poemas, contos, crônicas) e outras publicações, no Brasil e no exterior: Argentina, Canadá, Espanha, EUA, França, Índia, Itália e Portugal.. Membro de academias e outras entidades culturais. Residiu em Vitória, Rio, São Paulo, Goiânia e cidades do interior e nos Estados Unidos (Nova Inglaterra e Califórnia).

Muito mais teríamos que colocar em sua biobibliografia, pois decerto publicou muito na imprensa e deixou outros livros inéditos. Mas, passamos a registrar algo que também foi importante na sua vida – o ministério religioso. Era evangélico. São algumas palavras e informações do pastor Antônio Mesquita, datadas de 6 de dezembro do corrente ano:

“Pastor Joanyr de Oliveira partiu para a Glória, neste sábado, e será sepultado hoje (domingo), quando faria aniversário, às 17h, em Brasília. Sempre foi homem aplicado, literato, politizado e verdadeiro intelectual. Como tal, amava a poesia. Durante seu contrato de trabalho no Rio, quando editou o livro História Ilustrada das Assembléias de Deus no Brasil (CPAD, 1997), tive a oportunidade de conviver determinado tempo com ele. Também o ajudei na correção do texto do livro e cheguei a visitar, com ele, a Biblioteca Nacional, onde buscava informações para a referida obra. Natural de Aimorés (MG), 1933. Casou-se em 1959, no Rio de Janeiro, durante sua permanência na CPAD, com a colega de redação, Nelcy Ferreira Guimarães. Em 1960, foi para Brasília, onde prestou concurso e tornou-se revisor da Imprensa Nacional. Foi escritor, poeta, pesquisador, advogado, jornalista, intelectual, literato, conferencista e exímio orador. Durante sua experiência profissional na área de comunicação, passou por Vitória, São Paulo, Goiânia, Rio de Janeiro e em Brasília, onde foi redator da Rádio Educadora, revisor do Departamento de Imprensa Nacional e funcionário da Câmara de Deputados e membro de inúmeras entidades culturais, como a Academia Evangélica de Letras do Brasil, União Brasileira de Escritores de Goiás, da Associação Goiana de Imprensa, da Academia de Letras do Brasil, do Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal, Associação Nacional de Escritores, Academia Taguatinguense de Letras, Academia de Letras de Brasília, International Writers and Artists Association (IWA), Academia Interamericana de Literatura e Jurisprudência. (...) Depois de aposentar-se como Técnico Legislativo da Câmara dos Deputados mudou-se em 1988, para os EUA, onde atuou como pastor em Boston, Hartford, Santa Ana e Anahaim. retornando ao Brasil em 1994. Na editora assembleiana – CPAD – ele construiu história e patenteou seu nome. Começou ainda garoto e chegou a diretor de publicações e fundou as revistas A Seara, Jovem Cristão (extintas) e O Obreiro (atual Manual do Obreiro). Ministro respeitado por seus conhecimentos, sempre se manifestava nas reuniões convencionais da CGADB. Na última delas, divulgou uma verdadeira obra literária, que lhe rendeu o reconhecimento de todos, sob o título Minha Assembléia de Deus. No texto criticou as mudanças sofridas pelas ADs no Brasil, no decorrer dos anos, exaltando a postura da igreja, como referência e escola no meio cristão pentecostal”.

Que sua poesia continue “singrando o ar e a vida”, disse Jorge Amado. “A poesia de J.O. é merecedora da estima dos bons leitores” – Carlos Drummond de Andrade. “Riquíssima temática, senhor da língua em geral e da poética em particular. Sou seu admirador, agora que tenho a alegria de conhecê-lo e os seus versos. Suas elegias são pungentes, seus poemas a Brasília são intrinsecamente belos paradoxos, pois ressaltam o criticável socialmente para, apesar disso, louvar a sensível beleza da obra feita e in fieri”, disse Antônio Houaiss.



POESIA (Nossa seleção):



O EU CENTAURO



O vento esculpe na nuvem

o meu eu todo centauro.

Nele me encanto. E o cavalgo,

vou trotando sobre o tempo.

As patas sobre o azul

jorram sendas, luminares.

Alimária e seus mistérios

imersos na Grécia antiga,

a renascer fulgurante

das constelações e do

ventre côncavo da lenda.

Bebo assim mitologias

a desaguar nas alturas.

A somar bailado e canto

das mil tribos submersas

no negro mar da memória,

de candentes epopéias,

sou as crinas tremulantes

e o retinir mais agudo

dos cascos enluarados.

O vento beija-me o corpo

em rodopios, no espaço.

Dois olhos resplandecentes

entre luas apagadas

espraiam meu níveo rosto

neste trotar de centauro.





CANTARES II

(Colóquio)



Pelas pisadas dos rebanhos

na quietude do outono,

Deus espraia o mel de Sua voz.

Ouvi, ó tendas de pastores,

rodas de carros faraônicos,

eqüinos revestidos de auroras.

Tranças debruçadas no silêncio

somam-se à bondade das videiras

e aos cachos bailarinos da seara.

No dorso intangível da solidão

Deus espraia o mel de Sua voz.





O MENINO MUTILADO



Bagdá, seis de abril, domingo.

No subúrbio de Diala,

um menino chamado Ali Abbas

perdeu as mãos e o sonho.

O coração do mundo contraiu-se

ferido pela imagem enfática.

Seus pais se desintegraram

nas profundezas do sono.

Com que sonhariam no instante

em que o míssil desvairado

saltou sobre as velhas telhas

e o assombro total das paredes?

Os pais de Ali Abbas talvez

no seu amplo tapete onírico

navegassem o branco da paz.

O sonho, ingênuo e sem olhos,

não situa as portas detonadas.

O míssil de nome Tomahawk

bradou "não" e "não", e categórico

fez da casa sombras e ruínas.

Devorou falanges, falangetas,

os braços, o amanhã e o sorriso

do guri sonhador Ali Abbas.

Comovido indagou Ali Abbas:

"Quem sabe poderias trazer-me

meus dois braços de volta?"

As lágrimas envoltas no silêncio

afagaram as palavras do menino

e odiaram o míssil e seu ofício

de antropófago no céu de Bagdá.





ESCRÚPULO



Deito o poema na aragem,

longe dos sacrilégios.

Os vassalos do metal,

os abismos, os delírios,

os tímpanos de pedra e cal,

as destras mãos na rapina

e as sinistras nos fuzis,

os decibéis desvairados

com quatro pedras nas mãos,

as volúpias dos cifrões,

os parlatórios e fossas,

as fomes palacianas,

os lobos condecorados

pelos guantes do Sistema

não fazem jus ao poema.



NEW YORK CITY



Os altos ponteiros da noite

apontam exaustos para o céu.

A chuva choraminga e cai

nos pés da Quinta Avenida.

Um negro talvez do Harlem,

rouca voz angelical,

oferta o reino de Deus.

Judeus de barba e casacos

em três manadas de espantos

a derramar-se na esquina.

Trinta passos saltitantes

a expor com jeito os trejeitos

contra vitrinas e nomes.

Um rio a jorrar piranhas

sobre o passeio apinhado.

A Estátua da Liberdade

matreira sorri no escuro

do topo de sua glória

e eis "The New York Times"

a pontificar soberbo

para reinos e universos.

Fumaça apunhala o ar,

conduz o peso das vidas.

Sonhos flutuam seus braços

em altas viagens brancas.

Passam passos de Al Capone,

passam dráculas.

Passam lânguidos

sobre fantasmas de bondes.

Há mortos embriagados.

Casais de corvos de Pöe

escarnecem da Lei Seca.



***



(Minas Gerais nem suspeita

deste doido mundo esconso.

Juntinhos na madrugada,

seus profetas ressonam...)





___________________

*Francisco Miguel de Moura, poeta brasileiro, pesquisou e coligiu os dados para esta biografia e fez também a seleção dos poemas extraídos de vários saites de internet: jornal de poesia, antonio miranda, etc.

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