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Cronicas-->Exílio 2.002 -- 30/06/2002 - 06:27 (CARLOS CUNHA / o poeta sem limites) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Era um domingo pela manhã.
Ele tinha certeza de que como ele, em muitos dos milhares de parques espalhados pelo Japão, havia mais brasileiros sentados para ler os seus livros ou somente para relaxar e tirar o estresse do cansaço adquirido numa semana de trabalho duro que tiveram.
Era uma manhã fechada. Chovera durante toda à noite e agora que a chuva parara, com a vinda do amanhecer, o sol relutava a sair.
Parecia que até a natureza entendia o que se passava com aquele homem.
Ele, sentado com o seu livro aberto e sem conseguir lê-lo, divagava inconsciente da dor que sentia.
Tanto tempo fazia que ele deixara a sua Terra.
Tão distante estava das pessoas que tanto amava, que tanta falta lhe faziam e que ele não deixava de pensar nunca em seu exílio.
Era o ano de 2.002 e ainda existiam brasileiros exilados. Eles eram os exilados financeiros.
O governo brasileiro havia permitido a volta dos exilados políticos, há anos atrás, mas o fim do exílio foi somente uma utopia.
Democracia, liberdade, direitos adquiridos. Balelas em uma Terra em que o povo conhece a fome, a ignorància e o descaso de seu governo.
Uma Terra onde o serviço de saude é precário, a segurança não existe e a educação é restrita, para alguns poucos favorecidos.
Ele estava sentado naquele parque e pensava no jogo de futebol que iria haver dali a algumas horas (era esse o domingo da final do campeonato mundial na Ásia).


Seria, o Brasil campeão?
Se fosse, não faria ele mais do que a sua obrigação?
Não seria, por acaso, obrigação daquele time ser campeão. Do Ronaldinho fazer gols para merecer o salário que ganha, não em real mas em dólares, enquanto milhares de brasileiros passam fome?
Não seria importante para o governo brasileiro essa vitória?
Mais importante ainda se acontecesse próxima as eleições presidenciais?
O povo estaria alienado festejando e deixando de pensar em seus problemas e em suas desgraças.
Uma festa barata para os cofres públicos, com o povo iludido por uma conquista esportiva, cantando muito samba e tomando muita cachaça, que viria a calhar.
O povo precisa de carnaval, futebol e samba. Precisa receber isso, em grande dose, para ser mantido longe da consciência política e continuar a ser iludido e enganado por seu governo.

Uma lágrima caiu sobre o livro aberto em sua frente.
Sim, ele chorava.
Chorava a dor da saudade da Terra que há anos não via, a ausência dos parentes e amigos que tanto amava e que dificilmente veria novamente.
Chorava porque amava o Brasil, e principalmente, porque politicamente sentia tanta vergonha de ser brasileiro.



CARLOS CUNHA
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