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Contos-->O COICE DA MULA -- 25/08/2002 - 15:50 (Edmar Guedes Corrêa****) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O sítio do Sr. João ficava aproximadamente dez minutos da Fazenda Santa Rita. Entre o sítio e a fazenda havia uma pequena estrada. Saindo de Santa Rita, havia um trecho em aclive, depois uma parte sinuosa e, pouco antes de chegar ao sítio, um acentuado e sinuoso declive. Uma porteira de madeira determinava os limites entre dos dois visinhos. Muitas vezes ela estava aberta, dando livre passagem.
Além de ir ao sítio do Sr. João quase todos os finais de semana, Carlos também ia durante a semana levar algum recado ou buscar alguma coisa. Dificilmente ele passava um dia sem ir ao visinho, amigo de seu pai. Ainda mais porque a distância entre eles era pequena.
Sr. João vinha até a fazenda Santa Rita trazer o seu leite para embarcar no caminhão para a Cooperativa. Quando não atrasava, o caminhão passava por volta das nove horas. Então embarcavam as latas cheias e descarregavam as vazias. Sr. João amarrava as latas vazias na mula e voltava para casa.
Vez ou outra o Sr. João trazia o leite e deixava a mula na fazenda, principalmente quando o caminhão leiteiro atrasava. Mais tarde alguém levava a mula de volta ao sítio. Na maioria das vezes, Carlos ficava encarregado de levar o animal de volta.
Era uma tarefa simples. Ainda mais se levando em conta que a mula já conhecia o caminho de volta. Portanto nem era preciso acompanhar a mula; ela sabia ir sozinha. Na verdade, acompanha-la era só por causa da porteira que poderia estar fechada.
Certo dia, como tantos outros, Carlos foi incumbido de levar a mula até o Sítio de Sr. João. Era um ensolarado sábado de setembro. E Carlos sentia-se desanimado, mas tinha que cumprir sua tarefa. Ainda era um garoto franzino de dez anos, todavia, tinha certas obrigações a cumprir.
Carlos pegou o açoite dependurado na dispensa e foi cumprir sua obrigação. Tocou a mula. Deu uma chicotada no ar para fazer a mula iniciar a marcha e partiram. Atravessaram a ponte e pegaram a estrada em direção ao sítio. A mula ia à dianteira e Carlos ia acompanhado-a de forma desanimada atrás. Sentia-se até um pouco irritado por ter que executar a tarefa com todo aquele calor. Seu caminhar era desanimador, expondo toda a sua preguiça.
Quando ainda estava na subida, ouviu o canto de um pássaro. Era um canto que nunca tinha ouvido. E o canto chamou-lhe a atenção. Por isso, resolveu para e escutar um pouco mais, a fim de tentar identificar onde se encontrava a ave que produzia tão belo canto. Aguardou um pouco. Quando já estava desistindo, ouviu novamente a mesma melodia.
Agora sabia de onde vinha aquele novo som, contudo, não conseguia avistar o pássaro. Ficou procurando com olhos atentos e aguardando na expectativa de que o autor daquela doce melodia a cantasse novamente. Aguardou mais alguns instantes, mas não ouviu mais o canto do pássaro. Frustrado, lembrou-se de sua tarefa e resolveu seguir o seu caminho.
A mula havia acabado de subir aquele trecho e, ao invés de seguir o seu destino, ficou a espera de alguém para conduzi-la. Quando Carlos aproximou-se, estava ela de pé, de olhos fechados, como se passasse por uma madorna.
Aborrecido e frustrado por não ter visto a ave cantante, aproximou-se da adormecida mula e, como se a mula fosse culpada de alguma coisa, desferiu-lhe uma chicotada nas pernas traseiras. A pobre mula assustada reagiu imediatamente levantando as duas patas traseiras e dando um coice certeiro.
Descuidado Carlos havia se aproximado demais do animal. O coice acertou-lhe bem na barriga. Sentiu uma dor muito forte. No mesmo instante, suas pernas ficaram bambas, e seus olhos escureceram e caiu de joelhos. Um sono incontrolável o dominou. Desmaiou.
Acordou algum tempo depois, sem saber quanto tempo havia transcorrido desde que adormecera. Estava muito confuso, sem saber o que realmente havia lhe acontecido. Seu estomago ainda doía. Todavia, não entendia a relação entre o coice e o desmaio. Ainda meio zonzo, ficou algum tempo tentando descobrir porque o coice havia lhe provocado tanto sono.
Depois, foi tomado por um medo terrível. Alguém poderia aparecer e encontra-lo deitado na estrada. Se aquele incidente chegasse aos ouvidos de seu pai, certamente levaria uma bela surra. Além do mais, o que iria dizer caso fosse surpreendido deitado ali? Por isso mesmo, ainda fraco e sentindo dor, levantou-se pegou o chicote do chão e principiou a caminhar lentamente em direção ao sítio do visinho. Então percebeu que a mula estava parada poucos metros adiante.
Com medo de que tivesse desmaiado por muito tempo, foi em direção ao animal. Sem se aproximar muito, novamente deu uma forte lambada nas pernas da mula. Agora sim, queria descarregar a sua raiva.
A mula atirou violentamente as patas para trás.
Dessa vez, porém, Carlos estava numa distância segura. Ele havia aprendido a lição muitas vezes ensinada por seu pai: nunca se aproxima demais por trás dos animais; eles podem se assustar e dar um coice.
O animal saiu em disparada com destino ao sítio. Carlos tentou acompanha-la, mas foi em vão. A mula era muito mais rápida. Ele pensou que talvez a porteira poderia estar fechada, mas nem isso. Quando se aproximou viu-a entreaberta. Trancou-a e virou para trás.

edmar.guedes.correa@bol.com.br
Jun/2002
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