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Contos-->MÉDICO VIRTUAL -- 24/08/2002 - 21:52 (Rose de Castro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

MÉDICO VIRTUAL

Jessica se dera conta de como estava sozinha. À sua frente apenas o computador e o silêncio da noite estendido na cama, como se estivessem esperando que ela os decifrasse antes do embalo final do sonho.
Ela se recusava a escutar sons tão bem conhecidos, queria algo novo, queria ouvir tons e cores, mas só assistia a comédia diária em preto e branco.
Entre um site e outro seus dedos ansiosos procuravam algo que preenchesse seu tédio manual e mental. Num relance de memória lembrou-se de uma amiga que lhe dizia sempre: “entra no bate-papo... vai ver... é divertido... há pessoas lá tão sós quanto você....” A verdade é que achava que tudo era uma grande mentira, mas não havia nada mesmo à fazer, então porque não navegar e viajar nas loucuras dos internautas?
Jessica entrou em uma das salas e, ainda tímida, escolheu um nick em letras pequenas, quase mínimo, sem o estardalhaço de letras garrafais, afinal não sabia o que fazer diante de tantas opções e nomes desconhecidos. Foi então que ele apareceu. Estava lá aquele nick que sua alma precisava. Algo como se a atraísse magneticamente, lhe animava à tentar.
- Olá... Fez um cumprimento inibido, mas desejoso que algo acontecesse. - Olá! – respondeu-lhe as letrinhas como que por encanto e para alegria da doce e insegura mulher com a alma desordenada, mas de coração bondoso.
Na tela Jess sentia aquela saudação meio fria de quem parecia desejar manter-se à distância em sua aparente cordialidade. Jessica ousou mais um pouco imaginando que um “Médico Virtual” já deveria ter milhares de pacientes como ela: ” Qual sua especialidade?”. Ele enrolou um pouco, continuou falando coisas para todos os internautas da sala, coisas profundas, coisas da alma... coisas que faziam-na refletir. Havia finalmente encontrado um porto seguro na navegação: alguém distante que não se importava com identificações, formas visuais, beleza exterior ou aquelas coisas básicas de todos os “normóticos” (essa era a palavra que ele costumava usar), apenas queria mostrar a que veio. Jess embarcou no Navio e navegou...
Os dias foram se passando e a presença daquele Médico misterioso (que na verdade não era inexistente porque estava sempre ali, orientando e dizendo-lhe a maneira certa de agir), faziam-na sentir-se grande e forte. Este era o resultado de cada conversa navegada em águas calmas e reflexivas. Águas contemplativas e seguras.
Por vêzes, ele se aborrecia com o fatalismo piegas e romântico dela e reclamava : - “Navegar é preciso, viver também é preciso...”, e insistia “ ... você não quer falar de coisas que te incomodam para que possa manter sem solução e justificar suas perdas...”. Seu tratamento era de choque. Um soco no estômago., mas não fazia mal à doce moça de cabelo de anjo e coração aberto. Aquele homem sem rosto e sem identidade havia lhe mostrado o que houvera se apagado em seu interior. Relembrava ,durante o dia, de suas palavras certeiras: “Não gostaria de falar mais sobre isso! Me desculpe, mas não estamos avançando, estamos andando em círculos, isso não é produtivo!”
Jess sabia exatamente cada palavra dita em suas conversas com “O Homem do Bem” ou o “Anjo da Inspiração”. Para ela não importava como se chamasse ou quem seria aquele Médico que despontou na tela do seu computador para dentro da sua caverna. Residência onde ela interiorizou e alimentou seus fantasmas e mesmo sem querer, os aconchegou.
Que horas seria agora? Jess não estava preocupada com isso queria apenas terminar sua carta para enviá-la ao Doutor... Mas, ao terminar perguntou-se: “Para onde? Que endereço? Qual seu nome?”. Jess suspirou saudade virtual. O Doutor nunca mais voltou. Cumpriu sua missão e partiu...



Jess debruçou-se sobre a carta e em voz alta e firme, olhou para o céu claro da manhã de outono e gritou, para que o vento levasse suas palavras até onde deveria chegar: “Obrigado, Doutor...”
Agora estava de pé em frente à um universo de água. Calmamente as ondas tocaram seus pés e serenou seu batimento cardíaco. Sabendo para onde leva o vento do mar, seu coração simples e crente fechou a carta e jogou ao vento assistindo a cor vermelha do papel se perder no imenso oceano, com a certeza que ele levaria seu agradecimento.
O dia estava nascendo. “Será um lindo dia de outono” – pensou Jess. E num momento poético fechou os olhos e fez uma prece para que de alguma forma o seu pensamento estivesse junto dele.
“Sua alma, neste instante, subiu ao céu...
A carta molhada descia ao mar... “
De algum lugar, ela sabia, ele haveria de escutar.
Doutor... – murmurou Jess – onde estiver, seu pensamento irá captar...

Adeus!


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ROSE DE CASTRO
A ‘POETA”

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