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Contos-->Eu num mono-motor -- 23/08/2002 - 23:20 (Rose Maura Fleixer) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Você já viajou de um mono-motor?, aqueles aviõzinhos pequenininhos que voam baixo e percorrem pequenas distâncias ?. Pois meu caro leitor, passei por uma aventura destas quando e onde menos esperava, tudo por uma simples carona.
Em janeiro de 2001, tendo que me deslocar a uma cidade do interior à cinco horas de ônibus de distância da capital, onde tinha que ministrar uma disciplina num campus universitário por período determinado, senti-me apavorada com o deslocamento. Primeiro porque detesto percorrer grandes distâncias de ônibus; segundo, porque o drama não era só a distância nem o ônibus caindo aos pedaços, mas também o trecho: todo de terra barrenta, escorregadia, cercada por abismos e com travessias por diversas "pinguelas" (aqueleas pontezinhas feitas de pau, sem nenhuma estrutara de engenharia e com a largura maior que um palmo do que a necessária para a passagem do ônibus).
Logo vê-se que não era à toa meu descontentamento.
Em conversa com um cunhado sobre a breve viagem que deveria fazer e das péssimas condições que iria enfrentar, este, por trabalhar no aeroporto e ter alguns conhecidos pilotos de aviões "mono-motores", daqueles que fazem fretes para cidades pequenas para levarem malotes, medicamentos e peças, lembrou que um dos pilotos aos quais conhecia estaria embarcando naquela mesma semana para a cidade para onde eu deveria ir e que, se eu desse alguma sorte, este poderia dar-me uma carona, visto que o mesmo ia sozinho, além das encomendas, é claro.
Enfim, meu cunhado conseguiu-me a tal carona de avião, o que para mim foi como ganhar na loteria, pois ao invés de fazer aquela viagem horrenda de 5 horas, num balançado embriador de fazer enjoar até os mais acostumados, eu iria para a tal cidade de "AVIÃO" e levaria apenas 40 minutos, além do mais, poderia tripudiar sobre a má sorte dos meus colegas de trabalho que também tinham o mesmo destino que eu para, juntos, efetivarmos o mesmo trabalho na mesma localidade.
Cheguei ao aeroporto, sentindo-me o máximo. Viajaria ao lado do piloto, coisa de gente de prestígio. Fui apresentada ao mesmo e que pareceu-me alguém bem comum, aliás, comum até demais, pois não tinha cara de piloto, tampouco cara de quem sabia pilotar.
Disse-me, em princípio, que demoraríamos mais um pouco para decolar em vista de aguardar um céu mais favorável (eu olhei pro céu e não vi uma nuvem), mas tudo bem, o homem é que era o piloto.
Quando achou o tempo adequado, convidou-me para seguí-lo até a pista para, enfim, voarmos.
Vi um lindo e reluzente avião no pátio do angar. - Pensei: que luxo!, mas ao passarmos por ele, percibi que não era ainda o meu transporte. Passamos ainda por alguns outros bonitos aviões e nada... Lá pelas tantas, chegamos a um aviãozinho tão pequenininho que eu não tinha certeza se era um avião ou um fusca adaptado.
Meio cismada fui convidada a entrar, foi quando descobri que aquele aviãoziho não tinha escada e tive que me rasgar toda para conseguir, com a ajuda do piloto, me pendurar pela asa, andar sobre esta me equilibrando e passar por uma portinhola que se eu tivesse com três quilos a mais, teria ficado do lado de fora.
Já na aeronave, ao lado do piloto, a curiosidade era imensa, mas me contive para não parecer tão deslumbrada.
Durante o processo de decolagem, o piloto falava pelo fone com um monte de vozes inidentificáveis e indecifráveis e eu me perguntava que tipo de idioma eles poderiam estar falando, já que mesmo estando ao lado do piloto não conseguia entender nehuma palavra.
As coisas começaram a mudar de aventura para filme de terror quando da partida do aviãozinho. Este custou tanto a pegar que eu não via a hora do piloto pedir que eu descesse e empurrasse o coitado do avião. Posto em movimento, outra surpreza: o piloto pediu-me que não fechasse a porta antes do avião sair do chão. Não questionei, afinal, ele era o piloto, mas, a medida que o aviãozinho corria pela pista, a força do vento era tão grande que era preciso um super-man para manter aquela porta aberta, foi quando comecei a perguntar:- posso fechar?; - ainda não!. Depois de alguns minutos: -posso fechar?; - ainda não! e quando eu já estava achando que teria que pular de pára-quedas, ele finalmente autorizou-me: - FECHA A PORTA!. Bati, cuidadosamente a referida, porque estava respeitando o aviso preso a ela: "FECHE A PORTA SEM BATER", MAS QUEM DISSE QUE ELA FECHAVA..., foi quando o piloto passando seu corpo sobre o meu, deu umas cinco pancadas na porta, como aquelas que a gente dá na geladeira do nosso maior inimigo, e depois me disse sorrindo: - esta porta tá com um "defeitozinho" na borracha, se não der porrada, não fecha. Me veio à cabeça como não seria abrí-la, então.
Gente, é impressionante como aviões pequenos são leves quando estão no ar, não me refiro a questão física da gravidade para que este voe, mas ao fato de que o aviãozinho não consegue voar nivelado, porque o vento hora o joga para a direita, hora o joga para esquerda, hora para baixo, hora para cima e, dependendo do vento, a droga do aviãozinho fica parecendo pipa empinada por moleque que quer fazer malabarismo. O que não o deixa cair é o fato do piloto toda hora ficar controlando o manche e equilibrando-o com a tal bolinha do nível.
Para descontrair um pouco a tensão, comecei a fazer algumas perguntas sobre o funcionamento do aparelho (nunca se sabe quando um piloto vai ter um enfarte e você vai ter que pousar o danado).
O piloto parecia tão à vontade, que as vezes o aviãozinho saía do nível da bolinha e ele nem parecia notar. Pensava que estava dormindo e de vez em quando o lembrava; - olha a bolinha, parece que ela não está muito contente com o desnível. Claro que o piloto não devia estar gostando dos meus palpites de amadora, caroneira apavorada.
Lembro-me que rezei como nunca, naqueles loooonnnnggggooosssss minutos de viajem e toda vez que o aviãozinho parecia que ia cair, eu olhava logo prá baixo para ver se tinha algum rio por perto (pelo menos eu sei nadar!).
Ah!, esqueci-me de dizer que ao entrar na aeronave, procurei logo pelo cinto de segurança, onde o piloto informou-me: - não precisa, se cairmos não será o cinto que fará diferença. Me senti super segura depois disso, porque agora tenho plena convicção de que os cintos de seguranças de avião só servem para apertar teu estômago.
Outra coisa exótica no aviãozinho: seu painel era igual ao de um gálaxi anos setenta. Todo alcochoado, porém, cheio de rasgões nos estofados, onde a velha espuma ficava à mostra.
Coisa intrigante, ainda, foi ver que quem pilota não vê nada. O painel do avião é tão alto que se você quiser ver a paisagem à frente, tem que se levantar, talvez tenha sido por isso que quando estáva-mos perto de aterrizar ele mandava eu me levantar constantemente para ver se enxergava a pista (imagina..., se ele não sabia onde tava a pista, "alvará" eu...), sem contar o desconforto de tal condição de senta, levanta, senta, levanta, porque por falta de cinto de segurança, eu me amarrei ao banco com uma corda que encontrei solta no chão, e prá desatar o nó e atá-lo novamente, era uma novela.
Você pode estar se perguntando: por que você se amarrou com cordas em lugar do cinto já que nem um ou outro faria efeito numa queda?. Bom, pensei que, se caísse-mos, como normalmente nesses casos, os restos dos indivíduos quase nunca são encontrados, concluí que se estivesse amarrada a cadeira, ao menos achariam as minhas pernas para poder enterrá-las.
Finalmente chegamos ao nosso destino em 45 minutos, o que para mim pareceram 12 horas e como uma caroneira agradecida e educada, ainda tive que ajudar a descaregar a mercadoria transportada pelo piloto, só com um pequeno e último detalhe: a tal mercadoria eram peças de motor de trator e depois desta pequena gentileza fiquei com distensões musculares por mais de dois meses.
Amigos, desconfiem de qualquer carona aérea. Isto pode fazer mal para a saúde mental e para a coluna!
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