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Contos-->O Exame do Francelino -- 22/08/2002 - 20:10 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O Exame do Francelino
(Por Domingos Oliveira Medeiros)


Quem nunca passou por uma bateria de exames médicos? De rotina ou de emergência? Um exame de urina. Um hemograma completo. E tantos outros de nomes exóticos e bem sugestivos? Claro que me refiro a pessoas que já passaram da adolescência. Não que o adolescente esteja dispensado de qualquer exame. Mas, é forçoso concluir, os que se inserem neste grupo, obviamente, tendem a ser minoria nas salas dos laboratórios e de clínicas de exames médicos. E a razão é uma só: ainda não foram atacados pelas armas implacáveis do tempo.

Numa faixa etária mais adiante, mais adulta, no entanto, a coisa começa a virar rotina. E assim foi a história do Francelino, nosso personagem. Francelino, como todos nós, já foi jovem. Já teve seus momentos de super-homem. Fumava e bebia muito. Comia de tudo, comia muito e a qualquer hora. E nunca sentia nada. Colesterol? Nem sabia de que se tratava. Dores? Nunca sentiu uma dor de cabeça.Mesmo depois de uma “noitada”, regada a cachaça, a vinho e a cerveja. Tudo misturado. Sem vômito, inclusive. Noite mal dormida e, segunda-feira, sete horas da manhã, bastava um banho frio de chuveiro. E lá estava o Francelino renovado. Cheio de energia. Pronto para ir ao seu trabalho.

Mas o tempo foi mostrando a ele outras realidades. Falta de ar. Dor de cabeça. Dores nas pernas. Inchaço em algumas partes do corpo. E tome consultas. E tome pedidos de exames. E o Francelino já se tornava um especialista. Era consultado por seus colegas mais novos para “interpretar” os resultados dos exames de seus amigos. – Não esquenta! Seu colesterol está dentro da faixa. No limite, mas nada que possa ser considerado grave. Ácido úrico? Está um pouco alto! Mas é só fazer um regime. Deixar de comer carne vermelha e, principalmente, vísceras. Vísceras? Sim, miúdos. De boi, de galinha. Como assim? Fígado, coração, moela..essas coisas! E fazer ginástica. Caminhar, pelo menos, meia hora por dia.

Mas o Francelino estava noivo, perto do dia do casamento. E o médico pediu para que ele fizesse um “espermograma”. O médico tinha notado um pouco de sangue em sua urina ou coisa parecida. E pediu o exame. Mais por insistência do Francelino. Que queria ter a comprovação de que era fértil. Poderia ter filhos com a esposa. E assim o Francelino compareceu, em jejum, à clínica. Era bem cedo. E o clima estava um pouco frio.

Chegando na clínica, viu que não era só ele que tinha dúvidas a respeito. O local estava cheio de gente. Todos sentados, esperando a vez de ser atendido. Até que a moça chamou pelo seu nome: - Sr. Francelino da Silva! Pronto!. E ele dirigiu-se ao balcão. - Bom dia! E entregou o pedido de exame para a moça. A moça deu uma olhada. Fez algumas anotações. E entregou um pequeno recipiente de plástico e disse para o Francelino. Agora o senhor pode se dirigir para aquele banheiro, feche a porta e colha o material. Francelino, por um momento, pensou em perguntar à moça: colher...como? Mas, diante de tanta gente, entendeu o que deveria ser feito. E dirigiu-se para o banheiro. Trancou a porta. E, por alguns instantes, fico sentado no vaso sanitário, pensando como iria dar conta do recado.

De lá onde estava dava para ouvir as conversas dos pacientes que aguardavam a vez de serem chamados. E o Francelino procurou se concentrar. Olhou em volta de si e viu um rolo de papel higiênico. Uma pia pequena, com um espelho também pequeno. Do outro lado do vaso, uma banqueta com algumas revistas. Pegou algumas e começou a folhear. Mulheres nuas. Corpos esbeltos. Posições sedutoras. Começou a passar as páginas, tentando encontrar uma que fosse de sua simpatia. Mas as revistas não ajudavam. Além disso, as páginas estavam todas amassadas. E sujas. Mas o Francelino, assim mesmo, foi em frente. Parou na página 23. Uma loura. Ficou um breve tempo olhando para a foto. E nada! Trocou de página. Uma morena. O corpo era bonito, mas o rosto não lhe agradava. Trocou de revista. E mais outra revista.

Resolveu ficar em pé para ver se o sangue escorria pelo corpo com mais facilidade. E, ainda, segurando uma revista na mão. Mas logo percebeu que não iria dar certo. Sentou-se novamente no vaso. Abandonou a revista. E passou a puxar pelas lembranças. Marina...Selma...Irene na praia, no sábado. Marly, deitada de bruços. As pernas da secretária nova. Não! Nem sinal de nada! Nada acontecia. Começava a ficar preocupado.

Resolveu encarar o problema de frente. Ficou de pé, novamente. Encostado na parede. Parecia que ia dar certo. Mas, de repente, suas calças caíram de vez. E o Francelino, na pressa de segurá-las, encostou as nádegas na parede fria do banheiro. E tudo esfriou de novo. Sentou-se no vaso. Começou a acariciar-se. Ele mesmo. De novo a impressão de que iria dar certo. Ficou de pé. Mas quando parecia que tudo iria dar certo, o Francelino assustou-se quando viu sua cara no espelho do banheiro. E a coisa deu errado, novamente.

Lembrou-se do recipiente de plástico. Não sabia onde tinha colocado. Olhou em volta, e nada. Parou e começou a pensar. Até que se lembrou. Tinha colocado o recipiente no bolso de sua calça.

E nessa luta incessante ficou durante horas e horas. Até que se lembrou de um fato muito íntimo que acontecera com ele e sua noiva. Fazia pouco tempo. Ele reviu todos os momentos. E a coisa foi tomando forma. E o Francelino ficou animado. Fez de tudo para não perder a concentração. Até que, finalmente, tudo acabado. Eis o material para o exame. Dentro do recipiente. Tratou de fechar com cuidado. Vestiu-se. Lavou bem suas mãos. O rosto. Ajeitou o cabelo. E quando abriu a porta, a surpresa: não tinha mais ninguém na sala. Nem as recepcionistas. O expediente havia encerrado. Esqueceram o Francelino.

DOM.
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