Nasceste bebê, como em qualquer lar.
Tiveste amor, tiveste braços a te embalar o berço.
Tiveste amigos, tiveste a quem amar,
Tiveste até quem te rezasse o terço.
Quando em sorrisos e brincadeiras
Descansei minhas preocupações,
Te pensava um futuro mais lindo,
Escolhia tuas profissões.
Talvez eu tenha imaginado
Que meu coração bastasse...
Ou que tantas noites em claro
Algo de bom me creditasse.
Queria voltar ao passado,
Que tudo fosse como antes,
Mas em braços atraentes
Abandonaste tua sina
E teus olhos se perderam
De meus olhos vigilantes.
Exemplos, incentivos, dedicação
Não foram suficientes,
Não satisfizeram tuas necessidades
E em anseios de liberdade,
Na afirmação do próprio eu,
Enveredaste por atalhos de trevas,
Viajando na amargura e no breu.
Menino de calças curtas
Que brincava na avenida
Hoje freqüenta outros grupos
Hoje não solta mais pipa.
Entre fugas e esconderijos
Nas mais estranhas missões
Ainda procuras as lajes,
Mas lá, só soltas rojões.
Incontáveis dias de agonia.
Movimento estranho, noites de sobressalto,
Para ouvir dizer que, de arma em punho,
Outro dia participaste de um assalto.
Insistes em magoar teu corpo
Tantas vezes por mim acalentado.
Nem percebes que não quero troco
E que por ti me teria trocado.
Agora que o destino fez surpresa,
Entortou teu rumo, te afastou de mim,
Aguardo o desfecho na incerteza
E rogo pra que logo chegue teu fim.
Lílian Maial
29/05/00.
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