Fui mortalmente atingida em combate
Pelo projétil incandescente de suas pupilas.
Seu olhar penetrou-me em estilhaços,
Feito granada, arrancando suspiros
De um coração agonizante de prazer.
A rajada de carícias que se seguiram,
Sem piedade ante o corpo estendido,
Causaram profundas lacerações,
Com conseqüentes gemidos e desfalecimentos.
Suas mãos, armas brancas, de pontas afiadas,
Sabiam exatamente onde alcançar
E teimavam em torturar em delírios
A sensibilidade íntima de uma fêmea abatida.
Sua boca, potente detonador de uma explosão
De gritos, grunhidos e estranhos sons,
Utilizava a munição da língua
Como tática de enfraquecimento do adversário,
Que não reagia, senão em contorções serpiginosas,
Sucumbindo ante à entrega total e orgástica.
E o míssil, ah, esse poder bélico,
De dimensões incalculáveis,
De precisão cirúrgica,
De visão noturna,
E traçante do meu amor,
Avança incontinente pelo território,
Numa busca térmica inesgotável
De suores e atritos
Até atingir o alvo.
E nessa guerra de corpos
De homem e mulher
Nesse encontro de lutas,
De estratégias e posições,
De avanços e recuos,
De conflitos, tréguas, armistícios,
É onde se faz o melhor comércio,
O mercado negro de deleites,
O contrabando de provocações,
Sem que se consiga encontrar os bandidos,
Sem que se queira ceder terreno,
Sem que se renda ao cansaço e ao sono,
Porque ainda vem mais chumbo grosso.
Lílian Maial - 12/04/00 |