CARTA PARA BÁRBARA
(em empatia ao Conto Foda-se!)
Nasci de família pobre e ingressei no mundo com “partilhas”. Partilhávamos um bife desnutrido ou um pão passado. Dividíamos tristeza, lágrimas, brigas e... Papai Noel, onde estava?
Meus pais eram “caseiros” (guardavam a casa das fadas, ou seriam bruxas?) Não sei... Não mais me interessa, só sei que partilhávamos. E de que dó se enchia meu peito quando ouvia aquela “bendita” palavra endereçada ao meu pai: Porra! Você é lento demais!!! Vai ali e pega na enxada!!!
Fui crescendo com minha rebeldia, procurando preencher-me. Aquele vazio no meu interior assustava-me: Bonecas não... gostava de jogar bola! Casinha então? Qual nada! Tinha horror... Queria é subir no pé de jaca! E lá vinham as fadas: - Porra! Essa menina é igual à um homem, precisa é de porrada!
Por ironia do destino, não me parecia em nada com um homem e cada vez mais bonita ficava, para o desespero das “fadas”...
Por início do meu primeiro emprego estava lá o fubebol feminino e a minha bola! Devagar fui me tornando “bola” e entre o jornalzinho do mês, estava lá eu, grudada à minha bola. Meu nome foi se expandido e tornei-me a “poeta da bola”. Medalhas, apertos de mão... Ih!!!... Lá estavam as fadas: - Porra! A mulher só quer jogar bola! Inconseqüente, alucinada, aloprada e vive atrasada!
Passei no vestibular, cursava jornalismo; casei, engravidei, perdi meu filho, tranquei a matrícula, adoeci, perdi a faculdade, perdi o marido e, novamente as fadas: - Porra! Nem pra isso serve. Pisou na bola!
Meus poemas cresceram comigo em meus não entendimento das fadas. Aquilo que incomodava um pouco, seria por causa da bola?
Eis-me aqui agora. Entre fadas e porras, lançando já o segundo livro “BraZil...E Agora?”, com um belo e extensivo convite para a Bienal no Rio. E de novo me vem a palavra, só que desta vez ela parte de mim, não como grosseira ou obscena, mas levemente, desculpem-me a falta de ética, sagrada: - Porra! Bola na rede! Aqui está a filha da bola... Agora sou Fada Encantada!!!
E, ao meu pai (que deus o tenha) dedico o melhor dessa palavra:
“PORRA, PAI! Ainda bem que você não ligava quando eu jogava bola. Valeu!”
Ah... infelizmente... meu Pai!... se foi o tempo da bola.
MAS TEU INCENTIVO TORNOU-SE COMBUSTÍVEL PARA A MINHA FORÇA!
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rose de castro
A ‘POETA’
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