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Artigos-->O VALOR DO VERSO -- 27/09/2009 - 16:07 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O VALOR DO VERSO





Teresinka Pereira, Presidente da IWA*



Francisco Miguel de Moura dedicou-me um poema tão intrínseco em suas metáforas e realidade que se torna impossível explicar, analisar, ou mesmo comentar. Por isto, cito-o aqui:



ASSAS(SINAIS)



para Teresinka Pereira





a-pu-nha-la-do

pelo v e r d e

de vossos olhos

pelo a m a r - e l o

de nossos óculos



pelo vosso desacordo

(por sinal v e r m e l h o)



desde então e a - go - ra

namoro

o semáforo.



Quem me conhece vai me reconhecer no poema. Por coincidência, o poema chegou pelo correio (sem data, tanto o artigo quanto o poema) e veio em cópia xérox, do outro lado de um artigo, pelo mesmo autor, que, entre outras coisas diz:

“... minhas desilusões não resistem às minhas ilusões da juventude, românticas, tão boas, sem limites, por uma democracia que não veio, uma liberdade que não existe, direitos totalmente desrespeitados em nome de quê?” (1)

O artigo merece nossa leitura e nosso consentimento para falar por todos nós que fomos jovens durante a ditadura militar no Brasil, e tivemos a coragem de manter nosso espírito livre das nefastas influências da lavagem cerebral imposta pelo medo de perder a vida por declarar-se dono de um pensamento autenticamente crítico. Durante os 25 anos de ditadura militar no Brasil, somente nas secretas comunicações de companheirismo e no exílio podíamos estudar marxismo (o sinal vermelho no poema). A juventude cresceu sem a possibilidade de aprender que a solidariedade, o companheirismo e o amor, reconhecendo a igualdade de homem para homem é o mesmo que a liberdade de ter justiça. E como Maria Gomes Guilherme explica em um artigo publicado no jornal “O Eco do Funchal” (2) “a justiça é uma virtude cívica, e pode produzir felicidade para uma comunidade. Utilizando o método da igualdade, a justiça pode distribuir proporcionalmente as vantagens e honras em função dos méritos de cada um. O outro princípio em que a justiça se apoia é o da equidade, quer dizer, devemos oferecer a cada um o que lhe é devido”.

O poema é gráfico, quase chegando ao varal da poesia concreta, a qual sempre dispensou explicações. Quem entendeu, é poeta-leitor e gostou, e quem não entendeu fica com um ponto de interrogação (?) na ponta do nariz! Meus olhos são azuis, mas aparecem verdes no poema, porque: 1. verde é a cor do semáforo que deixa passar livremente; 2. é uma das cores da bandeira brasileira; 3. é a poderosa cor ecológica das nossas matas (o ouro verde); 4. é a cor da esperança.

Infelizmente um dos maus símbolos do verde foi roubado pelo “integralismo” brasileiro, de herança do fascismo italiano, que nos anos anteriores à nossa geração fez oposição ao “vermelho”, símbolo do comunismo.

Por tudo isto, posso dizer, companheiro, que meus olhos são mesmo “vermelhos”, como o poeta o diz muito gentilmente ao final do poema, evitando mencionar que dizê-los “azuis” estaria sendo indelicado simbolicamente, pois a cor “azul” tem o simbólico sentimento de “abandono e morte”. E pelo mesmo catálogo, “o amar-elo” de nossos óculos, contém a idéia muito fiel de “fome e sede” (3).

Entretanto, o tema do meu colega era a libertinagem da juventude de hoje, que representa a terceira geração de depois da ditadura. De acordo com o velho ditado “a gente só aprende o valor da liberdade depois que a perde” e que se adapta muito bem à nossa geração, porque envelhecemos antes de fazer os 21 anos de idade, chorando por uma liberdade que a ditadura roubou. Nós aprendemos sofrendo o valor da liberdade. Nós fomos aqueles que passamos o tempo da juventude lutando dentro ou fora do Brasil para recuperar a liberdade como o Comandante Marcos, de Chiapas, no México, explicava: “A liberdade é como a manhã. Há quem espera por ela dormindo, mas há quem fica acordado e caminha pela noite para alcançá-la”. Nós fomos como os que caminhamos a noite inteira da ditadura para merecer a liberdade. Nossos filhos sofreram com a nossa caminhada. Uns foram criados em pai, outros sem mãe, e outros com medo de que os “milicos” perseguissem seus pais até mesmo no exílio. Alguns odiaram a política das ideologias, outros abraçaram a fé da teologia da liberação, e ficaram ainda mais subversivos que nós jamais conseguimos ser, outros viram “hipies” e seus filhos já cresceram marginados. Eu entendo a nova geração que “não quer saber da nada”. Ela é filha de nosso egoísmo, nossa falta de participação na sua caminhada pela noite. A nova geração está observando nosso outono sem frutos. Demos muito, mas estamos cansados demais para exigir justiça: não aceitar nenhum pacto com a direita! “Quando a esquerda começa a contar dinheiro, converte-se em direita”, disse Carlito Maia, com razão.

E já que estamos no processo de fazer a crítica da esquerda que se converteu em neoliberalismo cristão, como disse Pascual Serrano, referindo-se aos que abandonaram seu idealismo revolucionário e criticam a esquerda pela fresta da esquerda, enquanto o resto critica a esquerda já do outro lado da cerca, a “esquerda democrática”, expressão que parece contraditória, mas que no fundo é verdadeira, porque a esquerda sempre foi mais democrática que a direita.

Enfim, vamos terminar este comentário citando Hegel outra vez: “O desenvolvimento histórico da própria consciência humana é a marcha em busca da liberdade”. (4)



______________

*Teresinka Pereira, poeta e crítica literária, Presidente da IWA (Associação Internacional de Escritores e Artistas), sigla em inglês.

E-mail: tpereira@buckeye.express.com Website: http://www.international-writers-association.com/



Notas:

1. de Moura, Francisco Miguel: “Nossas ilusões e desilusões” in “O Dia”, Teresina, Piauí, 15-8-2009.

2. O jornal “Eco de Funchal” é publicado na cidade de Funchal, Ilha da Madeira, Portugal.

3. O escritor mexicano Fredo Arias de la Canal diz: “Quién observe con detenimiento y método los nóumenos de la creatividad poética, inducirá que ciertos colores tiene una relación a un significado arquétipo, por ejemplo: Rojo = sangre y heridas; / Azul = abandono y muerte / Amarillo = hambre e sed”.

4. Georg Wilhelm Friederich Hegel (1770-1831): filósofo alemão que influenciou Karl Marx.

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