INQUILINA
lílian maial
Nova inquilina,
tua língua mudou-se
com mala e cuia,
instalou-se em meu céu,
feito tocha viva,
archote deixando rastros traçantes.
Trouxe com ela o gosto
pela vida, o riso.
Trouxe o sol, o calor,
as cores e os cheiros,
de mato, de manto,
de mim.
Invadiu como sem-terra,
sem-amor,
sem-carinho,
armando barraquinha na sala,
entre a lua e constelações,
servindo-me de ternura,
de ardor,
indecentes beijos.
Tua língua ocupou todos os espaços,
penetrou todas as frestas,
avançou por onde nunca fui.
Tomou-se de amores pela nova morada,
sagrou-me mulher-desejo-amada,
e lavrou-se-me a escritura definitiva,
donde se fez proprietária,
usufruto da alvorada. |