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Artigos-->AO SUL DO EFÊMERO - OLHOS AZUIS -- 30/08/2009 - 12:14 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AO SUL DO EFÊMERO – OLHOS AZUIS







Francisco Miguel de Moura – Escritor, Membro da Academia Piauiense de Letras







Uma crônica moderna dos tempos negros da Revolução de 1964. Escrita limpa, estilo leve, o autor é o principal personagem. A matéria é um caleidoscópio onde as memórias dum tempo negro sobrepairam. Dois amores permeiam suas páginas, Júlia e Wanda, um mais dramático, mais “tragédico”; o segundo, mais lírico. Outros personagens: Fulgêncio, o pai, cujas páginas arrebentam do peito e arrebatam o leitor, e mais, alguns companheiros de lutas: o poeta Canora (p.158 e outras) e o Edson Luís (que não é ficção, mas referência em algumas páginas).



Gabriel – autor e personagem – quer construir um romance da vida e com a vida, mas termina escrevendo um memorial romanesco. Enfim, não é este o tipo mais moderno de romance, quando o indivíduo sobrepuja a tudo que seria social e sociável? A certa altura, sendo inquirido por si mesmo, por Júlia – alterego de Gabriel – ou pelo espírito de sua amada, escreve: “É melhor não ter um público do que vender minha alma”, considerando as dificuldades de publicar o livro que resultasse dessa luta, um diário mais do que pensava e sentia do que da vivência. Menos do que os outros pudessem sentir, exceto Júlia – que o persegue, na vida e na morte, com o amor estranhamente frio, intelectualizado, porém repassado de sofrimento que não fala. A presença obsessiva de Júlia me fez lembrar “A Presença de Anita”, de Mário Donato, um clássico da ficção psicológica dos anos 1940/1950.



Não gosto de rótulos, partidos, escolas, doutrinas. Por isto deixei de ser crítico. Faço resenhas de leituras ou a crônica intelectualizada de fatos, autores e livros. Para isto, “Olhos Azuis”, de Emanuel Medeiros Vieira, se presta muito bem. Mas não posso deixar de considerá-lo como uma página do pensamento existencialista, o existencialismo à brasileira. Quem leu Sartre e Camus não escapará a este raciocínio. Não quis dizer também que o livro de EMV tem algo a ver substantivamente com “A Presença de Anita” – salvo o sabor dos dois dramas, sendo “...Anita” mais ficção que memória. Por que? Este “Olhos Azuis”, em si mesmo não tem uma história, é sim um monumental livro de emoções e sentimentos externados no papel, para onde correrá a história de quem escreveria o romance (guerrilheiro ou combatente), se um dia visse a possibilidade de publicação da “angústia de quem escapa” que “nem sempre é glória”.



Júlia foi um amor confuso na vivência do autor. Wanda foi o amor que sara as feridas do outro amor, muitos vezes mais carnal do que o da mulher que se vende e vendendo também se dá. E há muitas histórias de casamento entre “mulher da vida” e um dos seus “clientes”. Acontece que Gabriel nunca chegou a entender Júlia como não entendia (por várias razões) o que era aquela “revolução dos militares”, embora intuice. E, ao contrário, com Wanda, compreendeu mais a alma dos humildes.



Li sua obra com gosto de memórias e com o espírito de leitor de romances: Como um rio que desce da planície e vai engrossando até aprofundar-se nos vales. Meio romance, meio memorial (“as memórias como os cemitérios são para os vivos”) ou (“no que você escreve nada acontece, tudo já aconteceu”), é obra mista de grande valor sócio-histórico e ficcional a um só tempo. Em suma, com a recuperação do que o computador apagou, nada se perde na reconstituição – como está sugerido ao final. Pois o Brasil ganha um documento e um livro de arte incomparável, original, que se lê com sabor de ensaio, crônica, ficção, e nele se recupera o que a lembrança já parecia ter levado para o inconsciente. EMV é, portanto, a consciência do que viveu, sofreu, sentiu e pensou, ao lado de pessoas e agora de personagens. Ao sul, ao norte, tudo é efêmero. Mas é esse tudo que vale a pena.













































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