SOMENTE UM VERSO BASTA
Maria José Limeira
Quero poema louco, que me sangre por dentro.
Ou poema doce, triste e sofrido, que cure meu gemido.
Dêem-me versos (talvez só um!), que me digam alguma coisa infinda, que ninguém cantou ainda.
Quem sabe, um poeminha de nada, cuja flor amassada eu recolha na calçada.
Não precisa epopéia, que evoque Dulcinéa.
Ah, poema, que não seja grandioso, apenas.
Versos curtos servem, sem estrofes quilométricas.
Poema, um só poema, que me preencha.
Diga amor, mate saudade, e onde adeus se cale.
Sem métrica, rima ou regras.
Mergulhado em noite, sonhe amanhecer.
Versos, versos livres, que ganhem amplidão, cortem linha do horizonte, atravessem arcos, e voem cada vez mais. E mais alto.
Que o pássaro mais veloz não os alcance.
Ainda que sejam grito e dor.
Mesmo de autor desconhecido que, ao escrevê-los, exale último suspiro.
O que importa, na verdade, é que me atinjam, num poema simples, bobo que seja, de gosto duvidoso: lima, limão, laranja. Talvez cereja.
Poema de sol e lua, sem palavra gasta.
Que nunca fora escrito.
Somente um verso basta, para me dizer que sou humana.
Que a vida tem sentido.
E que eu não estou sozinha...
(Do livro "Cronicas do amanhecer").
Maria José Limeira é escritora e doce jornalista democrática de João Pessoa-PB.
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