I
Na estrada que nos leva à perfeição,
Existem pedregulhos de temores.
Ao caminhares, seja aonde fores,
Hás de encontrar o ódio e a rejeição.
Se controlares bem as tuas dores,
Rogando ao Pai a bênção para o irmão,
As pedras em que pisas formarão
Alcatifas de luz, em resplendores.
Não olvides a rútila mensagem,
Por mais que seja forte o teu tormento,
P ra não tardares mais nessa viagem.
Ao adoçares rude sentimento,
Começa a regredir tua contagem
E a navegar a nau no firmamento.
II
Quem queira começar bem neste dia,
Estipulando o amor como destino,
Veja como, no verso, discrimino
As rimas que dão certo na poesia.
Assim, tudo na vida é desatino,
Se quem almeja o bem logo se esfria,
Ao ver que o sacrifício afastaria
Os brindes do prazer, por esse ensino.
Ninguém durante a luta está acima
Nem do bem nem do mal, que o seu dever
Está em disciplinar-se nessa rima,
Pois há tanto rigor para escrever
Que, quando o termo certo se aproxima,
Sentimos como é forte o seu poder.
III
Quando Jesus nos disse que daria
A salvação por meio da pobreza,
Queria ver, na alma, bem coesa
A idéia de que a vida é harmonia.
Ninguém pode sentar-se junto à mesa,
Sem repartir o pão dessa alegria
Que é dar ao Pai o amor, em primazia,
Mantendo da esperança a chama acesa.
A dor de um dia triste é passageira,
Que a eternidade é o prisma do futuro,
Para determinar que o bem se queira.
O que pratica o mal vive no escuro,
De um egoísmo atroz do abismo à beira,
Sem conhecer um sentimento puro.
IV
As lembranças mais ricas para a vida
Concentram-se no bem que se espargiu.
A memória do mal é desafio,
A carregar a alma arrependida.
A humanidade sente um calafrio
Ao ver, no monte, a cruz ainda erguida,
E quer que o Mestre mostre uma saída,
Para que possa agir com força e brio.
O ensino de Jesus é esplendoroso,
Mas ele prometeu do Céu o gozo
A quem pudesse apenas recordar
Que tudo o que se faz, aqui na Terra,
Não é através da morte que se encerra,
Que a morte, nessa escada, é patamar.
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