Resolvi fazer uma faxina nas gavetas. A tempo elas pediam-me um "colocar velhos documentos em ordem" e hoje eu resolvi atende-las.
Minha vida também pede uma faxina. Um "colocar velhos sentimentos em ordem", mas esta eu tenho evitado, afinal a vida é bem maior que as gavetas e velhos sentimentos muito mais difíceis de serem organizados do que velhos documentos.
Voltemos então à s gavetas; onde encontrei documentos antigos, dos quais o tempo tirou toda e qualquer serventia e entre eles velhas poesias escritas por um "EU" que parece não ter sido eu. Tive a impressão de que na vida vamos caminhando e nos deixando pelo caminho, vida afora.
Aquelas poesias, quando escritas, representavam-me em minha essência. Hoje desconheço o poeta que as escreveram. É como se as mesmas tivessem sido deixadas em minhas gavetas por um estranho do qual nada sei, mas do qual, ao mesmo tempo, por mais louco que pareça eu sinto uma certa saudade.
A verdade é que eram poesias minhas; escritas por mim. Minha letra, que aliás também mudou e em nada se parece com a que tenho hoje, pelo menos eu reconheci naquele pedaço de papel amarelado pelo tempo.
O que fazer então com poesias, que embora escritas por mim, já não tinham nada a ver comigo? Joga-las fora? Deixa-las na gaveta ou publica-las com outro nome na usina?
Joga-las fora nem pensar, afinal nem os documentos de uma moto que roubaram a dois anos eu consigo jogar fora. Como poderia jogar documentos que representavam uma parte de mim que tal como a moto foi roubada; só que pelo tempo.
Se um dia acharem a moto, os documentos serão úteis, assim como as poesias, se um dia eu me reencontrar com aquele cara que (morro de medo da comprovação) poderia se melhor do que eu.
Depois de algum tempo decidi-me finalmente publica-las, mas não com outro nome. Vou publica-las com meu nome, porque não devemos renegar nosso passado, para que a vida não pense em negar-nos o futuro.
Estas poesias encontradas na gaveta estão sendo publicadas na USINA na página de "POESIAS" e seja o que Deus quiser!
