O TEMPO
Não há tempo a perder. Não temos mais tempo. Aliás, sempre soubemos disso. Nunca tivermos tempo suficiente. Só temos dois tempos. Ou melhor: três tempos. Ontem, hoje e amanhã. Ontem acabou. Ontem acabou para dar lugar ao hoje. Não há mais nada que se possa fazer ontem. De ontem só restam as lembranças, alguns arrependimentos, se tanto, e quiçá outras tantas alegrias. E mais a experiência deixada pelo tempo. E esta, apenas, para quem teve o cuidado de guardá-la. Todo o restante foi embora. As palavras ditas e as que não foram pronunciadas. As ações e omissões. Os erros e os acertos. Os risos e as lágrimas. O que ficou por fazer.
O tempo de ontem não mais existe. Esvaiu-se. Não há mais possibilidade de retorno. Pelo menos nas mesmas condições. Poderemos até tentar reaver e refazer algum passado. Mas que se tiver que ser feito será em outro tempo. No tempo de agora. No futuro de ontem, que hoje é presente. No tempo de hoje. Que também já está indo embora. O tempo não pára.
É tempo, portanto, de aprender. E de realizar. De evitar o que deveríamos ter evitado ontem. De repetir o que deveríamos ter repetido ontem. Desse encontro de contas, dessa constante e vigilante reflexão é que devemos construir o tempo de hoje e preparar o tempo de amanhã. Que está prestes a chegar. E que não chegam, para todos. Por isso é preciso preparar tudo hoje. Amanhã poderá ser tarde demais. E o amanhã pode até nem existir. Quem garante?
Por enquanto, ele é apenas uma mera expectativa para cada um de nós. É dúvida, o amanhã. Só é certeza o presente. E o passado é a certeza que se foi. Não há nada que possamos fazer para parar o tempo. Pois hoje já não somos ontem. Ainda que este ontem esteja completando, agora mesmo, nestes primeiros segundos de tempo, seu tempo de partida. Já estamos em outro tempo. Estamos no presente. Estamos um ou dois segundos mais velhos. Mais experientes, talvez. Ou mais distraídos. A única certeza é que estamos vivos. E que precisamos cuidar do presente. E preparar o futuro.
O tempo é curto. A cada segundo os três tempos se encontram. Agora mesmo, não faz muito tempo, estávamos no tempo presente. Lá no início deste texto. Agora mesmo, entramos no futuro. E nem nos demos conta disso. Quando acabarmos este pequeno artigo, já teremos passado por diversos tempos.Presente, passado e futuro. E assim, tal qual os ponteiros que marcam os segundos do relógio, o tempo vai passando. Passado, presente e futuro se misturam, em questões de segundos.
Não percebemos porque não sabemos lidar com o tempo. Tanto que o dividimos em dias para que tenhamos tempo de observar o tempo e de melhor utilizá-lo. Só dessa maneira, dia após dia, é que podemos ter a noção do tempo. Vê-lo, em grupos de vinte e quatro horas, partes de muitos passados que se vão e que chegam, partes de muitos presentes que chegam e que se vão. Passados e presentes que se transformam, à cada segundo, em novos futuros, repetindo o ciclo do tempo. Por isso, é preciso estar à frente do tempo. Sempre de olho no futuro. Construindo da melhor maneira possível este futuro.
Futuro que poderá ou não ser nosso. Mas que será de nossos semelhantes. De nossos filhos e netos. E cada segundo é importante. Muita coisa se faz num segundo. Um sorriso, um piscar de olhos, um consentimento com o balançar de cabeça, um gesto carinhoso, um aceno, um aperto de mão, uma palavra que é dita, como o perdão, o te amo, desculpe-me, obrigado e tantas outras.
Arrepender-se, justificar-se, inteirar-se, decidir-se, e tantas outras ações podem ser realizadas em questões de segundos. O tempo só corre menos em relação aos nossos pensamentos. Por isso é preciso pensar bem. Pensar correto. Pensar com amor. Pensar em coisas grandiosas para a alma e para o espírito. Pensar e praticar a fraternidade, a solidariedade, o amor. Enfim.
E agradecer a Deus por mais esta oportunidade de tempo. De tempo pra refletir. E trabalhar para que o próximo presente, que hoje ainda se encontra no futuro, seja melhor do que o passado que se foi, não faz muito tempo, a fim de que o próximo futuro, quando se tornar presente, seja sempre melhor do que todos os presentes que estão por vir.
Por isso, que o passado seja melhor do que o passado de ontem, que já foi presente e que já foi futuro. Este é o ciclo de tempo que se repetirá até o final dos tempos. É nossa, pois, a responsabilidade pelo tempo. Pelo ontem, pelo hoje e pelo amanhã. Na verdade, somos nós quem construímos o tempo. Melhor dizendo, o tipo de tempo que queremos. Não tenho dúvidas de que a maior parte de nosso tempo deveria ser dedicado à busca incessante da paz, da harmonia e do amor. A verdadeira felicidade está relacionada com o tempo que dedicarmos ao exercício da fé e da esperança. Pois todo tempo, na verdade, caminha para o infinito, no rumo e na forma traçados por Jesus Cristo. Não há futuro sem a fé, sem a crença e sem a esperança. Não se pode construir felicidade à base, tão somente, de coisas materiais.
Domingos Oliveira Medeiros
22 de março de 2002
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