Usina de Letras
Usina de Letras
19 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62285 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6209)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Poesias-->Confissões Sem Rima -- 27/10/2002 - 20:26 (Guimaraes Julia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


I





A sua partida abrira um buraco na minha alma,

Deixando-me em permanente inquietação e tristeza.

Meu coração inutilmente fazia ronda tentando preenchê-lo,

E os dias se sucediam, incompletos, desconhecidos.

Eu não me dava conta.



Aos poucos, as emoçoes passadas batiam à minha porta,

Uma a uma se revelando e cobrando insatisfeitas.

Eram retirantes que voltavam, trazidos pelas perguntas sem resposta.

Falavam da magia de uma noite, luzes desordenadas,

Luzes como se fossem faróis por detrás da neblina.

Lembranças de bancos de madeira, de gramado, de ternura.

Vagas de algo que se interrompera sem ter chances.

E eu ainda não me dava conta.



Com a foto, a noite voltou completa.

Uma noite de ar fresco, céu de estrelas paulistanas.

Uma noite de vozes alegres e risos altos.

Na noite os olhos azuis, topázio radiante,

Olhos iluminados, refletindo desejos desconhecidos.

Uma noite de vontade de tocar, de abraçar, de sentir.

Uma noite de coração acelerado, criança descobrindo.

Uma noite de perfume de mulher, convidando ao profundo.

Uma noite de olhares acumpliciados, tristes.

Tristes porque sem abrigo, porque furtivos.

Como podia eu, até então, não ter-me dado conta?



Eu fitava aquela rede ao fundo.

Era uma moldura, um véu que a abraçava.

A mulher amada na foto e na noite mágica, sorria.

Um sorriso e uma noite, raros, únicos.

Naquele sorriso, a emoção companheira das antigas incertezas.

Guiado pelo sorriso, finalmente, eu me dei conta.

O buraco na alma estava definitivamente explicado.



(20 de maio de 2001)







II





A revelação chegara como um raio.

O que fazer com este desajuizado coração?

Mandar que se conformasse? Impensável.

Esperar que se aquietasse? Impossível.

Permitir que se espremesse em medo? Inevitável.

Brindar o renascimento? Sempre.

Alegria da emoção e medo da razão, indissociados.

Mas você já se tinha ido… conflito aliviado.



Aceitar o renascer foi a primeira dificuldade.

Poderia estar acontecendo?

Esta emoção, este tremor… seria mesmo?

A magia ancestral, até então hibernada, esquecida, estava de volta.

Este movimento ao mesmo tempo atávico, e ainda, repleto de surpresas,

Mostrava este mundo tão pouco definitivo.

Tão indiferente às impossibilidades.

Então, voce poderia voltar – porque nada era acabado.



Numa manhã que se concluia, você chegou sorrateira.

Já revelado, eu a acompanhava, reconhecendo meus segredos. Maduro.

E você, como sempre, sorridente, amiga, faceira. Jovem.

Num recanto consagrado, às vistas de um jardim japonês,

O relógio da vida seguia seu curso, inabalável. Ignorando o apropriado.

Você iria voltar! – suspiro e sobressalto decretados.



Mais tarde, na enorme sala de hotel, tudo à minha volta se ofuscara.

Multidão neutralizada. Discussões sem som. Perguntas sem importância.

Dentro de mim, tudo se aquietava. Finalmente a paz do encaixar.

Porto seguro, a meu lado, o perfume de mulher. Único. Ancoradouro certo.

Então, um toque de mulher amada, dois olhos azuis insinuantes de ternura,

E um anel.

Esse pedacinho de ouro me acompanhou por um mês.

Amuleto da sorte, confortando e garantindo.

A prova material de que não era sonho.

Você voltara.



(21 de maio de 2001)









III





Tudo veio inteiro num dia de trabalho, despretencioso

O beijo furtivo, no canto dos lábios, mudou tudo.

Beijo roubado, definitivo decretado, encanto selado.

Olhos, olhares… boca, sabor… pescoço, cheiro.

Não se vá!



A sós caminhamos até o local. Corpo se enroscando.

O tremor pela sua presença, felizmente não notado.

À noite, festa no hotel,. Emoção, medo.

Risos, alegria, contagiava a todos. A mim, imunizado pelo amor, só você.

Mais tarde, rolando na cama, queria você. Seu corpo, seu calor.

No dia seguinte, o adeus. Na porta, o pedido pra ficar. Resisto.

Tão assustador o se aproximar!



Quando te encontrei naquela manhã, meu coração disparou. Você notou?

Caminhar de braços dados, como homem e mulher, como deveria ser.

Jundiaí… mãos, carícias. Correspondidas. Tive certeza de você.

Almoçamos, rimos, nos perdemos em nossa alegria.

Como falar adeus?



No alto de São Paulo, eu te oferecera a lua.

Você chegou, linda amorosa. Ofuscando a cidade.

Seu olhar, amoroso, sem o necessário abraço,

Até hoje reclama o estar incompleto.

A lua, perfeita imagem do meu amor por voce, enorme, escondida.

Definitivamente impossível separar.



(21 de maio de 2001)









IV





A vida supera toda clarividência.

Por caminhos tão inusitados, impensados, ela segue seu curso.

Não tem lógica, nem se detem em barreiras.

Não planeja. Oferece o inacessível paraiso. E aguarda.

A vida não projeta o futuro.



Meu coração estava aberto, sentia-se livre.

Meu coração estava só, precisava de calor.

O cotidiano, este feito de compromissos e pactos.

Selados em dia-a-dias frios, daqueles onde se forjam o aço.

O concreto, sim, molda o futuro.



Porém, compromissos e pactos todos esgarçados.

Que nunca existiram de fato, porque feitos pela metade.

E nem selados pela verdade. Assim, a ética se liberta.

Mas não afasta o drama, nem a dor.

O futuro é um ato de rebeldia.



O inevitável encerramento do antigo, este moribundo,

Poderá dissipar a magia do novo, arrastado pela torrente.

Se o novo resistisse por um fio, minimo que seja,

Talvez ele viesse a se recompor do barro em algo até maior.

Seria o futuro chance, ou magia?



(22 de maio de 2001)







V





As forças do universo protegem os tesouros escondidos,

Insinuando que são as dificuldades mesmas que ungem o sagrado.

Determinação, portanto, é a única receita na extração da pepita.



Dificuldades, são tantas! E maiores ainda, seus vultos.

A começar pela morte que quando anunciada, lateja,

Lembrando seu significado ao braço que sepulta.

E nessa hora, as culpas atávicas são recrutadas,

Fazendo o coração arcar com a lágrima alheia.

As mãos que castigam pelo carinho suspenso,

Acabam debitadas pelos sonhos interrompidos.

Embora, tenha sido morte morrida, e não morte matada.



Perante ilusões que desmoronam, é preciso ter serenidade.

Perante a dor, e mesmo seu risco, só não pode faltar sensibilidade,

Posto que morte requer respeito, constrição e ritual,

Sem prescindir jamais das justificativas.

A humildade é só o que cabe perante ela.



Assim como se planta melhor em terra arada,

O amor que se insinua requer chão limpo.

O bom termo de história que se encerra,

É pressuposto necessário para a que virá,

Sob a pena capital de ter o coração contaminado,

Que não seria remediado nem pelo perdão do batismo.



Como cuidar do que nasce se ainda a morte progride?

A história que se encerra nutriria a que se inicia? Jamais.

Seria, talvez, obstáculo? Certamente.

Poderia levá-la consigo? É possível.

Morte insepulta, é certo, destruiria sem hesitação a que nasce.

É mister, portanto, enterrar nossos mortos.



É tudo tão frágil, tão de porcelana!

Fundamental que se seja resoluto seja leve.

Se a urgência é requerida, a delicadeza é obrigatória.

Aquelas forças fazem seu sucesso sobre os incautos.

É mister, mais do que tudo, respeitar nossos mortos.



Se seis meses para o inesquecível “Un Affair to Remember”,

Quantos aqui, ainda mais impossível?

Seria prenúncio, valeria a metáfora?

Terraço Itália, 25 de Novembro, às 17:00 hs…



(24/25 de maio de 2001)



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui