Para falarmos do pensamento de Calvino sobre a Eleição divina, antes temos que pensar seu conceito de tempo, pois é nesta concepção que ele vai fundamentar sua posição acerca da eleição.
Calvino viveu numa época em que as querelas entre a Igreja Romana e alguns pensadores insatisfeitos, proporcionavam uma reflexão sobre como Deus estaria agindo, ou até mesmo vinha agindo através da história. Fundamenta-se historicamente porque a hermenêutica da época ainda era praticamente histórica, deixando de lado os aprofundamentos sócio-culturais que nos facilitam hoje e que foram desenvolvidos com maior ênfase a partir do séc. XIX.
Contudo, a noção de tempo em Calvino passa pelo eixo monárquico transcendental vigente em seus dias. Algo parecido com um rei que é absoluto e, enquanto vivo e atuante na vida das pessoas, faz aquilo que seu poder permite, ou seja, tudo de forma justa. Claro que a noção de soberania passa também pelo jogo de interesses, sem os quais nenhum reino subsistiu ou subsiste até os nossos dias; com Calvino, não foi diferente.
Calvino foi um homem que tinha consciência de seu tempo, viveu seu tempo em ambos os lados políticos e religiosos de sua época. Talvez por isso pôde apreender que o seu tempo era de escolha fatal, explicando o “decreto horrível”. Ainda nessa linha de raciocínio, vemos que ele percebeu que Deus age na história, pois lhe deu a oportunidade, assim como para outros reformadores, de interagir com as forças vigentes de seu contexto. A Soberania de Deus estava presente em sua mente, e a partir desta, ele fundamentou suas teses reforçando seu conceito de tempo baseado em seu contexto vivencial:
“[...] Calvino estava absolutamente certo, afinal, quando disse que crer no poder soberano significa ‘gratidão pelo resultado favorável das coisas, paciência na adversidade e, também, liberdade incrível da preocupação pelo futuro’(Institutas I.17.7).”
Após muitas investidas sobre a situação real de vivência, Calvino não conseguiu outra razão a não ser atribuir a Deus toda a carga de decisões acerca da vida. E o mais interessante é que esse Deus decide sempre pela vida. Entretanto, estamos aqui querendo saber qual é o conceito de tempo em Calvino, e para isso, tomamos a consciência que circundava o reformador para analisarmos seu pensamento. Esta consciência se apresentou influenciada pelo Renascimento, fazendo com que a noção de tempo utilizada fosse transcendente e pessoal, assim como a idéia da persona grega, ou seja, uma interpretação de algo superior concentrado na pessoa que agora se utiliza de uma máscara para ressaltar a realidade.
Por fim, temos a noção de tempo de decisão como paradigma para Calvino elaborar seu pensamento acerca da eleição, pois as pressões exercidas pela nova situação, exigiam decisão: ou o indivíduo aceitava a responsabilidade de conhecer a Deus por suas próprias forças reconhecendo que foi esse próprio Deus que proporcionou esse encontro através de Jesus Cristo, ou ficava do lado da tradição castradora que a Igreja Católica Romana impunha para que o povo fosse salvo. A noção de tempo se pauta na necessidade contextual de decisão pela pessoa de Cristo que orienta internamente a pessoa através do E.S., fazendo com que cada um seja capaz de chegar a Cristo através das Escrituras e entender as boas novas da salvação, ou melhor, da eleição feita pela Soberana vontade de Deus – Tempo é vida em Cristo, para Calvino.
