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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Virgínia e Octávio -- 28/02/2003 - 04:00 (Vanderli Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Virgínia e Octávio

Romance de Vanderli Medeiros


Virginia vivia em uma casa grande uma espécie de castelo medieval. Encontra-se vivendo no século XV. Casada com um homem escolhido pelo pai e que a principio a desagradou, mas com o tempo tentou se acostumar à vida de casada. Vieram os filhos, no total de três, dois meninos e uma menina.
Seu esposo um homem temperamental, ora extremo e carinhoso, ora selvagem e impulsivo, passional. Vivia dormindo com as servas, as domesticas falavam pelos corredores e sua senhora ouvia e fingia nada ver e ouvir. Porém, Virgínia com o tempo foi ficando cada dia mais infeliz, dona de uma alma livre e questionadora, amante da boa leitura, ainda que nessa época fosse proibido certo livro a mulher, Virginia sempre conseguia um exemplar escondido com alguém, e assim seu conhecimento intelectual era além do seu tempo e principalmente das mulheres da época.
Essa leitura desagradava seu marido que dizia, ser coisa para homens que não tinham o que fazer com esses livros. Que ela se conformasse em ser mãe e esposa. Isso a ofendia, pois não admitia ser encarada como um simples objeto ou uma fêmea reprodutora. Muitas vezes em seu leito chorava infeliz pela sua insatisfação de sua vida de casada. Nunca se casaria se a tivesse dado escolha. Sonhava estudar nos melhores colégios, conhecer o mundo da época e ser independente. Casar? Só se encontrasse o homem que compartilhasse de seus sonhos de ventura e amor.E quando pensou ter encontrado esse homem o destino os separou para sempre.
No entanto, se casou com um homem tirano e controlador, que a amava com loucura, mas encarava o amor como uma espécie de prisão feminina.
Certo dia cansada e enfada de sua vida vazia caminhava pelos jardins quando ouviu uns gemidos, aproximou-se e viu seu marido com uma serviçal entre as flores do jardim. Ele a amava com ferocidade e a beijava como um animal. Enojada com a cena Virginia foge dali. Corre, corre sem destino, já é noite quando se dá conta escuta barulho na floresta, cavaleiros batendo a mata, esconde-se em uma gruta escura, entre o medo de animais ferozes e o medo de ser encontrada pelo tirano que a dominou esses anos todos e que agora odiava. Não sabia que fazer de sua vida, mas tinha uma certeza, "voltar para ele nem morta!”.
Com o tempo cansaram de procurar e parou o barulho na mata, com medo que a caverna fosse habitada saiu de lá e começou a caminhar rumo a uma trilha, não sabia onde daria, tinha um medo muito grande, mas algo mais forte que ela a fez continuar. De repente começa uma forte tempestade, a mata se rasga ante os raios que a iluminavam, ela corre a procura de abrigo sem encontrar, o clima europeu muito frio se congela com a tempestade noturna, ela quando fugiu de casa não havia pegado nem um agasalho, seu vestido era fino para cobrir o frio.
Congelando até a alma se recostou a um tronco de árvore a espera que a tempestade abrandasse. Orava e pedia a Deus a ajudasse nesse momento tão aflitivo, pensava em seus filhos, no calor de sua casa, mas quando se recordava do tirano se continha no firme propósito de não mais voltar àquela prisão.
Congelando de frio e entre um copioso pranto, dorme sentindo-se aquecida, um calor muito grande a aquece quando acorda, o primeiro raio de sol tentam penetrar na mata fechada, senti dores por todo seu corpo; um calor queimando-lhe a pele, coloca as costas da mão no rosto e percebe que esta febril, sua garganta lhe dói, o peito parece que vai se partir ao tossir.
Estava doente devido à chuva fria da noite.De repente escuta novamente o trotar de cavalos e os latidos de cães rompendo a mata. Corre novamente quando é agarrada de supetão por mãos ágeis e fortes. Olha e vê o rosto de ódio de seu algoz. Recebe uma bofetada que a faz voar pelo ar e cair pesadamente entre a relva ainda molhada.
Quando ainda tenta recompor-se senti que a levantam pelos longos e sedosos cabelos, parecia arrancavam-lhe o couro cabeludo. Entre ameaças, palavrões e dor escuta seu marido (algoz) dando ordem que a conduzissem ao castelo e a prendessem até sua volta em um quarto quando então acertaria as contas "Com essa criminosa que fugia de suas obrigações” (dizia ele).
Sem uma palavra e chorando ela obedece e nada diz, senti-se morrer, todo seu corpo dói, não consegui distinguir se é pela forte febre ou pela dor da violência que sofreu, a bofetada arde mais que sua febre.Sua cabeça rodopia, tudo fica turvo. Desmaia.
Quando acorda esta dentro de um coche sendo conduzida como um animal abatido estendido pelo chão da carruagem. Os dois capatazes não percebem que ela voltou a si, aproveitando-se disso ela com muito cuidado pula do coche, caindo na relva que amortece sua queda e o barulho da mesma.
Ganha estrada e embrenha-se na mata novamente, dessa vez toma sentido contrário, nunca antes havia se aventurado por esse lugar, pois diziam viver um bruxo perigoso por essas bandas.
Não o tema agora, quem sabe ele não era a salvação, encontrava-a e a matava logo, tirando-a desse sofrimento. Seu desejo de morte é algo que a alucina e a faz correr sempre mais e nem perceber que seu estado se agrava e a chuva volta a cair torrencialmente. Com o vestido colado ao corpo continua correndo rumo a sua libertação.
Novamente escuta gritos e cavalos adentrando a mata, dessa vez brados raivosos, gela de medo, se a pegam agora lhe matam de verdade ou a torturariam de forma cruel. Está congelada de medo sem saber o que fazer quando um raio risca a mata e a sua frente surge um homem com um capuz que não da para ver seu rosto direito, só a luz de seu olhar, mirando esses olhos sob o capuz negro. Desmaia.



Cap. II


Quando Virgínia volta a si, depara-se com dois olhos que a fitam bondosamente. A princípio se assusta, não consegue recordar-se de onde possa estar. Olha ao redor e não reconhece o local. Deitada em um leito estranho, porém, acolhedor. A sua volta o local é simples, entretanto, limpo e calmante, raios de sol penetram brincando com seus cachos sedosos espalhados pelo travesseiro. Faz um gesto de quem vai levantar-se, duas mãos carinhosamente a retém deitada. Olha para esse homem fixamente e perde-se na profundidade de seu olhar, parece quando lhe desvendam a alma. Sente-se hipnotizada e dorme novamente. Agora um sono calmo e confortante.
Ao despertar novamente está só, é final do dia. O sol se põe para dar lugar à noite que cai mansamente. Escuta o barulho de uma cascata próxima. Pássaros cantando despedindo-se do dia e salvando a noite, o vento corta a mata, há uma paz muito grande. Procura se recordar do que houve e o porquê de estar nesse local. Lentamente a lembrança surge em sua mente; corria desesperadamente pela floresta em meio a uma tempestade. Fugia de seu algoz quando se deparou com o bruxo da floresta. No entanto, cadê aquele bruxo? Recordava-se quando abriu os olhos viu um homem doce, meigo e de olhar enérgico que a fitava com carinho e desvelo. Nada de semelhança com o bruxo que imaginava sob o capuz.
Pensamentos e indagações povoavam-lhe a mente:
- Como será que foi parar ali? _Olhou-se e percebeu que nada vestia por debaixo do camisolão. Corou até a alma.
- Quem a teria despido e vestido àquela roupa? Não percebia sinal de mulher naquela cabana. Só de pensar que ele a vira nua corava intensamente, um misto de pudor e excitação.
Um turbilhão de perguntas sem respostas assolava-lhe a mente.
A noite cai finalmente e a encontrar emergida em seus pensamentos. Da janela entreaberta fita o brilho das estrelas. Uma brisa gelada toca-lhe a face. Escuta um barulho, se volta e lá está ele, parado à soleira da porta fitando-lhe com um olhar indecifrável. Sente-se corar e recorda-se que está nua sob o camisolão. Quer deitar-se e se esconder. Porém, seus pés não a obedecem, parecem cravados no chão. Balbucia afinal:
- Quem é você, onde estou e porquê?
Aproximando-se dela com passos inaudíveis, como se pluma tivesse sob os pés responde:
- Sou Octávio, prazer em conhecê-la. Sente-se melhor?
E continua:
- Não devia estar tomando esse ar frio pela janela, ainda está fraca e convalescente. Seus pulmões estão debilitados ainda. Deve repousar.
E vai fechando a janela. Depois a conduz de volta à cama, tocando suas mãos suavemente.
Virgínia sente um calafrio com o toque daquelas mãos enérgicas e suaves, um misto de excitação, calma e pudor. Obedece sem protestar. Só consegue balbuciar:
- Meu nome é Virgínia.
Ele a olha meigamente enquanto a ajeita na cama e a cobre.
- Lindo nome. Condizente com a beleza da dona.
Octávio perde-se no olhar cor da mata de Virgínia. Ela cora e fecha os olhos fingindo dormir. Aquele homem a tocara profundamente, sente-se protegida como há muito não sentia. De olhos cerrados ainda escuta seu suave caminhar pelo quarto, fecha as cortinas alvas. Passa-se algum tempo e Virgínia escuta o crepitar da lareira aquecendo a cabana. Sente os olhos pesados e dorme. Pouco depois acorda faminta e com o cheiro delicioso que lhe chega as narinas. Quando abre os olhos depara-se com Octávio que se aproxima com suas roupas limpas, estende-as sobre a cama e diz:
- Se quiser se trocar para cear esteja à vontade. Temos um guisado de coelho com sopa de legumes. Gosta?
Virgínia está tão faminta que lhe parece o melhor banquete já saboreado antes por ela e diz:
- Sim, muito.
Octávio sai fechando-lhe a porta, ela veste-se rapidamente, sente dores no peito quando mexe, mas a fome é mais forte. Quando sai do quarto depara-se com uma espécie de sala e cozinha conjugada. Outra lareira aquece o ambiente e sobre a mesa uma fumegante refeição com dois pratos e talheres, tudo muito bem posto e sobre uma toalha branca. Tudo muito limpo e no seu devido lugar. Uma simplicidade e bom gosto que deixa transparecer que Octávio teve uma boa educação.
Octávio puxa-lhe a cadeira e ela se acomoda à mesa obediente e faminta. Ele a serve, Virgínia devora a refeição prontamente tamanha a fome. Só depois de algum tempo pergunta-lhe?
- Há quanto tempo estou aqui?
- Há uma semana.
Virgínia tem um sobressalto:
-Tudo isso?
- Sim, você esteve entre a vida e a morte, uma pneumonia muito forte devido ao temporal que apanhou na floresta.
Ela esperou que Octávio perguntasse o que houve, no entanto, ele não perguntou nada. Somente a aconselhou a repousar mais, pois ainda não estava de toda curada.




Cap. III



A vida transcorreu calma, os dias ora ensolarados, ora gelados se alternavam. Virgínia e Octávio aos poucos foram trocando confidências a ponto de um saber os mínimos detalhes, virtudes e defeitos um do outro.
Entre eles nasceu uma grande amizade e afeto jamais antes sentido por eles com outras pessoas. Uma tarde fria, com os picos das montanhas brancos de neve, os dois ceiam em frente à lareira crepitante. Entre risos e olhares cúmplices fazem confidências. Octávio pergunta:
- Já amou Virgínia?
O sorriso morre em seus lábios. Como uma tela de cinema vê seu passado passar pela sua mente e nem percebe que vai retalhando em voz alta. Em sua mente surge uma adolescente que passeia pelo jardim florido acompanhada por um fidalgo em tenra idade. Era Virgínia com 16 anos e Juliano com 18. Os dois estão apaixonados e sonham em se casarem. Juliano olha para ela como se contemplasse uma deusa de Olimpo. Sim, ela era sua deusa, sua Afrodite. Desejava tanto se casar com ela que sonhava de olhos abertos. Ela também o amava com loucura. Juliano era tudo que havia sonhado e desejado até então. O amor dos dois parecia algo que transcendia o tempo. Pareciam que se conheciam há mais de 16 anos e que estavam a espera um do outro.
Conheciam-se desde criança, depois ele saiu para estudar na Corte. Agora ao regressar houve um misto de ansiedade, medo e desejo de reencontrarem. Cada um por sua vez se questionava se ainda eram amados.
Quando se encontram percebem que o amor que os unia havia ficado mais forte. O desejo de para sempre estarem juntos era algo incontrolável naqueles corações juvenis que se adoravam.
Ambos perdiam-se olhando-se nos olhos. Seus corações saltavam-lhe ao peito. O primeiro beijo a fez desfalecer de emoção. Amavam-se... Amavam-se tanto... E de uma forma irremediável e perdidamente, loucamente.
Decidirão ainda nessa mesma noite de festa que Juliano a pediria em casamento, não iam mais esperarem. Estavam ansiosos para viverem para sempre um ao lado do outro. Juliano afoitamente adentra a casa a procura dos pais de Virgínia. Pedi que ela o aguardasse lá fora no jardim. Ela ansiosa fica esperando que a chamem logo para darem a boa notícia de seu casamento com seu doce e amado Juliano.
Passa as horas e nada do tão esperado e desejado comunicado. Virgínia vai ficando ansiosa. Que estava acontecendo?!- Pensava ansiosa.
Por que tanta demora?!
Tenta se manter calma, nada pode dar errado - pensa torcendo as mãos nervosamente - Juliano era bom partido, jovem e velho conhecido da família. Suas famílias eram amigas mesmo antes deles terem nascidos. Tenta se acalmar e sorri nervosamente. Então toma a decisão de ir ao encontro de Juliano e adentra a casa a sua procura. Atravessa o rico salão de festas já vazio. Cruza um longo hal e chega a porta da biblioteca, estava indecisa se entrava ou não quando houve vozes alteradas, sente seu peito bater acelerado, seu coração se descompassa. Houve seu nome sendo pronunciado em prantos. Era Juliano que desesperado dizia:
- Não! Mil vezes não! Não posso viver sem Virgínia! Não! Não...!


*******

Virgínia sente que algo de terrível a aguarda, o pranto de Juliano foi como um punhal cravado em seu peito, um pressentimento de que algo de muito ruim os aguardavam.
Como que fincada ao chão ainda pode ouvir a voz de seu pai:
- Sinto muito meu jovem Juliano. Sabe que tenho grande estima por sua família e por você. Porém, Virgínia está prometida para outro e minha palavra não volta atrás.
Virgínia não podia crer no que ouvia. - seu pai a prometera em casamento a outro e pior para aquele ser asqueroso do Leôncio sem nada lhe falar?!
Não! Nunca se casaria com aquele abutre. Tinha nojo até da voz pastosa, do andar afeminado e do olhar meloso que ele possuía e se insinuava a ela quando vinha visitar sua casa. Sente todo seu ser revirar. Nunca! Jamais se casaria com aquele ser ignóbil, somente se casaria com seu adorado Juliano. Ou então era preferível a morte. Sim! Mataria-se, mas nunca aceitaria aquele casamento arranjado.
Sai correndo dali, foge para seu refúgio secreto, uma gruta de pedras no bosque depois do jardim. Nessa Gruta ela e Juliano se escondiam quando crianças para brincarem. Ficavam horas a fio, teciam sonhos e projetos para o futuro, tudo era felicidade para aqueles corações infantis.
Adentra ao seu refúgio sem fôlegos, o rosto banhado pelas lágrimas e se joga ao chão. Fica assim em prantos por um tempo que mais parece eterno quando sente duas mãos a segurar carinhosamente e a levantar do chão frio noturno. Olha assustada e vê o rosto meigo e triste de Juliano. Abraçam-se longamente como se fosse a última vez.
- Meu adorado amor! Minha Amada! Não chore!
Abraçam-se e entre beijos apaixonados choram sua desgraça.
Depois de algum tempo assim abraçados decidem que ninguém os irá separar. Fugirão imediatamente. Saem da gruta já amanhecendo. Juliano busca seu cavalo e partem sem destino. Só sabem que onde estiverem, desde que juntos, é o que importa. O amor de ambos é tamanho que nada no mundo poderá separá-los.
Depois de alguns dias fugindo por caminhos ermos encontram abrigo em um lugar distante. Um casal de idosos arranja emprego e um quarto para ambos que se apresentam como recém-casados.
E assim vivem por doces dias o seu idílio de amor.

**********

Estão vivendo assim há dois meses. Sentem que o céu é na terra. Nada mais importa, a felicidade é poderem se amar, se olharem, saberem que estarão juntos para sempre. Apesar do medo de serem encontrados a felicidade de estarem juntos é maior e os fazem serem otimistas quanto ao futuro.
Uma manhã Virgínia acorda indisposta, sente náuseas, o mundo gira. Juliano teme a saúde dela. Nessa hora sente um aperto no peito, ele um recém formado advogado trabalhando como um homem de povo sem condições de oferecer a sua amada o tratamento digno de uma lady e sua esposa. Sai correndo e chama a bondosa senhora que os abrigara e dera emprego. Ela prontamente vai socorrer Virgínia. Quando a examina abre um sorriso e diz:
- Parabéns aos mais jovem casal de papais.
Juliano e Virgínia se olham entre assombrados e felizes. Um filho era a maior benção que os céus poderiam lhes conceder.
Desse dia em diante tanto Juliano como a bondosa senhora a trata como cristal. Mimos e mais mimos.
Virgínia teme que tanta felicidade possa causar inveja aos deuses.
A vida vai transcorrendo nessa felicidade enquanto o bebê vai crescendo no seu ventre e o amor de ambos se fortalece e aumente (se é possível isso) a cada dia.
Uma noite Virgínia sente calafrios estranhos. Juliano se atrasa para chegar da lida e seu coração descompassado a deixa inquieta. Já está quase em pânico quando ele adentra a casa. Virgínia em prantos se joga em seus braços. Ele sem entender a abraça e beija tentando acalmá-la.
Passado o susto Virgínia conta a Juliano seu pressentimento. Um misto de perde e morte. Juliano estremece, porém, acalma-a diz que foi devido a seu estado, que nada acontecerá, ninguém os encontrará em lugar tão ermo.
Assim abraçados adormecem. Desde que estejam juntos nada mais importa. E agora tinham o filho que os unia mais ainda e para sempre.
O dia de o bebê nascer vai chegando. Juliano fica menos tempo na lida e mais ao lado de Virgínia.
Era final de primavera quando Virgínia sente as primeiras contrações. De seu leito sente o cheiro de lírios que adentra pela janela. Juliano aflito anda pelo quarto apertando as mãos, para e acaricia Virgínia que sorri entre dores tentando acalmá-lo. Pouco depois ouve passos largos. Estranha, mas seu nervosismo o faz pensar que deve ser a senhora que veio ajudá-lo no parto de sua amada.
Quando abre a porta depara-se com o pai de Virgínia acompanhado de Leôncio e dois capatazes mal encarados.
Tem um sobressalto e tenta fechar a porta. Dois pés com esporas impede. Corre a fechar a porta do quarto onde está Virgínia. Antes de conseguir é jogado ao chão pesadamente e leva uma chibatada nas costas que lhe rasga a camisa e corta-lhe a carne jorrando sangue ensopando-lhe a roupa.
Virgínia escuta gritos e levanta-se, vai até a porta e depara-se com Juliano caído ao chão com as costas ensangüentadas.. Solta um grito de dor e agarra-se a Juliano.
- Nãoooo. Por Deus não o matem. Matem a mim, mas poupe meu amado Juliano.
E cai ajoelhada aos pés de seu pai.
Leôncio olha para seu ventre e depois para o pai de Virgínia atônitos. Ambos estão chocados; não esperam a gravidez de Virgínia.







Cap.IV


Juliano levanta-se agarra Virgínia e a leva ao quarto ante o olhar atônito de todos. Ninguém a princípio esboça o menor gesto.
- Minha amada Virgínia. Cuide-se. Cuide de nosso amado filho. Não se preocupe comigo, estarei bem e de onde estiver estarei contigo e com nosso filho pelo coração. Jamais os abandonarei. Vou conversar com seu pai, ele vai compreender e aceitar. Afinal vamos lhe dar um lindo netinho. Aguarde deitada logo virei Ter contigo.
E a beija suave e longamente, Virgínia o agarra em prantos implorando não vá. Ele a acalma e sai do quarto, jurando nunca abandoná-la. Ao chegar a sala seus algozes o olham estranhamente. Juliano tenta argumentar. Dizer o quanto se amam, falar sobre o filho que tanto esperam e que será a coroação de sua felicidade. Não consegue dizer mais nada, recebe um golpe na cabeça e desmaia.
Enquanto isso Virgínia entra em trabalho de parto, seu ventre se abre em dores, grita o nome de Juliano, sente desfalecer, seu mundo está ruindo. Recobra suas forças, pensa no pedido de seu amado e pede aos céus ajuda para seu adorado filho que está nascendo para o mundo entre a incerteza do amanhã. Uma luz intensa vindo da lua cheia entre pela janela e assiste a chegada de seu filho ao mundo.
Virgínia com o resto de suas forças pega seu lindo bebê e o aninha entre seus braços. Olha em seus olhinhos, beija suas faces rosadas e vê que é um lindo menino, a cara do pai. Uma lágrima rola por sua face e cai nas bochechas rosadas de seu bebê. Balbucia:
_Juliano... Juliano...
Desmaia.
Quando volta a si está novamente em seu antigo quarto na casa de seu pai. Procura por Juliano e seu filho nada vê. Tenta levantar-se percebe que está de pulsos amarrados à cama, entra em desespero. Cadê Juliano? Cadê seu filho?
Está só, nem sinal de ambos.
Algum tempo depois entra sua criada de quarto com lágrimas nos olhos a desamarra e abraça sua ama chorando. Ajuda a trocar de roupa e a tomar a sopa que Virgínia toma a contragosto. Tenta saber de seu filho, mas nada consegue obter de sua criada que mesmo a amando muito nada diz.
_Por Deus Ana Lúcia diz onde estão, meu filho e Juliano?
_Ana Lúcia (a criada) chora.
_Minha menina sossega seu pobre coração eles estão bem e seguros. Confia em mim, confia em Deus. Obedece a seu pai e case-se com Leôncio. Prometo que cuidarei de seu filho. Prometo que ele será como se meu fosse, o mesmo amor e desvelo que tive ao criá-la terei pelo pequeno.
_Então você sabe onde está. Me diz, me deixa vê-lo.
Ana Lúcia não suportando mais o sofrimento daquela que criou como sua e a amamentou com seu leite quando perdeu seu filho conta a Virgínia.
Conta o que viu quando seu pai e Leôncio mandaram dar sumiço no pequeno para ninguém saber da vergonha que a filha trazia para a família. Vendo que iam matar o bebê ela os segue pela mata e vê quando deixam o bebê deitado nu entre as folhas secas a espera que os animais o devorassem e quando se vão, ela se aproxima e pega a criança. Sai correndo e o esconde com um casal de idosos que viviam em uma cabana abandonada. Dá-lhe algum dinheiro e promete trazer mais se cuidarem com desvelo e em segredo do pequeno. Eles aceitam a oferta prontamente.
Virgínia chora de tristeza pela crueldade dos seus e feliz ao mesmo tempo por saber salvo seu filho.
- Obrigada Ana por Ter salvado meu filho. Jamais saberei como agradecer.
- Minha criança. Fiz o que qualquer mãe faria. Esqueceu que você é minha filha do coração?
Abraçam-se unidas pelo amor de muitas eras que unia a ambas e pela desgraça que agora exigia mais essa prova de amor sublime entre dois seres unidos pelo destino novamente. Depois desse enlevo Virgínia questiona sobre Juliano. Ana diz nada saber um pouco embaraçada.
Virgínia não acredita e insiste. Ana diz:
- Não o vi. Escutei seu nome muito de relance, evitam tocarem em seu nome. Só dizem que partiu a mando dos pais para completar os estudos na corte.
Virgínia sente uma imensa tristeza e um vazio. Sente-se abandonada. Juliano jurou nunca abandoná-la. Porque fez isso? E chora desconsolada e de coração partido. Justo agora que precisava tanto dele ele a deixara com seu filho e voltava para a corte.
Pressionada por seu pai e com a promessa de Ana que protegeria seu filho Virgínia de coração partido e desiludido com a ausência de Juliano, casa-se com Leôncio e tenta ser uma boa esposa. Não tem mais sonhos nem ilusões quanto ao amor, age como uma autônoma, vazia e sem alma. Um objeto a mais no castelo de Leôncio.
Tem três filhos com ele e sempre pode saber notícias de seu adorado filho com Juliano por Ana. Um dia Ana a leva para vê-lo de longe, não devia se aproximar, pois poderiam desconfiar que o pequeno ainda vivia. Que felicidade quando o viu mesmo de longe era a cara de seu amado Juliano. Como se pareciam chorou seu amor perdido e a distância do filho que tanto esperavam e que seria a coroação de suas felicidades.
- Porque Ana Juliano não lutou por nós? Porquê?
Ana quando vê o sofrimento de sua adorada filha do coração diz:
- Ele tentou, mas o ameaçaram. Disseram que ou ele escolhia, ficar e ver a morte de seu filho e sua ou deixá-los. Seu pai prometeu que cuidaria de ambos se ele se fosse para bem longe. Ele obedeceu. Dois anos depois morreu de pneumonia na corte chamando por vocês. Nunca os esqueceram, mas os julgavam bem cuidados e felizes. Seu pai se encarregou de que ele soubesse de seu casamento com Leôncio. Ele morreu a amando minha filha.
Virgínia banhada em lágrimas ora por seu amado e pede que cuide de seu filho esteja onde estiver.
Desse dia em diante Virgínia perdeu o gosto pela vida. Leôncio ainda procurava atrair a atenção da esposa, mas ele sempre indiferente cuidava de seus outros filhos com amor e de Leôncio como uma criada, sem demonstrar nem amor nem ódio, só indiferença.
Leôncio se irritava com a maneira de Virgínia e fazia de sua vida um verdadeiro inferno. Ela tudo aceitava sem nenhum protesto. Isso a deixava mais enraivecido. Tinha uma linda esposa, mas uma esposa de mármore, sem sentimento algum, nem ódio, nem amor.
E assim, Virgínia em prantos volta a si desse relato a Octávio. Ele a enlaça carinhosamente e com uma canção estranha, porém, linda e calmante, deslizando suas mãos pela sua longa cabeleira vai acalmando-a.
- Calma tudo já passou. Sossega seu coração. Dorme.
Seu comando mais parece uma ordem e Virgínia nada mais vê, dorme assim nos braços de Octávio.
Quando acorda está no leito, é manhã. O canto dos pássaros entra pela janela a lareira ainda crepita como se alguém o tivesse revivido há poucos minutos. Pensa em seu filho hoje deve Ter a idade do pai quando partiu 20 anos. Nunca mais o vira somente aquele dia que Ana a levara para vê-lo. Logo soube que o casal morrera e seu filho então com 15 anos partira com um homem que não sabiam quem era. Perdera o contato e notícias dele para sempre.
Virgínia se sentia o ser mais infeliz da terra, só agora tinha o carinho de Octávio que a tratava como um cristal precioso.
Escuta vozes, estranha, até então não vira ninguém na cabana, lhe parecia que Octávio vivia só.
Novamente silêncio. Sai do quarto e Octávio está preparando uma refeição com um aroma embriagante.
Serve uma xícara desse chá de efusão e ela sorve-o com prazer. Um sabor de ervas aromáticas que ela desconhecia, mas que a reanima prontamente. Então ela questiona sobre ele, se vive só e quem estava com ele.
Octávio com olhar indecifrável diz que vivia só, mas que hoje tinha a companhia de alguns filhos adotivos que os céus lhe enviara para lhe fazer companhia. E que estavam em retiro na floresta e apanhando ervas para a confecção de remédios que ele fabricava para atender aos necessitados que acorriam a ele em busca de ajuda para seus males, visto que não tinham recursos para irem ao médico, coisa rara e só para os fidalgos da época.
Virgínia admira ainda mais Octávio pelo seu desprendimento em ajuda aos necessitados e desprovidos de poder aquisitivo.
Octávio a pega pela mão, o que faz Virgínia enrubescer a princípio, depois sente uma onda de calor e felicidade muito grande. Ele se nota o tumulto de emoção que provoca nela finge não perceber. Vai levando-a assim de mãos enlaçadas para fora. Passa por entre um jardim aromático encantado, depois por um bosque e logo surge uma cabana logo abaixo de uma cascata. Devia ser a mesma que ela ouvia de sua janela todas as noites. Fica encantada com a visão paradisíaca que depara-se a sua frente.
Octávio diz:
- Aqui é meu laboratório. Quer conhecer?
- Sim, claro que quero. Terei imenso gosto.
Caminham assim de mãos dadas por entre ervas e flores aromáticas até a soleira da porta dos fundos. Octávio abre a porta e ela antevê um rústico, mas bem equipado laboratório e alguns livros em uma rústica estante de madeira. Lá dentro um rapaz de seus 16 anos a olha indagativamente. Octávio o apresenta com seu filho Henrique. Ele estava com um livro aberto lendo o que parecia ser fórmulas de manipulação.
Octávio mostra a Virgínia seu pequeno e eficiente laboratório.




Cap.V


Virgínia se encanta com tudo e principalmente a cada dia com Octávio. Um misto de respeito, admiração e... Será amor? Não. Pensava é pura gratidão. Juliano foi e será seu único amor nessa vida. Jamais amaria outro assim.
Dias depois sentada sobre um banco de madeira roliça no jardim aromático ao cair da tarde com um livro no colo Virgínia levanta seu olhar e tem uma vertigem ante a visão que se aproxima dela. Pensa que está morrendo, o ar lhe falta. Lá vindo ao seu encontro está Juliano. Seu adorado Juliano veio buscá-la e tirá-la desse sofrimento. Levanta-se e caminha para ele de braços abertos. Cambaleia e sussurra:
- Meu amado Juliano você veio me buscar!
E cai desacordada ao chão amparada pêlo braços ágeis do rapaz que chegara sem nada compreender.
Ele a carrega no colo e entra em casa com ela. Octávio que tudo assistiu da varanda abre a porta e os conduz ao quarto. Acomodam Virgínia que ainda balbucia com voz quase inaudível.
- Juliano, meu adorado Juliano, você veio finalmente me buscar.
O rapaz nada entende, mas confia muito em Octávio que o criou como filho e o ensinou seu ofício de curandeiro, a amar a natureza e todos os seres. Acompanha Octávio para fora do quarto.
Octávio conta como a encontrou e que agora ela era uma hóspede especial e que estava debilitada por isso o confundiu com uma miragem de seu amado Juliano.
Compreendendo e com pena da jovem senhora Felipe promete ajudar no que puder para a cura e paz de Virgínia.
- sabe pai, quando ela veio ao meu encontro tive a impressão que já a conhecia, mais nunca a vi. Estranho isso.
Octávio o olha com carinho como se soubesse o porquê e nada lhe era estranho do que acontecia. No fundo sabia de toda a verdade. Mãe e filho se encontravam finalmente e se reconheciam. Sentia-se feliz por isso e há muito esperava esse acontecimento.
Então Octávio começa a relatar a história de Virgínia para Felipe que se emociona muito e sente um imenso carinho e amor por aquela mulher tão frágil e sofredora. Por fim Octávio diz:
- Você meu filho do coração é o bebê de Virgínia e Juliano.
Felipe tem um sobressalto. Um misto de espanto, surpresa e alegria. Por fim encontrar sua genitora quantas vezes perguntara por ela e ninguém lhe contava. Sua doce mama Ana lhe dizia que era uma criatura linda e meiga, que o amava demais. Quando perguntava por ela dava a entender que morrerá no parto. E agora ela estava ali na cama ao lado e o confundira com seu pai, que também Ana lhe falara e disse estar morto. Será que também vivia?!
Tantas perguntas lhe saiam juntas e confusas, Octávio o acalmou e disse:
- Calma filho lhe elucidarei no que puder. Acalme-se.
E Octávio lhe contou que um casal de idosos ao qual munia sempre com seus ungüentos um dia lhe aparecera com um bebê rosado que chorava com fortes dores. Ele o tomou em seus braços e o examinou passou-lhe algumas ervas e tomou-se de amores pelo recém-nascido. Tomou a criança sob sua proteção, ficou sabendo pela doce criada que o acompanhava que o bebê fora encontrado abandonado na floresta a própria sorte. Os quatro então selaram em silêncio um pacto de amor e proteção ao pequeno. Ana se desdobrava em amor pelo pequeno. Felipe a chamava de mãe, Gustavo de pai e o casal de idosos de avós. Era uma família Suí-Generes, mas cheia de amor para com o bebê. Assim ele foi crescendo e quando tinha 15 anos o casal de idosos falecera, então Ana e Octávio acharam por bem que ele fosse viver na floresta com ele.
Octávio então diz que o relato de Virgínia pode concluir que Ana disse a Virgínia Ter perdido o paradeiro do filho temendo que a mesma o procurasse e sem perceber colocasse sua vida em perigo.
Felipe extremamente emocionado com sua história deixa algumas lágrimas rolarem pela face. Pobre mãe Virgínia como deve Ter sofrido, primeiro perde seu pai que amava e depois julga tê-lo perdido para sempre também. Agora que a encontrara lhe daria todo o amor e carinho que merecia.
Estavam assim abraçados emocionados quando perceberam que não estavam sós. É Ana que chegara e ouvia tudo entre lágrimas. Ambos a abraçaram emocionados.
- Pai, mãe amo vocês.
- Sabemos, filho. Não tenha receios de amar sua mãe Virgínia ela merece. Não teremos ciúmes, muito pelo contrário, sempre sonhamos com isso.
Estão assim emocionados quando percebem que Virgínia banhada em lágrimas agarrada a soleira da porta os escutava. Felipe sai primeiro dessa letargia.
- Mamãe, mamãe Virgínia.
E a toma em seus braços, acariciando seus cabelos beijando suas mãos. Virgínia se agarra ao seu adorado filho como se o prendesse em seus braços para sempre.
- Meu adorado filho. Meu adorado filho. Graças dou aos céus que o trouxeram de volta para o seio de sua mãe antes que eu partisse desse mundo.
Desfalece e Felipe a leva ao leito. Carrega em seus braços com tanto cuidado como se carregasse o maior e mais delicado tesouro já visto antes em sua vida.
Virgínia entra em uma espécie de sono profundo por noites a fio delira e chama por Juliano, ora por Octavio.
Octavio e Felipe se revezam em seu leito e cuidam da delicada saúde de Virginia. Felipe tem momentos de tristeza profunda.
- Não é justo pai, logo agora que encontro minha mãe ela não pode morrer. Salve ela pai. Sei que você pode fazer isso.
- Calma filho. O que posso fazer estou fazendo. O resto cabe a Deus. Oremos e confiemos. Tudo acabará bem. Esta noite terei que ir ao retiro da floresta, você cuida dela e lá farei o que estiver ao meu alcance, dentro de três dias estarei de volta.
Felipe assente com a cabeça. Octavio de vez em quando saia para esse retiro espiritual na floresta e só voltava dias depois, mais remoçado e com novas formulas químicas.





Cap. VI


Virginia vai se estabelecendo aos poucos. Com o carinho de Felipe, Octavio e sua mãe de leite Ana se sentem pela primeira vez amada de verdade depois que perdeu Juliano. Sentia saudades de seus outros filhos, mas a presença de Felipe a fazia recordar-se de Juliano e aquecia seu coração. Octavio várias vezes foi pego por Virginia a fitando enternecido. No fundo aquela situação o fazia se sentir como uma família que sempre sonhava e por revezes do destino a chance que pensava ter era falsa. Uma grande desilusão o fizera se tornar um ermitão e desistir de sonhar em ter uma família como os demais.Prefira se dedicar ao ocultismo como forma de crescimento espiritual e também uma forma de minimizar os sofrimentos alheios daqueles que a procuravam.
Agora quando fitava a doce Virginia, tão bela e encantadora com seus lindos olhos que lembravam sua amada mata cheia de encantos e mistérios sentiam um calor aquecendo seu coração. A simples presença dela o fazia sentir uma avalanche de sentimentos. Logo ele que pensava estar imune a esse tipo de sentimento. Estava com 48 anos e pensava estar vacinado contra esse tipo de amor carnal. Porém, Virginia o deixava confuso e às vezes sonhador.
Felipe, que aprendia o ocultismo com Octavio, mostrava-se um exímio aluno com muita perspicácia e don de cura. Octavio tinha mais dois filhos adotivos que o ajudava com as fórmulas, no entanto, Felipe era o filho do coração. Aquele a quem estava ligado por laços indissolúveis por muitas e muitas eras. Como mestre sabia que vivera outra vida e sabia o quanto Felipe era importante para ele. Não só Felipe, também Virgínia e Ana eram almas caras ao seu coração.
E assim os dias foram transcorrendo, serenos e cheios de encantos. Por várias vezes Octavio levava Virginia para tomar sol no jardim e por horas a fio se perdiam conversando, revelando suas almas pouco a pouco. A ponto de se sentirem tão próximos que não se imaginavam mais vivendo mais um longe do outro. Uma amizade tão forte que somente a existência de outras vidas podia explicar.
Virgínia percebia que Octavio além de grande amigo lhe olhava com um carinho tão enlevado que a fazia corar fingia nada ver. No fundo seu coração cheio de cicatrizes desde que perdera Juliano começava a dar sinal de que ainda pulsava a fazendo lembrar-se que ainda era uma jovem e bela mulher. Procura afastar esses sentimentos e agradecia a Deus por tê-lo colocado em seu caminho e de seu amado filho Felipe. “De onde Juliano estiver com certeza estará feliz por saber que agora estamos juntos” - pensava Virginia e sorria.
Ana agora que sairá de vez da casa dos pais de Virginia o ajudava nos afazeres domésticos. Já estava idosa, mas pode estar sendo útil a sua amada filha Virginia e a Felipe lhe enchia o coração de orgulho e satisfação.
Há muito era viúva. Quando Virginia nasceu havia uma semana que perdera seu filho de uma forte febre. Estava inconsolável quando a chamaram para amamentar Virginia que nascera prematura e sua mãe não tinha leite. Ana tomou a pequena nos braços e caiu de amores pela pequerrucha de faces rosadas. Imediatamente em seu bondoso coração todo o amor que não pudera dar ao filho morto fora transferido para Virginia. Cuidava dela com tanto desvelo e amor como poucas mães cuidavam de seus legítimos filhos.
Quando Virginia adoecia era Ana que dormia a sua cabeceira, velava por sua saúde a noite toda. Era mana Ana que Virginia chamava quando tinha pesadelos noturnos. Era ela que Virginia contou sua primeira menstruação e foi ela que cuidava de Juliano e Virginia nas suas brincadeiras de crianças.
Virginia sempre se prevalecia do amor dos dois. Juliano deixava Virginia fazê-lo de gato e sapato. Tudo desde que a visse sorrir e feliz. Ana tentava repreende-la, mas a amava tanto que acabava rindo de suas traquinagens.
Foi Ana que soube do amor dos dois e de suas intenções de se casarem. Ana esteve sempre presente na vida de Virgínia que se perguntavam para a mesma: Cadê sua mãe? –Virginia se esquecia da progenitora e chamava Ana; causando um certo embaraço e incomodo para seus pais. No entanto sua mãe sempre esteve envolta as festas e as roupas novas que, também se esquecia da filha, lhe era cômodo que Ana assumisse todas as tarefas que cabia a ela. Assim ficava livre desse encargo que não lhe agradava.
Dessa forma a presença de Ana e Felipe era tudo que Virginia podia alvejar delicioso exílio.
Felipe por sua vez também estava feliz. Tinha ao seu lado suas duas mães e seu pai Octavio. Apesar da saúde de Virginia exigir muitos cuidados era otimista. Cuidaria dela e a faria ficar boa. Confiava nos poderes de Octavio.
A primavera passou deixando a saudade de suas flores. Os dias foram passando e novamente chega o inverno. Os bicos das montanhas voltam novamente a ficarem brancos e a saúde de Virginia volta a sentir e ela tem uma recaída. Octavio e Felipe se revezam em seu leito com redobrado amor e dedicação. Ana ora e faz promessas aos céus para curarem sua filha amada.
Octavio sempre tão sereno e seguro da mostras de seu sofrimento interior. Havia se acostumado tanto à presença meiga de Virginia que se sentia uma família. A hipótese de perdê-la pela primeira vez abalou aquele homem tão sereno. Segurava sua mão e de olhos fechados orava e pedia aos céus que não a levasse, que a deixassem com ele. Nesses momentos Virginia abria os olhos e lhe sorria enternecidamente e dizia!
- Obrigada...Obrigada...
Beijava suas mãos e voltava a seu estado de letargia de antes. Era apenas lampejo de consciência. Depois apagava. Em seus delírios havia momentos em que parecia conversar com alguém, falava o nome de Juliano, contava sobre o filho Felipe. Ana e Felipe choravam. “Esta morrendo”, pensavam e vê a alma de Juliano. Octavio entristecia. Compreendia e se encantava com um amor tão lindo. No entanto, sentia um certo incomodo e até desejava ser Juliano e ser tão amado igual era ele. Nunca fora amado assim. Sentia que Virginia também tinha por ele um sentimento especial, mas igual ao que sentia por Juliano era algo único e especial.
Os dias foram se transcorrendo sem muitas mudanças. Um dia Virgínia acorda mais disposta e pede para que a leve ao jardim de onde pudesse ver a cascata que a embalava seu sono por muitas noites. Estava fraca e falava quase inaudível. Octavio a toma em seus braços e acompanhado por Felipe e Ana a levam ao jardim. Virginia enche os pulmões de ar tosse e depois olha um por um carinhosa e demoradamente. Estende a mão:
- Ana, minha mãe Ana. Quero lhe agradecer por todo o amor, carinho e desvelo que teve para comigo toda a vida. Nunca poderei agradecer...
- Minha filha nada tem a agradecer, só fiz o que qualquer mãe faria por sua filha.
E abraçam-se entre lágrimas. Virginia então olha para Felipe:
- Meu amado filho. Deus não quis que vivêssemos juntos quando nasceu. Mas o agradeço por tê-lo me dado o privilégio de reencontrá-lo aqui com Octavio e estar comigo antes de me levar. E abraçam-se emocionados. Virginia em outra crise de tosse. Fazem um gesto de leva-la para dentro e ela retém.
- Não. Agora me deixe falar a sós com Octavio um instante.
Eles obedecem emocionados.
- Octavio...
- Não diga nada Virgínia, você precisa repousar.
Diz Octavio emocionado segurando as lágrimas.
- Preciso lhe confessar algo e agradecer pelo carinho que tem dedicado ao meu filho e a mim.
- Nada deve agradecer. Esquece. Fiz porque devia. Eu que agradeço a Deus por Ter conhecido nosso filho Felipe e agora a você doce Virginia.
- Octavio. Se não amasse tanto Juliano você com certeza seria o amor que pediria a Deus.Eu amo muito você também, e só posso agradecer a Deus por tê-lo posto em meu caminho naquele dia na floresta.
- Eu que agradeço tê-la encontrado. Foi o dia mais feliz da minha vida.
- Octavio... Diz emocionado
E tem mais um acesso de tosse
- Vamos para dentro Virginia. Venha descansar.
- Não. Sei que morre e gostaria de partir assim, ao seu lado e vendo a cascata...
- Por favor, não diga isso, você não vai morrer.
- Você sabe que sim. Sabe mais que eu. Não se engane querido. Só queria agradecer-lhe...
Octávio a abraça enternecido e ficam assim por alguns minutos que mais parecem eternos. Ele acaricia os cachos sedosos de Virginia, quando percebe que ela esta muito quieta a olha e...Virginia partiu, com um sorriso nos lábios sentindo a suave carícia que Octavio fazia aos seus cabelos. Octavio então olha aquela face inerte há pouco com vida, e lhe da um beijo suave nos lábios, seu primeiro beijo. Sim, seu primeiro beijo ela só pode receber depois de já ter abandonado a vida. Mas em seus lábios pairava um doce sorriso de felicidade e agradecimento a Octavio.



FIM!
20 Junho/2002
Vanderli Medeiros
vanmedeiros@ieg.com.br
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