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Artigos-->MOTIVO FÚTIL E TORPE — THE MOVIE -- 28/07/2009 - 23:12 (Sereno Hopefaith) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Número do Registro de Direito Autoral:130951688643339100
A história de uma das muitas maldades da pomba-gira Paulicéia está contada no filme de Marco Dellacosta de nome homônimo ao título. Humberto Rohden opinava que as religiões que aportaram nas praias brasílias provenientes do continente africano eram de baixíssimo gabarito.



Muitos críticos de sua obra dizem que essa opinião foi motivada por preconceitos. Acho-a mais motivada por evidências. Históricas. Evidências provenientes de estudos da Antropologia. O candomblé baixou em Porto Seguro trazido pelos escravos da Nigéria (iorubas) e os da costa de Daomé (jejes). Os bantos do sudoeste africano adaptaram o candomblé à sua cultura particular. Esta cultura desenvolveu-se no ambiente da Senzala. Nela eram exercitados os costumes e crenças de povos africanos amontoados pelos senhores da Casa Grande após a deportação dos escravos de seus países de origem para as Américas via navios negreiros. Eram simplesmente privados da família, do habitat natural e trazidos nas galés. Os que chegavam vivos eram comercializados para o trabalho nos engenhos, nas plantações de cana e café nas cidades paulistanas, cariocas e baianas.



A origem da religião dos orixás na África é associada a Odudwua, Ninrod (Hebraico:&
1504;&
1502;&
1512;&
1493;&
1491;, pela moderna grafia Ninrod dos povos à margem do Tibre&
1504;&
1502;&
1512;&
1491;, ou pelo Ninrod Árabe: &
1606;&
1605;&
1585;&
1608;&
1583;). Originalmente é um monarca da Mesopotâmia mencionado no livro do Gênesis. Há estreita semelhança do método de consulta a Ifá (o oráculo) com o método da Cabala (interpretação mística da Bíblia) judaica. Historiadores afirmam que os yorubás são de descendência judaica.



Os ritos dirigidos por um babalorixá ou uma ialorixá. As oferendas e consultas espirituais efetuadas através de passes em terreiros e do jogo de búzios. Décadas após a abolição da escravatura, nos inícios do século XX a umbanda deu o ar de sua graça no Rio de Janeiro. O sincretismo religioso que ela representa une candomblé, catolicismo e espiritismo.



Cada orixá representa uma força da natureza. Evoca os elementares da água, da terra, do ar e do fogo. A invocação dessas forças produz uma energia pessoal ou campo energético que abastece ao mesmo tempo as baterias psi e a libido: a mente e a perereca da Paulicéia produziram uma energia substancial (asé). Saturada da pólvora acumulada de suas frustrações, a pomba-gira produz o descarrego delas num ato inconsciente e ao mesmo tempo deliberado de perversidade atávica. “Mágica”. Cabalística.



A Igreja católica e o Estado republicano andaram se estranhando. E a partir desse estranhamento com a Proclamação da República, discriminar o sincretismo religioso tornou-se ato punitivo no código constitucional. Na Carta Magna. Essa separação aparente e provisória tornou-se verossímil a partir do advento da Teologia da Libertação com frei Leonardo Boff. São deles as frases: “Hoje nos encontramos numa fase nova da humanidade. Todos estamos regressando à Casa Comum, à Terra: os povos, as sociedades, as culturas e as religiões. Todos trocamos experiências e valores. Todos nos enriquecemos e complementamos mutuamente... Há mil razões para se viver mais e melhor na mesma Aldeia Comum: o Planeta Terra.”



É certo que todos precisamos valorizar a cultura popular. Não a cultura popular produto da patologia. Da doença psi de uma raça que tenta recuperar suas origens mágicas e cabalísticas, como qualquer outra raça, a partir de distorções culturais produto de uma patologia vingativa e incivilizada. Mas, quem disse que o homem branco, protestante, representante do rico colonizador do olho azul era ou é civilizado? Daí se manifesta a opinião de Humberto Rohden. Aquelas civilizações africanas, americanas, ameríndias, asiáticas, orientais, todas são produtos da mesma compulsão pré-colombiana de sobrevivência de dominação do mais rapace sobre o menos.



Do ponto de vista do colonizador europeu os cultos africanos deveriam ser reprimidos. No entanto, com a Proclamação da República, a Igreja e o Estado supostamente se separaram. A partir daí, tornou-se um contra-senso a polícia discriminar ou reprimir manifestações religiosas. O movimento modernista e a valorização da cultura popular permitiram às religiões afro-brasileiras tornaram-se objeto de interesse e estudo de intelectuais teóricos discursivos em sua defesa.



Desse modo, a umbanda parou de ser punida pela religião oficial aliada aos poderes do Estado, e foi conquistando muitos seguidores. Para ela o universo está povoado de entes espirituais que se fazem presentes através dos guias e das guias: caboclo, preto-velho, pomba-gira. O caboclo se apresenta no ambiente natural do índio brasileiro. O preto-velho representa um momento da memória “impressionista” do escravo negro no cativeiro. A pomba-gira, a feminilidade por vezes exaltada das mães pretas e filhas de santo da nação yorùbá do candomblé. As práticas mudam de expressão ritual de região para região do país.



O cineasta Marco Dellacosta filmou a personagem Paulicéia, uma pomba-gira da pesada, espécie de cocota de subúrbio. A mulher tem um “paizim” ao qual recorre toda vez que se sente preterida na realização de seus desejos. Sua maldade exemplar (se é que maldade pode ser exemplar) um tanto quanto depressiva, brota dos grotões psicorecessivos mais primitivos, dos rituais de evocação das forças elementais da natureza.



Revolta e vingança dominam o ambiente da caverna primitiva, urbana, onde ela se manifesta. A pomba-gira enquanto manifestação (incorporação) de terreiro da Paulicéia, costuma ser de uma vulgaridade e perversidade atávicas. E a Paulicéia não é exceção. Ela se engraçou de um mecânico casado, pai de uma criança de berço. A mãe da criança se descuida um momento da guarda do filho. Esse momento é suficiente para a Paulicéia roubá-la e supostamente vitimá-la, oferecendo-a em sacrifício no ambiente ritualístico do despacho e de seus intentos de conquista.



Paulicéia, a gira desvairada, rouba a criança do carrinho de bebê no intuito de sacrificá-la ao intento de abocanhar o mecânico, destruindo a família deste. O Motivo Fútil E Torpe do título não diz tudo sobre a soberba e covarde intenção. Uma criança de berço, subtende-se, não possui a menor condição de reagir a qualquer ato de intencionalidade obscena e infame de um adulto. De uma gira com abelhas africanas na caverna entrepernas: a pomba-gira Paulicéia.



A influência de personagens de Jorge Amado está presente. Paulicéia não é nenhuma Tieta do Agreste, mas é ruste, bravia, desagradável praca. A distância abissal entre um motivo insignificante e um crime selvagem, dos tempos paleolíticos do Brucutu, acontecendo na psique perturbada da Paulicéia, configura um desvio de conduta, uma perturbação “pato lógica” que nem Freud explica. Totalmente. Tamanha a gratuidade e a distância entre ato criminoso e usufruto mecânico da perereca cheia de marimbondos de fogo da gira Paulicéia. Desvairada.



O filme foi absorvido do livro de contos “O Filho do Hipnotizador e outras histórias de pessoas estranhas” do autor Denis D. A adaptação do conto para roteiro: Túlio César Gama e Silva. Atores: Tatiana Godoy, Yoram Blaschkauer, Oswaldo Eugênio, Vitória Cardoso e Adolfo Moura. O figurino e objetos de cena são de Rafael Sartori Parise. Direção de Produção: Rogério Arton Schiavinato. Direção de Arte: Diego Maffuche. Direção de Fotografia: Paulo Xinxa. Montagem: Marcos Kacherian. Som, trilha-sonora e mixagem: Serginho (Estúdio Saxofunny).



(www.motivofutiletorpe.com.br)
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