Gênesis (Ver nota Gênesis)
Criação do mundo.
Capítulo 1
1. No princípio, Deus criou
os céus e a terra.
2. A terra era sem forma e
vazia. As trevas cobriam o abismo, e o Espírito de Deus pairava sobre a
superfície das águas.
3. Deus disse: Faça-se a luz.
E a luz foi feita.
4. Deus viu que a luz era
boa e separou a luz das trevas. Às
trevas, integrou Deus os monstros, os fantasmas, os zumbis, o lobisomem, o
diabo, os sátiros, os cíclopes, os ogros, os gigantes, as bruxas, os vampiros,
enfim, toda espécie de criaturas noturnas (e diurnas, também) que viriam
habitar a mente dos seres que ainda viria a criar, para amedrontá-los.
Permitiu-se um sorriso. Viu que isso era mau.
5. Deus chamou dia à luz e
às trevas noite. Houve tarde e manhã: foi o primeiro dia.
6. Deus disse: Haja um
firmamento entre as águas para mantê-las separadas umas das outras.
7. Deus fez o firmamento e
separou as águas que estavam sob o firmamento.
8. E assim aconteceu. Deus
chamou céus ao firmamento. Houve tarde e manhã: foi o segundo dia.
9. Deus disse: Reúnam-se as
águas que estão debaixo dos céus num único lugar, a fim de aparecer a terra
seca. E assim aconteceu.
10. À parte sólida, Deus
chamou terra, e, mar, ao conjunto das águas: E Deus viu que isso era bom. Bem, nem tanto, pois Deus criou também, na
terra, os terremotos, os vulcões, os incêndios, os despenhadeiros, as montanhas
geladas e os desertos; nos ares criou os vendavais, as tempestades, os trovões,
os raios, os furacões, os tufões, os tornados e os ciclones; e nas águas, criou
as enchentes, as tempestades marítimas, as trombas d’água e os tsunamis.
11. Deus disse: Que a terra
produza verdura, erva com semente, árvores frutíferas que dêem fruto sobre a
terra, segundo as suas espécies, e contendo semente. E assim aconteceu.
12. A terra produziu verdura,
erva com semente, segundo a sua espécie, e árvores de fruto, segundo as suas
espécies, com a respectiva semente. Deus viu que isso era bom. Mas (sempre tem um mas), disse Deus:
Façam-se as ervas daninhas, as plantas venenosas e as híbridas, que podem dar
prazer a curto prazo, mas fazem mal a longo prazo, como o tabaco, o ópio, a
papoula, a maconha, a cana-de-açúcar – esta dará origem ao álcool e, também, ao
açúcar, um doce, mas que irá, aos poucos, afetando a saúde dos seres que já já
vou me dar ao trabalho de criar – e as plantas oleaginosas – estas darão origem
aos óleos e às gorduras vegetais, que também comprometerão a saúde dos novos
seres.
13. Houve tarde e manhã: foi o
terceiro dia.
14. Deus disse: Haja luzeiros
no firmamento dos céus para diferençarem o dia da noite e servirem de sinais,
determinando as estações, os dias e os anos.
15. Servirão, também, de
luzeiros no firmamento dos céus, para iluminarem a terra. E assim aconteceu.
16. Deus fez dois grandes
luzeiros: o maior para governar o dia, e o menor para governar a noite; fez
também as estrelas.
17. Deus colocou-os no
firmamento dos céus para iluminarem a terra,
18. para governarem o dia e a
noite, e para separarem a luz das trevas. E Deus viu que isso era bom. Mas viu Deus também alguns problemas.
Primeiro: deu-se conta de que havia criado a luz no primeiro dia e só agora, no
quarto dia, havia criado os luzeiros, isto é, havia criado o efeito antes da
causa, a luz antes da fonte da luz. Mas viu que isso não era relevante. Ele era
Deus, e a Deus tudo é permitido, tudo é possível. Segundo: viu também que o
luzeiro da noite era, na realidade, um luzeiro secundário, pois apenas refletia
a luz do luzeiro do dia. Ora, então em algum outro lugar da terra
obrigatoriamente seria dia. Viu Deus, então, que a terra criada por ele era
esférica, e não achatada, como havia pensado. Bem, entendeu Deus deixar esse
problema para os novos seres resolverem. Terceiro: Observou que tinha cometido
um desperdício descomunal ao criar um universo com cerca de 400 bilhões de
galáxias, que seriam para os novos seres apenas uns pontos distantes de luz,
que em sua maior parte não poderiam ser vistos, ou não poderiam ser vistos a
olho nu, vindo a depender da fabricação de instrumentos potentes para que
pudessem ser observados. Viu Deus que os novos seres teriam entretenimento
eterno para vasculhar e tentar entender o Universo. Quarto: Notou Deus, também,
que havia criado as plantas antes dos luzeiros, coisa cientificamente
impossível. Mas isto também não o preocupou demasiadamente: cientificamente
possível ou impossível não era problema seu. A ciência seria inventada depois
pelos novos seres. Eles que se jactem em apontar suas incongruências divinais.
19. Houve a tarde e a manhã:
foi o quarto dia.
20. Deus disse: Que as águas
sejam povoadas de inúmeros seres vivos, e que na terra voem aves, sob o
firmamento dos céus.
21. Deus criou, segundo as
suas espécies, os grandes animais marinhos e todos os seres vivos que se movem
nas águas, e todas as aves aladas, segundo as suas espécies. E Deus viu que
isso era bom.
22. Deus abençoou-os dizendo:
Crescei e multiplicai-vos e enchei as águas do mar e, multipliquem-se as aves
sobre a terra. E, quase que Deus já ia
esquecendo (claro que isto é apenas um modo de dizer, pois Deus não esquece
nada), disse ainda: criem-se as micro-algas pirrófitas, em aglomeração, para
darem origem, juntamente com outros microorganismos, como as cianobactérias e
diatomáceas, ao fenômeno da maré vermelha, de forma a causar muitos malefícios
aos habitantes marinhos e aos seres que ainda serão criados. Deus anotou
mentalmente que, além das aves, queria criar outros seres alados, mas deixou
para o dia seguinte, quando criaria todos os insetos.
23. Houve a tarde e a manhã:
foi o quinto dia.
24. Deus disse: Que a terra
produza seres vivos, segundo as suas espécies, animais domésticos, répteis e
animais ferozes, segundo as suas espécies. E assim aconteceu.
25. Deus fez os animais
ferozes, segundo as suas espécies; os animais domésticos segundo as suas
espécies; e todos os répteis da terra, segundo as suas espécies. E Deus viu que
isso era bom (bem, com algumas ressalvas
quanto aos animais ferozes e aos répteis). E Deus lembrou-se do que deixara
para criar nesse dia. Deus disse: criem-se os insetos, segundo suas espécies:
os mosquitos, os pernilongos, as moscas, as abelhas, as vespas, as borboletas, os
grilos, os gafanhotos, as formigas, os cupins, os percevejos, as pulgas, as
baratas, e, só por diversão, os besouros, mais precisamente 350 mil espécies
deles. Efetivamente, Deus gostava de besouros. Quanto aos mosquitos, Deus
reservou-lhes a função de picar os novos seres que ainda iria criar e
preparou-lhes para serem transmissores de várias doenças. Deus aproveitou a mão
e já criou os vírus, as bactérias e os fungos. Criou também os escorpiões, as
aranhas e as centopéias. Deus lembrou-se, também, de dar a capacidade aos
gafanhotos de formarem imensas nuvens para dizimarem as plantações dos novos
seres. Pareceria (pareceria não, com certeza seria) uma contradição com a
função de polinização dada às abelhas, vespas e borboletas. Mas Deus não estava
se importando com a contradição.
Todos os seres vivos criados até esse dia tinham a sua
complexidade própria, segundo as suas espécies. Apenas a título de exemplo,
quis Deus que ficasse registrado o caso da pequenina mosca da fruta Drosophila,
que é o melhor sistema para compreender o desenvolvimento (desenvolvimento
significa, em grande parte, células tornando-se diferentes de maneira
ordenada). Muitos animais desenvolvem-se ao longo de eixos cartesianos. No caso
da mosca da fruta, os dois eixos, o ântero-posterior e o dorsoventral, são
inicialmente independentes e especificados por produtos de genes maternos, os
quais fornecem gradientes de informação posicional. Após a fertilização, os
gradientes ativam a cascata de genes zigóticos e o embrião é dividido em um
número de regiões definido pela combinação da atividade de diferentes genes. Um
padrão periódico de atividade gênica se estabelece ao longo do eixo ântero-posterior
– o precursor dos segmentos. Cada faixa é especificada de forma independente,
pela combinação local de proteínas. Cada segmento também adquire uma identidade
única codificada por um grupo especial de genes chamados Hox. O omatídeo do
olho da mosca constitui outro excelente modelo. Neste caso, oito células formam
um complexo fotorreceptor, cada uma tendo a sua identidade única. Alguns dos
genes e sinais envolvidos são identificados. Ao contrário de um mecanismo de
formação de padrões baseado em informação posicional, existe uma sequência de
interações celulares, de forma que cada uma das oito células é particularizada
no lugar certo. Estas interações compreendem apenas sinalização de uma célula
para suas vizinhas. Um alcance de sinalização ligeiramente maior está envolvido
no espaçamento de omatídeos individuais. (Ver nota mosca Drosophila)
26. Deus, a seguir, disse:
Façamos o homem à Nossa imagem, à Nossa semelhança, para que domine, sobre os
peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos e sobre
todos os répteis que rastejam pela. Terra.
27. Deus criou o homem à Sua
imagem; criou-o à imagem de Deus; ele os criou homem e mulher.
28. Abençoando-os, Deus
disse-lhes: Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai, sobre
os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se movem
na terra.
29. Deus disse: Também vos dou
todas as ervas com semente que existem à superfície da terra, assim como todas
as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento.
30. E a todos os animais da
terra, a todas as aves dos céus e a todos os seres vivos que sobre a terra
existem e se movem, igualmente dou por alimento toda a erva verde que a terra
produzir. E assim aconteceu, ou melhor,
não foi bem assim. Deus criou a fome, a miséria e a pobreza, que seriam
sentidas por grande parte desses novos habitantes da terra.
Aproveitou e criou as doenças que, a bem da verdade,
deveriam constituir um versículo à parte, mas que integrarão este mesmo. Deus
disse: façam-se as doenças, segundo as suas espécies: as doenças sexualmente
transmissíveis, as doenças virais, as doenças contagiosas, as doenças do
metabolismo, as doenças congênitas, as doenças de pele, as doenças causadas por
fungos e bactérias, as doenças crônicas, as doenças cardiovasculares, as
doenças infecciosas, as doenças autoimunes, as doenças genéticas, as doenças respiratórias,
as doenças mentais, as doenças raras e as doenças e deficiências várias. Deus
deu nome aos bois, isto é, às doenças (muitas delas somente serão descobertas
depois, mas ficam desde já criadas): resfriado, caxumba, raiva, rubéola,
catapora, meningite, mononucleose, herpes, derrame cerebral, hipertensão,
infarto, hantavirose, epilepsia, anemia, artrite, cegueira, surdez, mutismo,
alcoolismo, cirrose, leucemia, reumatismo, tuberculose, ebola, varíola, gripe,
tifo, febre amarela, autismo, sarampo, malária, AIDS, poliomielite,
esquizofrenia, demência, lepra (doença que os homens passarão a chamar depois
de hanseníase), mal de Alzheimer, mal de Parkinson, doença de Chagas,
obesidade, hemorróidas, cólera, câncer, diabetes, enxaqueca, dengue, hepatite, leishmaniose,
psoríase, esquizofrenia, malária, glaucoma, hemofilia, vitiligo, esclerose
múltipla, gota, dislexia, osteoporose, zika vírus, febre chikungunya,
microcefalia, sífilis, depressão, alcoolismo, asma, pneumonia e outras mil e
uma doenças que seria cansativo enumerar aqui.
Mas Deus decidiu que fossem registrados os detalhes que
caracterizam a criação de algumas dessas doenças, para que ficasse expresso o
grau de complexidade que Deus preocupou-Se em integrar a esses males. Apenas a
título de exemplo, será comentado o caso de quatro doenças: a hanseníase, o
reumatismo, a gripe e o zika vírus.
A bactéria da hanseníase se disfarça de vírus para
enganar o sistema imunológico (os homens acabarão por descobrir isto, mas
demorarão um longo tempo). A bactéria Mycobacterium leprae libera partes de seu
DNA ao infectar as células – o comportamento é comum em vírus. Ao identificar o
material genético estranho, o sistema imunológico ativa as defesas do corpo. A
resposta é o envio de enzimas para quebrar o DNA viral, mas, como a bactéria
tem uma superfície espessa, a substância não atinge o microorganismo. O bacilo
de Hansen, como passará também a ser chamada a bactéria, é um parasita
intracelular que ataca células da pele e dos nervos periféricos. Os sintomas da
doença são: manchas esbranquiçadas, avermelhadas ou amarronzadas em qualquer
parte do corpo, com perda ou alteração de sensibilidade. Área de pele seca, com
falta de suor e com queda de pelos, além da sensação de formigamento, choque,
fisgadas e agulhadas ao longo dos nervos dos braços e das pernas, inchaço de
mãos e pés. Há ainda o aparecimento de caroços, dor nas juntas, ressecamento
nos olhos e perda da força dos músculos das mãos, pés e face, devido à
inflamação dos nervos. Com o passar do tempo, os enfermos perdem os sentidos do
gosto e do olfato. A voz débil e a “cara leonina” são outros dos flagelos da
enfermidade. Alguns homens chegarão a perder os testículos e desenvolver seios,
e a carne pútrida provocará um odor nauseabundo que marca o paciente como
“impuro” (Ver nota sobre a hanseníase)
A artrite reumatóide é uma inflamação crônica que
acomete, em geral, as pequenas articulações, como mãos, punhos, pés e
tornozelos. É autoimune, ou seja, o sistema de defesa do organismo ataca
estruturas sadias do próprio corpo. Faz parte do grupo das doenças reumáticas,
que chega a mais de 100 tipos. Façamos logo 250, 300 tipos de doenças
reumáticas. Algumas acometem primeiro os órgãos internos. Um exemplo é o lúpus
eritematoso sistêmico que, às vezes, começa pela inflamação do rim. Nesse caso,
os primeiros sintomas são alterações na urina (presença de sangue e de
proteína). Depois, o quadro vai se completando (as juntas incham, inflamam os
músculos) e a doença adquire características reumáticas. Outro exemplo é a
febre reumática, doença que acomete principalmente crianças e pode começar pelo
coração e não pelas articulações. Aliás, quanto menor a idade da criança, maior
probabilidade de comprometimento cardíaco. (ver nota sobre reumatismo)
A gripe é uma doença infecciosa produzida pelo vírus
influenza. Esse vírus está sujeito, ao longo dos anos, a dois tipos de
mutações: mutações menores, que ocorrem praticamente todos os anos, surgindo,
então, novas variantes de vírus capazes de escapar de imunidade conferida anteriormente;
e mutações maiores, que ocorrem a cada vinte a quarenta anos e que provocam
pandemias que se disseminam rapidamente por todo o mundo, não havendo, na
população anticorpos para neutralizá-los. A grande questão relacionada às
pandemias são os reservatórios animais, especialmente os de aves e mamíferos,
que possibilitam o reagrupamento de genes do vírus que infectam humanos e
animais. Isso significa que há intercâmbio de material genético entre o vírus
humano e o vírus animal, no qual algumas espécies funcionam como portadores e
transmissores. Essas mutações do vírus dão à gripe a condição de doença
incurável, cujos sintomas, enumerados a seguir, têm várias gradações, podendo
levar à morte (nos casos de pandemias, serão milhões de pessoas a morrer):
febre, tosse, dor de cabeça, dores musculares, falta de ar, espirros, dor de
garganta, fraqueza, coriza, congestão nasal, náuseas, vômitos e diarréia.(ver
nota sobre gripe)
O Zica é o único vírus transmitido por mosquitos que
atravessa sistematicamente a placenta para matar ou deformar bebês. O Zica parece ser capaz de atravessar a placenta em qualquer época da
gravidez. É também o único vírus cuja via de infecção se dá por um mosquito que
pode ser transmitido sexualmente. O vírus Zica é a causa da síndrome Guillain
Barré, da microcefalia e de outras desordens neurológicas. A púrpura
trombocitopênica idiopática (PTI) está relacionada à síndrome de Guillain
Barré, exceto pelos anticorpos desencadeados pela última reação imunológica que
não ataca as células nervosas. Os anticorpos atacam as plaquetas, das quais o
sangue necessita para coagular. Sem elas, uma pessoa simplesmente sangra por
dentro até morrer. A morte do feto e a microcefalia profunda são apenas a ponta
mais extrema de todo um espectro de danos sofridos pelos bebês diagnosticados.
Alguns têm cabeça com aparência normal, mas também pequenos locais vazios e
calcificações no cérebro, produzidos quando as células morrem e param de
preencher os espaços que deveriam. Os orifícios aparecem em diferentes partes
do cérebro, por isso algumas crianças podem ter problemas com a tomada de
decisões, enquanto outras tenham dificuldade em correr ou caminhar. São
observados igualmente danos aos nervos que ligam os olhos e os ouvidos ao
cérebro. (ver nota sobre o Zica)
Além disso, Deus resolveu criar os acidentes, decorrentes
da imprudência, dos descuidos ou da irresponsabilidade da própria pessoa ou de
outras, nas áreas de transporte, moradia, jardinagem, esporte, locomoção,
entretenimento, cozinha, asseio, fabricação e uso de móveis, utensílios,
equipamentos e veículos, construção e uso de imóveis, estradas, barragens,
pontes, e muitas outras áreas, todas ligadas ao simples ato de viver.
Não satisfeito em ter criado as doenças e os acidentes,
além das catástrofes naturais e dos seres medonhos que passam a habitar a mente
humana, Deus entendeu que, para afligir ainda mais os seres humanos, deveria
atribuir ao homem a possibilidade de desenvolver características opressoras e
violentas que seriam voltadas contra sua própria espécie. E Deus criou, então,
os criminosos, os ladrões, os assaltantes, os prevaricadores, os
contraventores, os assassinos, os serial-killers (embora ainda não estivesse na
hora, fica aqui já registrada a criação do idioma inglês), os tiranos, os
ditadores, os autoritários, os genocidas, os abusadores, os estupradores, os violentadores,
os psicopatas, os seqüestradores, os corruptos, os senhores da guerra, os
guerreiros, os mercenários, os atiradores, os traficantes de drogas, os
falsificadores, os golpistas, os torturadores, os terroristas, os
estelionatários, os briguentos, os provocadores, os malvados, os ameaçadores,
os agressores, os perversos, os machistas, os possessivos, os dominadores, os
caluniadores, os mentirosos, os mutiladores, os violentos, os devassos, os
sórdidos, os degenerados, os escravagistas, os agitadores, os invasores, os
preconceituosos, os envenenadores, os incendiários, os perseguidores, os
poluidores e toda a sorte de opressores e maus elementos que, por ora, deixamos
de nominar. O resultado disso, Deus compreendeu, seria o sofrimento geral: os
praticantes do mal, mais cedo ou mais tarde, sofreriam perseguição, prisão ou
morte; os alvos da maldade sofreriam as conseqüências diretas do ato; e os
demais viveriam sempre temerosos do que poderia vir a lhes acontecer, cientes
dos riscos envolvidos.
Mas o trabalho ainda não estava completo. Deus decidiu,
então, criar os males que o homem faria contra ele próprio. Deus iniciou pelos
sete pecados capitais: o orgulho, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula
e a preguiça. E continuou Deus a atribuir outros vícios, deficiências e
defeitos a este indefeso ser: aspereza, brusquidão, cobiça, debilidade,
desasseio, desobediência, desordem, displicência, egoísmo, indecisão,
fatuidade, hipocrisia, impaciência, impulsividade, inadaptabilidade,
inconstância, indiferença, indisciplina, indiscrição, indolência, intemperança,
intolerância, irritabilidade, imprudência, negligência, intransigência,
petulância, presunção, rancor, rigidez, soberba, teimosia, verborragia. (Ver
nota sobre defeitos)
Quis Deus perturbar um pouco mais esse ser já agraciado
com toda a sorte de tormentos e criou as parafilias ou psicopatias sexuais, de
forma a causar-lhe um misto de prazer, dor, culpa, infelicidade, padecimento,
desajuste e infortúnio: masoquismo, sadismo, fetichismo, necrofilia, coprofilia,
zoofilia, ninfomania, satiríase, exibicionismo, bolinagem, escravidão sexual,
pedofilia, incesto, travestismo, onanismo, frotteurismo, voyeurismo, urofilia,
bondage, asfixiofilia, lolismo, agorafilia, pregnofilia, escatofilia,
adstringopenispetrafilia (prazer sexual obtido em amarrar pedras ao pênis –
esta parafilia fica aqui especialmente registrada em tributo à criatividade de
Deus) e outras mais que ficam desde já
criadas mas que estarão aos cuidados do novo ser descobrir e nomear.
31. Deus, vendo toda a Sua
obra, considerou-a muito boa, mesmo
incluindo as coisas más. Mas não podia ser diferente, já que Deus fez o homem à
Sua imagem e semelhança. Houve a tarde e a manhã: foi o sexto dia.
Capítulo 2
1. Foram assim terminados
os céus e a terra e todo o seu conjunto.
2. Concluída, no sétimo
dia, toda a obra que havia feito, Deus repousou, no sétimo dia, do trabalho por
Ele realizado.
3. Abençoou o sétimo dia e
santificou-o, visto ter sido nesse dia que Deus repousou de toda a obra da
criação.
4. Esta é a origem e a
história da criação dos céus e da terra.
Nota Gênesis: texto base extraído originalmente das duas Bíblias
Sagradas citadas na Bibliografia. Nada foi suprimido do texto original. Os
acréscimos estão em itálico.
Nota Mosca Drosophila: descrição
extraída do ensaio “Desenvolvimento: o ovo é computável, ou podemos gerar tanto
um anjo como um dinossauro?”, de Lewis Wolpert, do livro O que é vida? 50 anos depois, organizado por Michael P. Murphy e
Luke A. J. O’Neill.
Nota Hanseníase: descrição da doença e dos sintomas extraída da
reportagem “Batalhas contra a hanseníase” de Otávio Augusto, do Correio Braziliense de 17.07.2016 e do
capítulo VII “La campana del leproso”, do livro Ciencia y Creencia, de Steve Jones.
Nota reumatismo: descrição extraída da reportagem “Combate alternativo à
artrite reumatóide”, de Isabela de Oliveira, do Correio Braziliense de 05.07.2016 e de entrevista do médico Dráuzio
Varela com o médico reumatologista Isidio Calich em 17.04.2012.
Nota gripe: descrição feita com base no livro A história da gripe, de João Toniolo Neto e no artigo “Vírus
mutante da gripe preocupa especialistas”, de Lígia Formenti, no jornal O Globo de 15.03.1999.
Nota Zica: descrição extraída dos livros Zica: do sertão nordestino à ameaça global, de Debora Diniz e Zica: a epidemia emergente, de Donald G.
McNeil Jr.
Nota defeitos: Deficiências extraídas do livro Deficiências e propensões do ser humano, de Carlos Bernardo
González Pecotche. |