Pobre trapo lamentava
A sua situação
Matou a filha miúda
Por percalço de união
Quando moço era ranheta
Vivia cheio de treta
A rezar em procissão...
Depois lhe foge a Raimunda
Com a filha Julieta
Corre sem olhar pra trás
Mas ouve o som da corneta
Pega um bonde endiabrado
Não quer ver mais o safado
Nem por uma filipeta!
Hoje o velho já nem dorme
Vive no ciber-café
Se tiver cadeira ou não
Ele escreve mesmo em pé
Ao olhar o moribundo
C’aquele nariz profundo
Ninguém sabe o que ele é...
Uns dizem que é o capeta
Outros, vampiro ou capado
Têm nojo do pobre velho
Todo fudido e cagado
E ele com calafrio
Ao levantar sente frio
Por estar todo mijado...
Já com dia clareando
E o sol a querer sair
Lá vai o pobre mancando
Pro seu barraco dormir
É magrelo feito esquife
Tinha de comer um bife
Por isso vive a cair...
Dorme uma hora ou duas
Depois volta lá pro bar
Procura logo uma mesa
Pros dedinhos adestrar
E brinca com criancinhas
A… b... c… d… e vizinhas
Na tecla a se inebriar...
Chega alguém indignado
Dá-lhe uma nota de dez
Para que o velho fedido
Se vá embora de vez
Mas a besta nem se move
A sujeira já o encobre
Ele dali já é freguês!
Quem passa diz que o fudido
Não tem quem banho lhe dê
Mas o defunto em pé
Chora mais do que um bebê!
Mancando vai novamente
Com aquela trompa indecente
E a polícia nem o vê
Se conseguir entra em casa
Se não puder cai no chão
A dormir só e ao relento
Pois ninguém lhe põe a mão
O mau cheiro espanta o ar
Faz a lua desmaiar
E polui toda a nação!
Notinha:
Dei o nome ao personagem de "ZÉ" por ser um nome
muito brasileiro, especialmente na Paraíba... Só que o "ZÉ" do meu cordel envergonha os "ZÉ" autênticos... Precisava fazer um "cordelzinho" para não perder o hábito.
Mestre Egídio, Coadinho, Manezim, Piolho... Apareçam!!! Saudades.