Usina de Letras
Usina de Letras
134 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62152 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10448)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10339)

Erótico (13567)

Frases (50555)

Humor (20023)

Infantil (5418)

Infanto Juvenil (4750)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140788)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6177)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->OS MORTOS NÃO DEVEM MORRER -- 22/07/2009 - 17:13 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
OS MORTOS NÃO DEVEM MORRER



Francisco Miguel de Moura*



Acabo de chegar de minha terra, de uma viagem “em busca do tempo perdido”, das coisas perdidas, para reanimar as lembranças e as saudades. Acompanhou-me um filho com sua máquina de fazer retrato e cinema, ou seja, de fotografar e filmar, das mais moderninhas, o que não vem ao caso. Não viria se ele não houvesse registrado, entre outras coisas, o abandono em que está o “cemitério velho” de Francisco Santos (os mais antigos, leiam fazenda Jenipapeiro), no lugarzinho denominado Curral Novo, onde começou a história daquele burgo. Quando? Lá pelo meado dos oitocentos, pelos registros que temos hoje, quando duas famílias (Rodrigues e Sousa) aportaram por lá, vindas das Bahia, acompanhadas de mais duas ou três pessoas de raça negra, ou já mescladas com índios e portugueses. Falamos assim, colocando a imaginação para trabalhar, pois temos histórias da seca dos dois 7 (1877), contadas por Mãe Ana, uma de minhas avós. Tanto isto é verdade que no Cemitério abandonado de Francisco Santos há uma lápide já quebrada, rolando por entres as covas e catacumbas, com inscrição de pessoas sepultadas pelo meado do século XIX – dedicada ao major Rodrigues. Expliquei a meu filho que talvez não se tratasse de um militar, mas de um chefe de família do Império que, por seus méritos de patriarca, teria ganhado a patente, como era comum naquele tempo.

O errado é que o cemitério velho está ao deusdará, paredes caídas, animais pisoteando os túmulos, a erva crescendo à solta, comprometendo qualquer visita por mais ousada como a nossa, quando arranjamos vários arranhões nas pernas e nos braços por “juremas” e “unhas-de-gato” e o corpo todo ficou “encalombado”, com o cansanção e outras ervas e arbustos espinhentos.

Acima do único portão existente colocaram a data 1900 – ano da construção do anexo, que por sua vez, encheu-se de covas e depois de mato e abandono, como o primitivo. Ninguém vai mais visitar o túmulo dos entes queridos, por falta de condição mínima. A entrada escancarada (por falta da parede que caiu), o portão sem tranca ou aberto. E não se trata de um prédio tão grande, mesmo considerando o conjunto – o próprio cemitério e seu anexo – que não possa ser conservado por uma Prefeitura de pequeno porte como a de Francisco Santos – PI.

Minha indignação foi grande ao ver aquilo. Começa aqui a denúncia, mas vou fazer ofícios, ao Prefeito, primeiramente, e ao Conselho Estadual de Cultura (ou IPHAN), afim de que algo seja feito para a preservação do patrimônio público. Trata-se do prédio público mais antigo de Francisco Santos – Piauí, pois a Igreja foi construída somente em 1918. Depois, é a memória dos que chegaram ali e construíram aquela comunidade. Franklin, meu filho – que bancava de fotógrafo na ocasião, justo quando eu prometi que iria fazer um soneto eternizando os mortos dali – saiu-se com uma frase que considero lapidar:

– Os cemitérios são a memória viva dos mortos.

Talvez esta frase pudesse ser gravada em letras grandes, no pórtico do cemitério de Francisco Santos, caso o povo venha a levantar-se (os vivos) e as autoridades passem a escutá-lo, para o bem da história, da verdade e da vida (dos vivos e dos mortos).

________________

*Escritor, Membro da Academia Piauiense de Letras - APL



.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui