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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->ALBERTO MAGNUS, O MAGO - OPUS 4 -- 25/02/2003 - 00:12 (COELHO DE MORAES) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

OPUS 4

A lua desapareceu. Nada se via nem nas cidades e nem nas matas. Todos sabíamos que eram noites de Lilith atingindo seu máximo de atividade. Eu sabia que não veria Sonja durante a semana toda e quando a visse novamente ela estaria um tanto mudada, levemente mudada e cansada.
O Sol e a Lua, o macho e a fêmea combatem. Um confronto de opostos onde cada princípio oponente detém o seu oposto. Há necessidade do uso de escudos.
Durante noites e madrugadas as mulheres debatiam sobre a possibilidade do governo do mundo. Elas mesma diziam que o domínio do dia pertencia aos machos e o domínio da noite pertencia à fêmea. Dois tipos de luzeiros: os de luz e os do fogo.
Excelentes noites.
Antes do sumiço temporário das mulheres ainda tivemos tempo para os debates do Tratado da Comunhão. E isso trouxe um cisma que estava se deixando antever.
- Quanto àqueles que recebem a mulher na comunhão... – falava para a escola como debatedora, Sonja, com sua voz contralto bem postada - ... serão os padres ou serão os que se acoitam com as mulheres?
- Certamente o Tratado de Comunhão está falando dos aspectos do sacramento – opinou o estudante Borgausen.
- Nada disso – foi a vez de Tomasina – esse texto é profano e fala da sexualidade. Àquele que recebe em comunhão... não a comunhão com hóstias, a não ser que chamemos nosso aparelho de animalzinho a ser imolado ao senhor macho – todos riram. Tomasina sempre teve o melhor humor. Borgausen fechou a cara.
- Tomasina está certa. A escrita é cheia de símbolos e de maneira a contentar os religiosos. Viram que Montpellier concordou com Mestre Alberto – falei.
- E Mestre Alberto estava passando uma mensagem secreta.
- Mas isso é um sacrilégio duplo. O assunto escrito e a maneira de faze-los passar por escrito da Igreja Católica – gritou Cantimpré, quase se alterando.
- O que o incomoda, Sr. de Cantimpré? – perguntei.
- O fato de Mestre Alberto ir longe de mais.
- Até onde será o longe? O senhor terá uma medida da distância?
- Até onde é permitido ir – perguntou Tomasina – A distâncias dos homens será igual à das mulheres?
- Não vou questionar a doutrina Paulina – resmungou Cantimpré.
- A doutrina Paulina nos manda obedecer ao homem da casa – foi a posição de Tomasina, cobrindo-se com seu xale – Estamos propondo um governo de iguais.
- Amigos – falei – o texto é claro. Mestre Alberto não nega que os casal se ame. Ele apenas sugere que seja todos os dias para que não se perca o valor dessa comunhão.
- Mas ele não pode comparar Santa Eucaristia com sexo – gritou Thorndike.
- É claro que pode. Ele tem todo o direito.
- O sexo como Santa Eucaristia? – foi a vez de Borgausen.
- Sangue, corpo e nossa alma, ou nossa anima em função do amor de homem e mulher? Valorizar esse amor? – questionou Sonja.
- O que vocês estão preocupados é com a mistura dos temas ou com o fato de usar palavras que normalmente usamos na Igreja para referendar outras idéias? Digo a vocês que as palavras não são propriedade da Igreja. Sempre usaremos quaisquer palavras para propagar nossas idéias – expliquei.
- E o desejo que as mulheres têm da comunhão é mais resultado de sua superficialidade do que de uma verdadeira devoção... – Sonja fez uma pausa - ... os senhores deveriam agradecer pelas sugestões aqui contidas... são sugestões que permitirão que homens e mulheres tenham uma vida mais saudável...
- É claro que queremos a comunhão... mas não com um fim em si pois sabemos que o produto dessa comunhão é uma possível gravidez... – esclareceu Tomasina - ... não podemos querer a comunhão como devotas, nem como se fosse a nossa condição obrigatória... queremos a comunhão, sim... mas que não seja nada profundo a ponto de nos trazer a gravidez e que não seja o tempo todo, desvalorizando oi que sentimos e nos pondo em riscos de concepção...
- Na verdade – opinei – a Igreja as quer grávidas pois o controle é maior. De outra forma, quanto maior o número de crianças os senhores feudais terão mais braços em suas terras...
- Você está misturando tudo, Marcus, cuidado – foi a opinião de Borgausen – vá com mais calma.
- O fato é que isso é real – eu disse e vi Borgausen, Cantinpré e Thorndike conversarem a sós e balançarem suas cabeças em desaprovação. Por outro lado as mulheres ampliavam seus discursos e discutiam ativamente aqueles pontos. Terminaríamos a noite ali, sabendo que o assunto ainda merecia muito debate e outras idéias ainda viriam. A partir dali não mais veríamos as mulheres que sairiam para seus afazeres da Lua Nova.
Vimos a charrete de mulheres desaparecer nas brumas. Cães ladravam. Volta e meia um vulto passava sobre nossas cabeças e nos surpreendíamos pelo tamanho do pássaro. Adejava com força e desprendimento.
Daquele dia em diante os três rapazes que não concordaram com o discurso de Mestre Alberto Magnus não apareceram mais. Não estavam no burgo. Na taberna não se ouviu mais falar deles e da universidade, onde moravam, soube-se que desapareceram sem deixar vestígios, ou melhor, os únicos vestígios deixados eram suas roupas e livros que nos pareceram esquecidos nos quartos. A impressão é que depois daquela noite eles não teriam retornado aos seus aposentos.
Especialmente aquela semana os ventos foram mais vigorosos e os animais se mostravam muito mais irritados. A poeira das ruas era tanta que impedia à pessoa andar nela à noitinha. Minha opinião é que o mundo estava muito barulhento naqueles dias e o que eu mais ouvia eram gargalhadas.
Sonhei com Sonja, quase sempre.
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